Fechamento de fronteira com o Brasil aumenta a tensão na Venezuela

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Nas redes sociais, os deputados da Assembleia Nacional Constituinte da Venezuela relatam um forte esquema militar, organizado pelo presidente venezuelano, Nicolás Maduro, na fronteira com o Brasil. No Twitter, um parlamentar promete enfrentar o bloqueio com “coragem e moral”.

Maduro anunciou ontem o fechamento da fronteira para impedir a entrada de ajuda humanitária, organizada pelos Estados Unidos e Brasil com colaboração de vários países e entidades internacionais.

Em um vídeo, postado na sua conta pessoal no Twitter, o deputado Americo De Grazia relata clima de tensão na fronteira e diz que três generais foram enviados para a região.

Como o vídeo foi postado de madrugada, ele anunciou reação para hoje (22) ao longo do dia. “Abriremos a fronteira com coragem e moral”, afirmou.

Deputados venezuelanos, que integram a caravana que segue para a fronteira da Venezuela com a Colômbia, denunciam nas redes sociais que os ônibus, nos quais estão, foram alvos de ataques durante a madrugada de hoje. Imagens mostram vidros quebrados e estilhaços.

A Assembleia Nacional Constituinte é formada majoritariamente por parlamentares oposicionistas ao presidente Nicolás Maduro.

Em seus discursos, ele diz o parlamento é ilegítimo. Porém, todos os parlamentares foram eleitos.

Brasil manterá ajuda

O Brasil manterá o planejamento de ajuda humanitária à Venezuela, mesmo após o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, anunciar o fechamento da fronteira. A estimativa é fazer chegar à região fronteiriça alimentos e remédios no sábado (23). O porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, afastou ainda a possibilidade de confronto na fronteira com os militares venezuelanos comandados por Maduro.

“O intuito do Estado brasileiro é de acolher os irmãos venezuelanos por meio de operações humanitárias. O governo brasileiro não identifica, neste momento, possibilidades de fricção na região porque o ponto focal é ajuda humanitária.”

O sábado para a entrega de ajuda humanitária foi escolhido porque neste dia 23 Juan Guaidó celebra um mês que se autoproclamou “presidente encarregado” ou presidente interino.

Planejamento

“O planejamento da parte do governo brasileiro permanece o mesmo, estando em condições, a partir do dia 23, sábado, para prover os irmãos venezuelanos dentro do território venezuelano se houver a disponibilidade de meios e motoristas por parte dos venezuelanos liderados pelo Guaidó”, disse Rêgo Barros.

Segundo o porta-voz, a disposição do Brasil aguarda a chegada dos caminhões vindos da Venezuela, conduzidos por Venezuelanos, mesmo que isso demore mais que o previsto. O carregamento brasileiro inclui 22 toneladas de leite em pó e 500 kits de primeiros socorros.

Rêgo Barros disse que não há risco dos alimentos e remédios estragarem em depósitos de Boa Vista, em Roraima, à espera da abertura da fronteira. “O tempo dos medicamentos e alimentos que estamos levando tem um prazo de validade bastante alongado. Dois, três meses [estocados] não nos preocupa.”

O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, reiterou que o governo brasileiro não tem planos de intervenção na Venezuela. “O governo brasileiro sempre deixou claro que a nossa ação sempre será no sentido da não intervenção interna. Apenas manteremos a pressão interna e as palavras junto com os demais países que estão cooperando no esforço para que a Venezuela retome um caminho de democracia”, disse.

Acompanhado pelo chanceler Ernesto Araújo, o vice-presidente irá para a Colômbia na próxima segunda-feira (25), para discutir a situação com o Grupo de Lima, formado pelo Brasil e mais 13 países da América Latina.

“O Grupo de Lima mantém a pressão política. A política, por meio de ação diplomática, para levar o atual governante da Venezuela, o Maduro, a compreender que é necessária uma saída para o país”, afirmou.

