A semana nos mercados financeiros terá como destaque ainda os desdobramentos da guerra comercial entre Estados Unidos e China, a queda de braço no Reino Unido em torno do Brexit e a reunião do Banco Central Europeu (BCE) para discutir os juros. No Brasil, com o presidente Jair Bolsonaro se recuperando da cirurgia de uma hérnia, as atenções estarão voltadas para a discussão da reforma da Previdência no Plenário do Senado, que pode votar o texto já nesta semana.
Exportações chinesas para os EUA caíram 16% em agosto
No exterior, qualquer novidade envolvendo as negociações entre Estados Unidos e China poderá mexer com os mercados. Hoje, dados da balança comercial chinesa de agosto mostraram o impacto da guerra comercial, com uma queda de 22% nas importações de produtos americanos, para US$ 10,3 bilhões, e de 16% nas exportações para os EUA, para US$ 44,4 bilhões. E os números não incluem ainda as novas tarifas que entraram em vigor em 1º de setembro, de ambas as partes.
O impacto na economia chinesa será inevitável, já que os exportadores locais não conseguirão encontrar mercados para os produtos que deixaram de ir para os EUA, uma vez que a economia global está desaquecida. As exportações totais chinesas caíram 3%, para US$ 214,8 bilhões, enquanto as importações subiram 1,7%, para US$ 180 bilhões. É provável também que a china aumente a pressão de oferta desses produtos em outros mercados, disputando com produtos locais.
Autoridades chinesas e americanas marcaram uma reunião para retomar as negociações comerciais para outubro, uma falta de pressa que mostra a pouca disposição de ambas as partes em ceder. Enquanto isso, a economia mundial vai sentindo os efeitos do desaquecimento. Nesta semana, sairá o Produto Interno Bruto (PIB) do Japão no segundo trimestre, que deve ser afetado pelo desaquecimento do comércio chinês.
Protestos em Hong Kong
O governo de Pequim enfrenta ainda os protestos de estudantes de Hong Kong, que continuam convocando manifestações contra a China. No fim de semana, a polícia usou bombas de gás lacrimogêneo para tentar dispersar os manifestantes. Um aumento da violência pode ter repercussões no principal centro financeiro da Ásia.
Europa define juros em meio à briga pelo Brexit
Na Europa, o Banco Central Europeu (BCE) fará sua reunião de política monetária na quinta-feira e deve manter a política de juros negativos. Mas pode dar alguma nova avaliação da situação da economia do euro.
A reunião ocorre em meio à tumultuada saída do Reino Unido da União Europeia, marcada para 31 de outubro, e que pode ter impactos importantes na economia britânica se provocar o fim drástico de vários acordos. Depois de ser derrotado pelo Parlamento, que proibiu o Brexit sem um acordo, o primeiro-ministro Boris Johnson quer impedir a prorrogação das negociações na Justiça. O Parlamento tenta aprovar uma prorrogação por três meses, mas Johnson, que é contra um adiamento e quer a saída na marra, vai tentar alegar que a prorrogação é ilegal. Ele já tentou convocar eleições, mas também foi impedido pelo Parlamento, e perdeu o apoio do irmão, que deixou o cargo de ministro que tinha no governo.
No Brasil, a expectativa gira em torno da possível aprovação do texto da reforma da Previdência no Senado. O projeto foi dividido em duas propostas de emenda constitucional, uma com o básico, como idade mínima, regras de transição, e outra com os pontos mais polêmicos, como o benefício por idade e a reforma de Estados e municípios. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre vai tentar um acordo para votar os textos já na quinta-feira, dispensando o prazo de cinco sessões.
Na agenda econômica, os destaques devem ser as pesquisas mensais do comércio e de serviços do IBGE e o índice de atividade do Banco Central, o IBC-Br.
Focus pode trazer redução dos juros e inflação
Na segunda-feira, a Fundação Getulio Vargas (FGV) divulga seus Indicadores de Mercado de Trabalho de julho. No mesmo dia, sai o boletim Focus, pesquisa semanal do Banco Central com as projeções do mercado financeiro. A expectativa é com relação à taxa de juros e à inflação, por conta dos dados mais tranquilos do IPCA e do IGP-DI divulgados na semana passada, e que podem levar a uma queda nas expectativas de juros para este ano, como já fez o Bradesco. No exterior, sai a Confiança do Consumidor na zona do euro de setembro, e o Crédito ao Consumo nos EUA calculado pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano). Na China, serão divulgados os dados de inflação ao consumidor (CPI) e ao produtor (PPI) de agosto.
Terça-feira sai a primeira prévia do IGP-M de setembro da FGV. Já o IBGE divulga a Produção Industrial Regional de julho e o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola de agosto.
