Por Gabriel Codas
Investing.com – Seguindo a tendência dos mercados internacionais, o índice futuro do Ibovespa começa a quinta-feira com perdas de 5,44% aos 64.212 pontos às 09h27, com o dólar à vista estável a R$ 5,19.
O mercado deve seguir atento aos impactos das medidas para conter o avanço do coronavírus no Brasil e à decisão do Copom, além do cenário político interno com pressão ao presidente Jair Bolsonaro e sua equipe a lidar com a crise econômica e sanitária.
– Cenário Interno
Selic
O Banco Central cortou nesta quarta-feira a Selic em 0,5 ponto, à nova mínima histórica de 3,75%, aumentando o ritmo de afrouxamento monetário em resposta aos impactos econômicos com o coronavírus, mas indicando que este deve ser o novo nível dos juros básicos daqui para frente.
No comunicado sobre a decisão, o Comitê de Política Monetária (Copom) ponderou, no entanto, que a leitura sobre suas próximas decisões pode mudar em meio ao novo quadro que se descortina com a disseminação do Covid-19.
“O Copom entende que a atual conjuntura prescreve cautela na condução da política monetária, e neste momento vê como adequada a manutenção da taxa Selic em seu novo patamar. No entanto, o Comitê reconhece que se elevou a variância do seu balanço de riscos e novas informações sobre a conjuntura econômica serão essenciais para definir seus próximos passos”, disse.
PIB
O secretário especial da Fazenda, Waldery Rodrigues, afirmou nesta quarta-feira que o governo já revisou a previsão para o crescimento do Produto Interno Brasileiro (PIB) neste ano, e que o valor “está bem abaixo” do previsto anteriormente pelas estimativas da Secretaria de Política Econômica (SPE), de 2,1%.
“(É) um valor em linha com o mercado. De fato, várias projeções já indicaram valores entre 0,5% e 0%. Os nossos números refletem todas essas alterações”, complementou Waldery.
Segundo o secretário, a nova estimativa será apresentada pela pasta na próxima sexta-feira, 20, quando a equipe econômica divulgará o primeiro Relatório de Divulgação de Receitas e Despesas.
Waldery também destacou a forte depreciação da cotação do barril de petróleo tipo Brent, que impacta as receitas da União.
Estimativa JP Morgan
Os bancos JPMorgan e Goldman Sachs passaram a prever contração da economia brasileira neste ano, com o PIB afetado pelos efeitos globais do coronavírus, somando-se a outras instituições financeiras que também pioraram seus cenários para a atividade.
O mais conservador é o JPMorgan, que projeta declínio de 1,0% no PIB em 2020 (ante expectativa anterior de crescimento de 1,6%), com uma “profunda recessão” no primeiro semestre.
O banco espera retração de 3,5% da economia no primeiro trimestre deste ano ante os três meses anteriores (com ajuste sazonal), devido sobretudo ao golpe contra o PIB global e a temores do Covid-19 no país.
Já no segundo trimestre o JPMorgan calcula um tombo de 10%, à medida que os efeitos de baixa da disseminação do coronavírus e as medidas para conter o surto, junto com o aperto nas condições financeiras e uma recessão globais, terão um “papel crucial”.
Flexibilização do trabalho
O governo divulgou nesta quarta-feira um pacote de medidas destinadas a flexibilizar as relações entre patrões e empregados, abrindo espaço para que a jornada e o salário possam ser reduzidos em até 50% como forma de conter o desemprego em meio à crise com os impactos do coronavírus sobre a economia.
O pacote, batizado de “Programa Antidesemprego”, será enviado ao Congresso via projeto de lei ou Medida Provisória (MP), afirmou o secretário-executivo do Ministério da Economia, Marcelo Guaranys.
A ideia é que a redução de salário e jornada possa vigorar até o final deste ano, prazo solicitado pelo governo ao Congresso para que o país seja considerado em estado de calamidade pública.
Em apresentação divulgada inicialmente a jornalistas, a pasta destacou que as alterações seriam instituídas por MP. Caso esse caminho seja de fato escolhido, elas terão vigência imediata, mas terão que ser chanceladas pelos parlamentares para prosseguirem em vigor.
