A proporção de lares paulistanos endividados foi para 56,5% em maio, mostrando a fragilidade econômica pela qual o país passa atualmente. Trata-se do maior percentual desde novembro de 2017 (56,7%) e já está bem próximo dos 57,1% apurados em 2013, início da crise política, com fortes reflexos no mercado e nas finanças das famílias. É o que mostra levantamento da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
O alto índice de desemprego também ampliou a inadimplência, que chegou a 20,5% em maio, o que significa que 804,3 mil famílias não pagaram a dívida até a data do vencimento, um crescimento de 53 mil em um ano, próximo do maior patamar histórico, de 21,8% em abril de 2012, diz a Fecomércio.
Dado alarmante e corte de limites de crédito
De acordo com a Federação, trata-se de um dado alarmante de que as famílias estão com cada vez menos recursos diante da desvalorização constante da moeda nacional e da inflação. Com isso, os bancos têm reduzido a oferta de crédito, analisando minuciosamente o perfil de cada cliente e propondo, inclusive, a redução dos limites dos cartões de crédito. Assim, nota-se que, em 2019, houve aumento na procura pelo parcelamento no carnê, direto com o lojista, chegando a 15,1% em maio.
Queda na intenção de consumo
Ainda de acordo com levantamentos da Fecomércio, nesse ambiente desfavorável, em maio, houve quedas de 1,8% na intenção de consumo nos lares e de 1,6% na propensão de comprar algum produto financiado nos próximos três meses, ou seja, as famílias tiveram seus rendimentos reduzidos, endividaram-se para manter algum padrão de consumo e não pretendem ampliar a lista de compras agora. A renda comprometida com dívida tem permanecido em torno de 28,5% ao longo dos meses.
Falta de previsibilidade política
De acordo com a FecomercioSP, não há expectativa de melhora desse quadro enquanto não houver mais estabilidade e previsibilidade política, a fim de que as principais reformas (como a da Previdência e a Tributária) sejam bem encaminhadas e aprovadas no Congresso. Para a Federação, a redução da burocracia é primordial para melhorar o ambiente de negócios, atraindo investimentos e gerando emprego e renda. E, consequentemente, retomando o desenvolvimento econômico do País, que deve ficar estagnado até a concretização dessas ações.
Pesquisa de endividamento
Na Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) houve elevação de 1,3 ponto porcentual (p.p.) na proporção de famílias paulistanas endividadas em maio – de 55,2% em abril para os atuais 56,5%. Na comparação com o mesmo período do ano passado, a alta foi maior: 5,4 p.p., o que significa 227 mil famílias a mais do que em 2018.
O aumento da inadimplência foi um pouco menor e passou de 20,3% em abril para 20,5% em maio, mesma taxa de setembro do ano passado, quando houve instabilidade por causa das eleições presidenciais. Já o porcentual de famílias que afirmaram não ter condições de pagar suas dívidas permaneceu estável tanto no comparativo mensal quanto no anual (8,8%), com 346,3 mil famílias nessa situação atualmente.
Mais pobres puxam endividamento
Na segmentação por renda, os lares com rendimentos abaixo de dez salários mínimos (SM) impulsionaram o endividamento: 59,4% ante os 58,9% de abril, e a inadimplência atingiu 25,6%. Também houve alta para o grupo com renda superior a dez SM, ao passar de 44,4% para 48,3% em maio. Contudo, a inadimplência foi menor nessa faixa – caiu de 8,7% em abril para os atuais 7,9%.
O principal tipo de dívida de todas as famílias continua sendo o cartão de crédito, com 74%. Em abril, eram 71,7%, e com relação ao mesmo período do ano passado, 70,2%. Na segunda posição ficaram os carnês, com 15,1%, ante os 14,8% de abril.
Consumo das Famílias
O Índice de Consumo das Famílias (ICF) recuou 1,8% no mês passado, a terceira queda consecutiva, passando de 99,8 pontos em abril para os atuais 98 pontos. No entanto, em comparação com o mesmo período do ano passado, registrou alta de 6,7%.
