O presidente Jair Bolsonaro aproveitou seu discurso na abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) para atacar os países socialistas, em especial Cuba e Venezuela, a mídia internacional, presidentes brasileiros anteriores e os que criticam a política ambiental brasileira. Ele condicionou a aceitação de ajuda para preservar a Amazônia ao afirmar que “toda ajuda deve ser tratada com pleno respeito à soberania brasileira”. Segundo ele, o país “rechaça instrumentalizar” politicas ambiental ou indigenista, disfarçadas de boas intenções. O discurso surpreendeu os que esperavam uma fala mais conciliadora do presidente para acalmar as críticas internacionais à política ambiental brasileira.
Pouco aplaudido, o presidente falou por 30 minutos e citou muitos assuntos de interesse doméstico, chegando a elogiar o ministro Sérgio Moro, responsável pela prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele defendeu os princípios da família e as políticas indigenista e ambiental brasileiras e a exploração mineral de áreas indígenas, ressaltando que não vai ampliar as reservas do país, que segundo ele já ocupam 14% do território brasileiro e poderiam chegar a 20%. Sobrou até para o cacique Raoni, que segundo Bolsonaro não representa mais os povos indígenas brasileiros. O presidente afirmou que é preciso acabar com o “ambientalismo radical e o indigenismo ultrapassado”. “Acabou o monopólio do senhor Raoni.”
Bolsonaro negou a destruição da Amazônia e atribuiu as críticas ao país à atuação da mídia internacional e local e a organizações não governamentais (ONGs). “Ela não está sendo devastada e consumida pelo fogo como diz mentirosamente a mídia, o Brasil é muito diferente do estampado em jornais e televisões”, disse. Ele afirmou que é uma falácia dizer que a Amazônia é patrimônio da humanidade ou pulmão do mundo, como afirmam outros líderes.
País sofre ataques sensacionalistas da mídia
Segundo o presidente, o governo “tem compromisso solene com a preservação do meio ambiente e com o desenvolvimento sustentável”. Ele destacou que “a Amazonia é maior que toda a Europa Ocidental e permanece intocada”. “Isso prova que somos o país que mais protege o meio ambiente.” Bolsonaro justificou os incêndios na floresta este ano afirmando que “nesta época, o clima seco favorece queimadas espontâneas e ilegais”. Mas admitiu que “problemas todo país tem”. “Porém, ataques sensacionalistas que sofremos da mídia internacional despertaram o sentimento patriótico nacional”.
Segundo ele, os ataques foram baseados em uma falácia, e um ou outro país embarcou na as afirmações da mídia e se comportou de forma desrespeitosa. “Um deles ousou sugeriu aplicar ações ao Brasil sem nos ouvir”, disse o presidente, agradecendo depois “aos que não concordaram” com as punições, citando o presidente americano Donald Trump.
Brasil ressurge após estar à beira do socialismo
Bolsonaro começou afirmando que um novo Brasil está “ressurgindo depois de estar à beira do socialismo”, que teria provocada “uma situação de corrupção generalizada”. Ele citou o acordo “entre a ditadura comunista cubana e o governo petista”, no Mais Médicos, que teria trazido para o país 10 mil médicos cubanos sem comprovação profissional e sem direitos, em um sistema de trabalho escravo que teria sido respaldado pela ONU. Segundo Bolsonaro, com o fim do programa, o país deixou de contribuir com a ditadura cubana com US$ 300 milhões a cada ano, e lembrou que, nos anos 1960, Cuba enviou agentes para “colaborar com ditaduras” e que “civis e militares foram mortos e tiveram sua reputação destruída, mas vencemos”. Foi uma menção à guerra fria e aos regimes militares e a repressão às guerrilhas e movimentos de esquerda dos anos 1960 e 1970. E afirmou que haveria 60 mil agentes cubanos na Venezuela ajudando a manter o regime de Nicolás Maduro, atuando nos segmentos de inteligência e militar.
Maduro foi um dos alvos de Bolsonaro, que ironizou a crise no país afirmando que o “socialismo está dando certo na Venezuela, todos estão pobres e sem liberdade”. Ele lembrou que o Brasil sofre o impacto da “ditadura na Venezuela” com a fuga de parte da população, e que está fazendo sua parte ao ajudar os refugiados. E aproveitou para chamar o Fórum de São Paulo de “organização criminosa criada por Fidel Castro, Hugo Chavez e Lula que tem de ser combatida”,
O presidente brasileiro observou que a economia brasileira “está reagindo, ao romper as amarras de anos de irresponsabilidade fiscal, aparelhamento do estado e corrupção generalizada” e que o governo está promovendo a abertura da economia, as privatizações e a gestão competente. Ele citou os acordos comerciais fechados pelo país, como o com a União Europeia, e diz que novos devem ser fechados com países da Ásia e do Oriente Médio. E que o Brasil está se preparando para entrar na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Nova representante indígena
Bolsonaro mencionou ainda a indígena Ysani Kalapalo, que apóia o governo e que teria recebido o apoio de um grupo indígena de produtores rurais. Segundo o presidente, é preciso entender que os indígenas são seres humanos como nós e querem usufruir dos mesmos direitos. E deixou claro que o Brasil não vai aumentar para 20% a área demarcada, “como querem alguns líderes”.