Na quarta-feira, o IBGE anuncia as vendas no varejo de julho, que podem dar alguma ideia de como está a recuperação da economia. Nos EUA, sai o índice de preços ao produtor (PPI) de agosto.
Quinta-feira o IBGE divulga a Pesquisa Mensal de Serviços de julho. Sai ainda o Relatório Prisma Fiscal, com as projeções do mercado para as contas públicas. Na zona do euro, será divulgada a produção industrial de julho e o BCE faz sua reunião para definir a taxa de juros, que deve continuar em zero.
Nos EUA, sai a inflação ao consumidor (CPI) de agosto e o resultado do Tesouro, além do relatório da demanda e oferta de produtos agrícolas mundiais.
IBC-Br de julho
Sexta-feira o Banco Central anuncia seu índice da atividade, o IBC-Br, de julho. A expectativa da LCA é de um crescimento de 0,3% no mês e queda de 1,8% em 12 meses. Na Europa, sai a balança comercial de julho. E nos EUA, serão divulgados o Índice de Preços de Importados, as vendas no varejo, ambos de agosto, e a prévia da Confiança do Consumidor da Universidade de Michigan.
Ibovespa sobe e dólar cai na semana
No mercado brasileiro, o Índice Bovespa fechou a semana em 102.935 pontos, acumulando +1,78% na semana e no mês, +17,12% no ano e +34,70% em 12 meses. O dólar fechou a R$ 4,0800 para venda na sexta-feira, em queda de -0,73%, variando -1,50% na semana, +5,29% no ano e -0,10% em 12 meses.
Argentina pode continuar influenciando os mercados
Na Argentina, o governo restringiu a compra de moeda estrangeira para pessoas físicas e jurídicas, e ainda não conseguiu domar a desvalorização do peso, observa Álvaro Bandeira, economista-chefe do banco digital ModalMais. Além disso, houve forte destruição de valor dos ativos e em um só dia o índice Merval, da Bolsa de Buenos Aires, desvalorizou 14%. “A Argentina vem seguindo o script de outras crises, que no caso deles é recorrente e que sempre acaba com calote da dívida”, afirma Bandeira. O pior é que o fato traz efeitos para o Brasil, já que a proteção rápida contra países emergentes exige liquidez, e a liquidez está aqui, diz o economista. Ele lembra ainda que em agosto foi recorde de abertura de contas de argentinos nos EUA e que as exportações do Brasil para o país declinaram 40%.
Estrangeiros seguem tirando dinheiro da bolsa
No mercado a semana mostra boa recuperação, mas um fato chama a atenção: os investidores estrangeiros seguem retirando recursos de forma consistente da Bovespa. Em dois dias do mês de setembro, sacaram R$ 2,38 bilhões e as saídas líquidas do ano de 2019 montam a R$ 23,6 bilhões, só perdendo para o ano de 2008, quando na crise do subprime saíram R$ 24,6 bilhões. A maior parte dessa saída, porém, se refere à venda da participação da Swiss Re na SulAmérica, de mais de R$ 2 bilhões.
Perspectivas boas para a bolsa
Bandeira mantém o otimismo com a bolsa e diz que a situação internacional pode seguir acalmando, e certamente beneficiará o direcionamento do fluxo de recursos para investimentos de risco, já que a rentabilidade da renda fixa no mundo anda baixa e não raro negativa. “Basta observar o exemplo do Brasil, onde a remuneração da renda fixa não garante o plano atuarial dos fundos de pensão”.
Ele alerta, porém, que continuarão os momentos de volatilidade nos mercados e aversão ao risco, principalmente considerando a ciclotimia do presidente americano Donald Trump em relação aos chineses. “O presidente Bolsonaro persegue a mesma linha e agrega incertezas internas”, observa. Além disso, começam a se aproximar datas de reuniões de bancos centrais para definições de política monetária, com o BCE esta semana e o Fed e o Copom nas próximas.
“Apesar disso, entendemos que o momento deve seguir propenso a aplicações de risco, pois a situação externa se mostra de menor tensão e estresse para os investidores”, diz o economista. “O lado político seguirá pesando, mas acreditamos no retorno progressivo dos investidores estrangeiros, já que até o momento a alta foi produzida por aplicadores locais”, diz.
Pela análise técnica, que tenta definir as tendências da bolsa olhando os gráficos do passado, depois da Bovespa atravessar a casa dos 103.000 pontos, a próxima etapa seria ultrapassar o patamar de 104.800 pontos, para buscar novos recordes de pontuação histórica. O recorde foi de 106.650 pontos em 10 de julho. Para que isso aconteça, acredita Bandeira, é necessário o recurso dos estrangeiros. “Na visão pessimista, não deveríamos perder o patamar de 100.000 pontos”, conclui.
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