Cinco mega bancos globais lucraram por meio de lavagem de trilhões de dólares de pessoas envolvidas em atividades criminais. As transações ocorreram mesmo após as instituições financeiras receberem multas de autoridades norte-americanas por falhas anteriores em impedir a continuidade do fluxo de dinheiro sujo em seus cofres.
O escândalo, que atingiu JPMorgan, HSBC, Standart Chatered Bank, Deutsche Bank e Bank of New York Mellon, veio à luz por meio de documentos secretos do governo dos Estados Unidos divulgados, no último domingo (20), pelo ICIJ (Internacional Consortium of Investigative Journalists, ou Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos).
Além dessas instituições financeiras, o vazamento de dados revelou que dezenas de bancos ignoram a pressão das autoridades contra a lavagem de dinheiro e moveram somas na casa dos trilhões, para figuras nebulosas e quadrilhas que espalham o caos e cometem crimes ao redor do mundo. Entre os clientes, podemos citar Paul Manafort, gerente da campanha de Donald Trump a presidência em 2016 e investigado por suspeitas de corrupção em seu trabalho com o governo pró-Rússia de Viktor Yanukovych, na Ucrânia.
Os documentos mostram ainda que essas operações ocorreram mesmo após serem notificadas como possível lavagem de dinheiro ou outras atividades criminais pelos escritórios de compliance dos bancos.
Promessa de punição
Em alguns casos, os bancos continuaram as transações, investigadas desde 1999, mesmo após ameaças de processos criminais por parte de autoridades dos EUA. Eles foram alertados a respeito de negócios feitos com mafiosos, fraudadores e governos corruptos. Apesar disso, é raro que tais processos realmente ocorram no sistema de justiça norte-americano.
O JPMorgan, por exemplo, que é líder mundial em serviços financeiros, moveu mais de US$ 1 bilhão de dólares para um fugitivo da Malásia. Jho Low, o investidor em questão, está por trás do escandaloso desvio de US$ 700 milhões de uma companhia governamental de desenvolvimento do país asiático. Além disso, a financeira cuidou de mais de US$ 2 milhões pertencentes a um magnata de uma empresa de energia acusada de prejudicar o governo venezuelano e causar apagões que atingiram várias partes do país.
As transações aconteceram mesmo após o JPMorgan fechar acordos com as autoridades norte-americanas. O banco comprometeu-se diversas vezes, em 2011, 2013 e 2014, a melhorar os controles internos contra lavagem de dinheiro.
O vazamento revela que o mesmo ocorreu com HSBC, Standart Chatered Bank, Deutsche Bank e Bank of New York Mellon após acordos semelhantes com autoridades locais. Os documentos, que pertencem à Rede de Execução de Crimes Financeiros do Tesouro dos EUA, foram obtidos pelo Buzzfeed News e compartilhados com o ICIJ. O Consórcio organizou um time de mais de 400 jornalistas de 110 veículos noticiosos em 88 países para a investigação global de lavagem de dinheiro.
Após a análise dos relatórios, a equipe investigativa identificou mais de US$ 2 trilhões em transações realizadas entre os anos de 1999 e 2017.