Depois da turbulência de março, que acabou com o Índice Bovespa quase no zero a zero e o dólar em alta de mais de 4%, a primeira semana de abril deve seguir com todas as atenções do mercado voltadas para o ambiente político, mais especificamente na relação entre o governo e a Câmara e no esforço para aprovação da reforma da Previdência.
Por isso, será importante a ida do ministro da Economia, Paulo Guedes, à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara na quarta-feira, às 14 horas. Na quinta, técnicos do governo irão à CCJ para explicar detalhes do projeto. O mercado acompanha também as negociações entre o governo e os caminhoneiros, que voltaram a ameaçar com nova paralisação, o que teria efeito muito negativo sobre a economia, que já está fraca. Os caminhoneiros fizeram manifestações neste fim de semana em Curitiba, mas o movimento teve pouca adesão, cerca de 40 profissionais apenas, segundo a polícia.
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A apresentação do ministro, hoje principal articulador político do governo e da reforma da Previdência, será um bom termômetro para avaliar o ambiente entre os deputados em relação ao governo. Os partidos do Centrão ainda se mostram descontentes e podem aproveitar a ocasião para mandar um recado para o governo.
Não é por menos que, apesar da trégua anunciada na semana passada entre o presidente Jair Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), os investidores seguem preocupados com a forma como o presidente está tratando a questão da articulação política. O governo conseguiu até agora garantir o apoio do próprio partido, o PSL, para a reforma, o que é pouco para quem precisa de três quintos dos parlamentares para mudar a Constituição. Cada vez mais fica mais provável que a reforma da Previdência passe, mas muito mais desidratada que a proposta original de economizar R$ 1 trilhão em dez anos.
Na semana passada, 13 partidos declararam apoio à reforma da Previdência, mas rejeitaram as mudanças no Benefício de Prestação Continuada e na aposentadoria rural. O relator do projeto, delegado Marcelo Freitas, do PSL, promete entregar seu relatório dia 9 de abril. Já Rodrigo Maia fez outros acenos de paz para o governo, selando um acordo com o ministro da Justiça, Sérgio Moro, para a análise do projeto de segurança pública, e retirando a convocação do ministro para depoimento na Câmara. Uma paz mais duradoura, porém, vai depender do presidente Bolsonaro e seus filhos e seguidores.
Na agenda econômica, os dados mais importantes virão de fora, como os de mercado de trabalho de março nos EUA na quinta e na sexta-feira. No mês de fevereiro, a criação de vagas foi de 20 mil, mito abaixo dos 170 mil esperados. Saem também os números de varejo e índice dos gerentes de suprimento (ISM), que serve de indicador antecedente da atividade. Na Europa, o foco será sobre os dados de inflação, desemprego, produção industrial varejo e os índices de gerentes de compras (PMI) da zona do euro. Na Ásia, serão divulgados os PMIs de março na China.
Esses dados são fundamentais avaliar se a desaceleração global vai ser suave ou mais acentuada. Na semana passada a revisão do PIB de 2018 ficou em 2,8% nos EUA e veio ligeiramente abaixo do esperado.
Há também as negociações entre os EUA e a China para encerrar a guerra comercial. Após o retorno da comitiva de membros do governo na China, a expectativa é que ocorra um encontro entre o presidente Donald Trump e um representante do governo Chinês
Já no Reino Unido, o Brexit segue sem solução e aumenta o risco de uma saída sem acordo da Comunidade Econômica Europeia, o que seria bastante negativo par ao país.
Produção industrial e balança comercial
No Brasil, na segunda-feira, além do boletim Focus, com a pesquisa feita pelo Banco Central das projeções do mercado para os principais indicadores econômicos, será conhecida a balança comercial de março. A expectativa do Banco Fator é de um superávit de R$ 5,773 bilhões.
Na quarta-feira, o IBGE divulga a Produção Industrial de março, e a expectativa do Banco Fator é de um crescimento de 2,7% sobre fevereiro e de 2,1% sobre o mesmo mês do ano passado. Na quinta-feira, a Anfavea divulga a produção e as vendas de veículos de março.
Expectativa otimista para a bolsa em abril
O início do mês de abril será positivo, acredita Álvaro Bandeira, economista-chefe do Banco Digital Modalmais. No âmbito interno, com o término das desavenças entre o Executivo e Legislativo, a reforma da Previdência poderá tramitar com maior tranquilidade na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). “Resta ver se Bolsonaro e entorno não vão arranjar mais confusão”, ressalta.
No cenário externo, a expectativa com o fechamento de acordo comercial entre os EUA e a China, depois de declarações positivas vindas de Pequim por Steven Mnuchin, secretário do Tesouro dos EUA, e Robert Lighthizer,secretário de Negócios. Bandeira cita informações de que a China “fez ofertas sem precedentes na área comercial e propriedade intelectual” para acalmar os EUA. Ficaria faltando a visita de Liu He, vice-primeiro-ministro da China, e depois o encontro de Donald Trump e Xi Jinping, afirma o economista.
Sobre o Brexit, depois da terceira rejeição pelo Parlamento, a expectativa é se a primeira-ministra Theresa May renunciará e se haverá saída sem acordo, o que seria ruim para a economia da região. “Podemos considerar que a situação permanece em aberto, com algumas opções ainda sobre a mesa”, afirma .
Em função disso, Bandeira se diz otimistas com relação ao desempenho dos mercados de risco no mundo e no Brasil, o que significaria dólar mais fraco, bolsas em alta e juros ainda repercutindo elevação da inflação no curto prazo, mas sem comprometer a meta.
“Nesse contexto teríamos que buscar inicialmente a faixa de 98.300 pontos para depois tentar marcar novos recordes históricos de pontuação acima de 100.400 pontos”, afirma Bandeira, usando conceitos de análise gráfica para estimar o comportamento do Índice Bovespa. No entanto, para esse cenário otimista, não pode haver recuo nas relações entre Executivo e Legislativo, diz o executivo.
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