Raoni é usado por quem quer índios como homens das cavernas
Ele colocou em dúvida as lideranças tradicionais indígenas afirmando que “cada povo ou tribo, tem com sua cultura, tradições e forma de ver o mundo”, e que “a visão de um líder indígena não representa a visão de todos”. “Alguns, como o Raoni, são usados por interesses estrangeiros. pessoas de dentro e fora do Brasil apoiados por ONGs, que querem manter indios como homens das cavernas”, disse.
Presidente defende exploração de reservas
O presidente defendeu ainda a exploração mineral das áreas indígenas, ao afirmar que “o índio não quer ser latifundiário pobre em cima de terras ricas, como as reservas Ianomami e Raposa Serra do Sol, que têm grandes reservas de ouro, diamante, terras raras”, afirmou Bolsonaro. Segundo ele, a reserva Ianomami tem 95 mil quilômetros, do tamanho de Portugal ou Hungria, embora apenas 15 mil índios vivam nesse espaço. “Os que nos atacam não estão preocupados com o ser humano índio, mas com os recursos naturais e a biodiversidade dessas áreas”, afirmou.
Bolsonaro leu uma carta de um grupo de agricultores índios do Brasil que atribuiu as críticas ao governo a um “quadro de mentiras propagado pela mídia nacional e internacional” e que quer fazer dos povos indígenas do Brasil uma reserva de mercado”. E afirmou que uma nova política indigenista é necessária.
Presidente cita Alemanha e França e diz que Brasil preserva mais
O presidente criticou o colonialismo e disse que a ONU não pode permitir sua volta. Ele citou que o mundo precisa ser alimentado, e que França e Alemanha usam mais de 50% do território para produção, enquanto o Brasil usa apenas 8%. “61% do território é preservado, e nossa política é de tolerância zero para criminalidade, incluindo crimes ambientais”.
O presidente disse que o Brasil reafirma compromissos intransigentes com direitos humanos e liberdade religiosa, de opinião e de imprensa. E reforçou a política de expulsar refugiados políticos considerados por ele como terroristas. Ele citou a expulsão do italiano Cezare Batisti e de um grupo de chilenos, afirmando que “terroristas sob disfarce de perseguidos políticos não encontrarão mais refúgio no Brasil.
Bolsonaro acusou ainda seus antecessores, “presidentes socialistas”, de desviar recursos e usa-los para subornar a mídia e enviar dinheiro para outros países contra os interesses do Brasil.
Ele destacou a violência no país, citando 70 mil homicídios que “massacravam a população” e citou as mortes de policiais. Segundo Bolsonaro, hoje o Brasil está mais seguro e hospitaleiro, situação reforçada com a isenção de vistos para Estados Unidos, Australia, Canadá e Japão e deve estender o benefício para China e Índia. “Queremos que todos conheçam o Brasil, em especial a amazonia, ela não está sendo devastada e consumida pelo fogo como diz mentirosamente a mídia, o Brasil é muito diferente do estampado em jornais e televisões”, disse.
O presidente brasileiro também condenou atos de violência religiosa e reafirmou o compromisso do Brasil às missões de paz da ONU.
Afagos a Moro
Ele ainda citou ex-presidentes que foram condenados por desvios de recursos e que “foram julgados e condenados por um juiz que é simbolo do país, Sergio Moro”, em um claro afago ao ministro da Justiça, que estava desgastado nos últimos meses.
Ataque à ideologia de gênero, defesa da religião e lembrança do atentado
Bolsonaro disse ainda que o país durante as ultimas décadas se deixou seduzir por “sistemas ideológicos que não representavam a realidade”. A ideologia, segundo ele, dominou o governo, a cultura, a educação, e que “tenta destruir a inocência de nossas crianças”, numa referência à chamada ideologia de gênero, que segundo o governo tentaria influenciar as opções sexuais das crianças. Em um agrado aos grupos religiosos, Bolsonaro afirmou que a ideologia “invadiu a própria alma humana para expulsar Deus e a própria humanidade”, o que sempre deixou um “rastro de morte”, citando o atentado que sofreu durante a campanha. “Fui covardemente esfaqueado por um militante de de esquerda”, disse.
O post Bolsonaro na ONU ataca Cuba e Venezuela, mídia internacional e diz que Amazonia não é patrimônio da humanidade apareceu primeiro em Arena do Pavini.