Dos sete itens analisados, cinco sofreram retração, com destaque para Perspectiva de consumo (-6,5%), que passou de 104,3 pontos em abril para os atuais 97,5 pontos, voltando ao patamar de insatisfação. Isso significa que 36% dos paulistanos disseram pretender gastar menos nos próximos meses.
Na segmentação por renda, o item Perspectiva de consumo recuou na duas faixas: 12,9% entre os consumidores que recebem mais de dez salários mínimos (SM) e 3,9% entre os que ganham menos de dez SM.
Intenção de financiamento
A parcela de paulistanos que pretendem comprar algum produto financiado ou parcelado também caiu em maio (-1,6%) – de 47,5 pontos em abril para os atuais 46,7. De acordo com a FecomercioSP, a intenção de financiamento tem correlação direta com a expectativa profissional, que também recuou 1,2% em maio.
Cautela em alta
A FecomercioSP ressalta que é bom o lojista evitar o repasse de aumento de preços ao cliente, já que ele não estaria tão disposto a comprar. Por isso, é preciso se empenhar na negociação com os fornecedores, com atenção ao câmbio e à inflação, ainda que seja necessário reduzir a margem de lucro. Assim, será possível manter o fluxo de caixa e fazer o estoque girar. É importante também reduzir a aquisição de mercadorias diante da queda de expectativa do consumo, ou seja, reduzir estoques, diz a Fecomércio. Já para os comerciantes com estoques altos, a recomendação é realizar promoções para alcançar níveis adequados.
Nesse momento de turbulência, os comerciantes devem ficar mais atentos ao seu negócio e variar nas opções de pagamentos ofertadas nos estabelecimentos, pois pode ser uma forma positiva de garantir vendas, recomenda a Fecomércio.
A entidade sugere que, para quem ganha mais de dez salários mínimos, é possível oferecer desconto no pagamento à vista; já para os que estão abaixo dessa média, a dica é disponibilizar o parcelamento por meio do carnê, visto que esses consumidores têm enfrentado restrições de créditos nas grandes instituições.
Outra sugestão da entidade é variar o mix de produtos das lojas, com foco nos consumidores que estão em busca de opções de marcas mais acessíveis. Para quem trabalha com alimentos, o ideal é diminuir os itens que necessitem de refrigeração, pois vai colaborar para redução do consumo de energia. A FecomercioSP também sugere a implantação de programas de fidelização, com descontos progressivos, conforme a frequência de compras.
Metodologia das pesquisas
A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) é apurada mensalmente pela FecomercioSP desde fevereiro de 2004. São entrevistados, aproximadamente, 2,2 mil consumidores na capital paulista.
O objetivo da PEIC é diagnosticar o nível de endividamento e de inadimplência do consumidor. A partir das informações coletadas, são apurados importantes indicadores: nível de endividamento; porcentual de inadimplentes; intenção de pagamento de dívidas em atraso; e nível de comprometimento da renda. Tais indicadores são observados considerando duas faixas de renda.
O Índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) é apurado mensalmente pela FecomercioSP desde janeiro de 2010, com dados de 2,2 mil consumidores no município de São Paulo. O ICF é composto por sete itens: Emprego atual; perspectiva profissional; Renda atual; Acesso ao crédito; Nível de consumo atual; Perspectiva de consumo; e Momento para duráveis. O índice vai de zero a 200 pontos, no qual abaixo de 100 pontos é considerado insatisfatório e acima de 100 pontos é denotado como satisfatório. O objetivo da pesquisa é ser um indicador antecedente de vendas do comércio, tornando possível, a partir do ponto de vista dos consumidores e não por uso de modelos econométricos, ser uma ferramenta poderosa para o varejo, para os fabricantes, para as consultorias e para as instituições financeiras.
A Pesquisa de Risco e Intenção de Endividamento (PRIE), apurada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), tem o objetivo de acompanhar o interesse dos paulistanos em contrair crédito e a evolução da proporção de famílias endividadas na capital paulista que possuam aplicações financeiras, gerando um índice de risco inerente a essas operações. Os dados que compõem a PRIE são coletados em 2,2 mil entrevistas mensais realizadas na cidade de São Paulo.
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