Relatos de ataques a ônibus na fronteira com a Colômbia

Deputados venezuelanos, que integram a caravana que segue para a fronteira da Venezuela com a Colômbia, denunciam nas redes sociais que os ônibus nos quais estão foram alvos de ataques durante a madrugada de hoje (22). Imagens mostram vidros quebrados e estilhaços.

As imagens e os relatos estão nas redes sociais do presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, e da Assembleia Nacional Constituinte do país.

“Não vão nos impedir que chegue a ajuda humanitária”, afirmou a deputada Mariela Magallanes em um vídeo postado nas redes sociais. “Não querem deixar entrar ajuda humanitária, então vamos caminhando, atravessando o Túnel de La Cabrera [fronteira com a Colômbia}”, acrescentou a deputada Delza Solozano também em vídeo.

Impactos em Roraima e risco de racionamento de energia

Com a fronteira fechada após a decisão do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, o agronegócio  e abastecimento de energia e combustíveis na região Roraima deve ser prejudicado, alertou hoje (21) o governador do estado, Antonio Denarium. Segundo ele, o estado depende da compra de energia elétrica do país vizinho porque não está interligado ao sistema elétrico nacional.

“Nós somos importadores de fertilizantes e de calcário da Venezuela e pode atrapalhar abastecimento para nosso próximo plantio, que se inicia nos meses de maio e junho. Roraima é um exportador de alimentos para a Venezuela. Isso também pode comprometer o faturamento das empresas até o fechamento de algumas empresas”, afirmou.

De acordo com o governador, a confirmação do fechamento da fronteira também poderá causar o desbastamento de combustíveis nos município de Pacaraima, cidade mais próximas do país vizinho.

Em Pacaraima, não há postos de combustíveis, e a população atravessa a fronteira para comprar gasolina. “A gasolina na Venezuela é muito mais barata. O valor é irrisório, em torno de R$ 0,10 (litro). Se por acaso for fechada a fronteira, Pacaraima pode ter problema de abastecimento de combustível”, disse Denarium esteve hoje (21) no Supremo Tribunal Federal (STF) para tratar de ações do interesse do estado e conversou com a imprensa ao final de uma audiência.

Incertezas

O fechamento da fronteira também cria dúvidas sobre a continuidade do fornecimento de energia. Segundo o governador, Roraima recebe energia elétrica do país vizinho por não fazer parte do sistema nacional de transmissão. Segundo ele, o governo federal gasta cerca de R$ 1 bilhão por ano para gerar energia por meio de usinas termelétricas.

Em uma medida para evitar possível corte de fornecimento pelo governo de Nicolás Maduro, Antônio Denaruim informou que pediu ao governo federal a contratação de energia extra para evitar um possível desabastecimento.

“Hoje Roraima é o único estado do Brasil que não está interligado ao sistema nacional de energia elétrica. 50% da nossa energia vem da Venezuela, outros 50% é movido por termoelétrica, à óleo diesel. Nós não temos energia suficiente para abastecer Roraima sem energia da Venezuela. Se houver um corte, vai ter racionamento de energia”, disse.

Maduro pede manifestações

Na tentativa de fazer frente à ação internacional para ajuda humanitária aos venezuelanos, organizada para este sábado (23), o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, conclamou seus simpatizantes para manifestações em todas as cidades do país. Denominada por ele como “mobilizações”, os protestos ocorrem após o fechamento da fronteira com o Brasil.

“Aqui em Caracas terá uma grande mobilização popular, as pessoas na rua estarão defendendo o direito à paz, à soberania e à união entre os povos colombiano e venezuelano”, disse Maduro.

Segundo o presidente, as mobilizações foram batizadas de “Marcha pela Dignidade”. Ele alega que há uma orquestração internacional, liderada pelos Estados Unidos e aliados, para desestabilizar seu governo e promover um golpe.

O venezuelano afirmou ainda que haverá postos de saúde móveis instalados em vários locais das cidades, no sábado, para atendimento à população. Nas páginas oficiais do governo, são estampadas fotografias de doações da Rússia de medicamentos e alimentos.

Para o presidente, o país é alvo de um “bloqueio econômico” que prejudica sobretudo a população.

As informações são da Agência Brasil.

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