O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, defendeu hoje (25) atuação conjunta do Brasil e da China na promoção de “facilitações recíprocas” do ponto de vista comercial, de negócios e de investimentos, de forma a se prepararem para um cenário no qual, até 2050, a produção agrícola mundial terá de aumentar 70%.
“Temos aqui potencialmente o maior exportador e o maior importador agrícola do mundo. Isso, por si, cria um vínculo real e potencial extraordinário”, disse o ministro na abertura do seminário Agro em Questão: China e Brasil – Agricultura e Biotecnologia, na Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em Brasília.
Araújo citou estatísticas da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), segundo as quais a produção agrícola global precisa aumentar 70% até 2050, para atender à demanda global por alimentos.
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“Provavelmente boa parte dessa demanda terá como origem a China. E o Brasil tem vocação e responsabilidade óbvia de ser um ator decisivo no atendimento a essa demanda. Portanto, a parceria com a China tem de desempenhar papel fundamental pela característica básica: o Brasil como potencialmente a maior potência agrícola do mundo, e a China como o maior importador. E, pela sua população, [a China] como o país mais afetado pelo tema da segurança alimentar”, afirmou.
Segundo o chanceler brasileiro, o aumento da produção agrícola terá de vir por inovações que tragam aumento na produtividade. “O Brasil entende que o uso e o fomento da biotecnologia são cruciais para atender a essa expansão da demanda mundial, que será fundamental até para a estabilidade da comunidade internacional ao longo das próximas décadas”, disse Araújo, ao apontar a biotecnologia como ferramenta fundamental para a diminuição dos custos, bem como para o atendimento a essa demanda.
Nas últimas duas décadas, o lucro total advindo das organismos geneticamente modificados (OGMs) chegou a R$ 35 bilhões. Araújo disse que, na safra 2017/2018, o lucro por hectare de soja geneticamente modificada foi 13% superior ao da variedade convencional. No caso do algodão, ficou em 12% e, no do milho, 29%, chegando em alguns casos a 124%.
“A China pode ter no Brasil um grande parceiro para sua segurança alimentar, enquanto o Brasil pode e tem na China um grande parceiro para o crescimento de toda a sua economia”, resumiu o ministro.
Araújo, no entanto, apontou alguns entraves chineses que têm dificultado uma maior aproximação comercial entre os dois países. “Os problemas na adoção de procedimentos técnicos e burocráticos por parte da China têm, em muitos momentos, prejudicado a expansão e a diversificação dos negócios”, disse.
Ele lembrou que o governo brasileiro reiteradamente vem propondo que as abordagens regulatórias necessárias para garantir a segurança alimentar em relação a produtos derivados da biotecnologia devem ser baseadas cientificamente, mediante análise de risco e embasados em processos transparentes, previsíveis, consistentes com as obrigações do comércio internacional.
Nesse sentido, acrescentou o chanceler brasileiro, o setor privado só pode usar efetivamente novas tecnologias aprovadas pelo governo brasileiro após autorização de importação pelo Comitê de Biossegurança da China. “Portanto, é necessário que haja uma sincronia maior entre a aprovação das OGMs no Brasil e o governo chinês”, concluiu.
A China é o maior parceiro comercial do Brasil desde 2009. É também o principal mercado para as exportações agropecuárias brasileiras e destino de 38% das vendas totais do setor.
Também presente no seminário, o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, lembrou que o Brasil foi o primeiro país em desenvolvimento a estabelecer parceria estratégica com a china.
“O total do investimento chinês no Brasil supera US$ 70 bilhões. Além disso, há interesse de grandes empresas chinesas em investir mais US$ 35 bilhões em agricultura e infraestrutura”, disse o embaixador chinês.
Segundo Wanming, tem-se notado uma mudança de hábito entre os chineses, o que abrirá ainda mais espaço para os produtos agropecuários brasileiros nos próximos anos.
De acordo com o presidente da CNA, João Martins, “a China precisa estar no topo de nossa diplomacia”, uma vez que o país asiático apresenta um “mercado enorme, com uma população enorme e com grandes demandas”.