– Cenário Externo
Moedas
A corrida por dólares levou o Índice de Câmbio dos Mercados Emergentes do MSCI a seu nível mais baixo em mais de três anos nesta quinta-feira, e a caminho da pior semana desde setembro de 2011.
O índice MSCI de ações emergentes recuava pelo quarto dia seguido, em queda de 3% e no nível mais fraco em mais de quatro anos. O índice deve ter a pior semana desde a crise financeira global de 2008.
EUA
O Federal Reserve lançou seu terceiro programa emergencial de crédito em dois dias para combater as consequências do coronavírus, este com o objetivo de manter funcionando a indústria de fundos mútuos do mercado monetário se investidores fizerem retiradas rápidas.
O Money Market Mutual Fund Liquidity Facility informou na quarta-feira que fará empréstimos de até 1 ano para instituições financeiras que prometerem como garantia ativos de alta qualidade como Treasuries que compraram dos fundos mútuos do mercado monetário.
O Fed está na realidade encorajando os bancos a comprar ativos desses fundos mútuos, isolando os fundos de terem que vender ativos com desconte se ficarem sob pressão de pessoas ou empresas que querem retirar dinheiro.
Japão
O núcleo da inflação anual do Japão desacelerou em fevereiro com a queda nos preços da energia e o surto de coronavírus ofuscando as perspectivas, deixando os consumidores mais cautelosos sobre os ganhos e somando-se aos temores de que a economia possa estar caindo em recessão.
Os dados fracos são divulgados depois que o Banco do Japão anunciou um pacote de medidas emergenciais de afrouxamento em uma tentativa de estabilizar a atividade econômica e os mercados financeiros.
O núcleo do índice de preços ao consumidor, que inclui produtos petrolíferos mas exclui os voláteis preços de alimentos frescos, aumentou 0,6% no ano até fevereiro, mostraram nesta quinta-feira dados do Ministério de Assuntos Internos e Comunicação.
BCE
O Banco Central Europeu (BCE) anunciou nesta quarta-feira um programa de compras emergenciais de 750 bilhões de euros (818 bilhões de dólares) para reduzir os custos de empréstimos em um bloco que luta contra as consequências econômicas do coronavírus, informou a instituição em comunicado.
“As compras serão realizadas até o final de 2020 e incluirão todas as categorias de ativos elegíveis no programa de compra de ativos existente”, afirmou o BCE após uma reunião de emergência nesta quarta-feira, menos de uma semana após parlamentares aprovarem novas medidas de estímulo.
O esquema também incluirá dívidas da Grécia, que até estavam excluídas das compras de títulos pelo BCE devido à sua baixa classificação de crédito.
O programa, que terminará quando a “fase de crise” da epidemia acabar, também incluirá papel comercial não financeiro com qualidade de crédito suficiente, afirmou o BCE.
BOLSAS INTERNACIONAIS
Em TÓQUIO, o índice Nikkei recuou 1,04%, a 16.552 pontos. Em HONG KONG, o índice HANG SENG caiu 2,61%, a 21.709 pontos. Em XANGAI, o índice SSEC perdeu 0,98%, a 2.702 pontos. O índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em XANGAI e SHENZHEN, retrocedeu 1,30%, a 3.589 pontos.
Os índices europeus também recuam nesta quinta-feira com o DAX, de Frankfurt, cedendo 0,70% aos 8.397 pontos, enquanto que o FTSE, de Londres, perde 1,67% aos 4.995 pontos. Já em Paris, o CAC recua 0,32% aos 3.741 pontos.
COMMODITIES
A jornada desta quinta-feira na bolsa de mercadorias da cidade chinesa de Dalian foi marcada pela estabilidade nos preços dos contratos futuros do minério de ferro. O ativo que tem o maior volume de negócios, com data de vencimento no mês de maio do atual calendário, não teve variação ao final do dia, encerrando aos 678,00, o mesmo valor de liquidação da véspera.
Por outro lado, a sessão do dia 19 teve como característica perdas nas cotações do vergalhão de aço, que são transacionados na também chinesa bolsa de mercadorias da cidade chinesa de Xangai. O contrato de maior liquidez, com entrega em maio de 2020, perdeu 32 iuanes para 3.528 iuanes por tonelada. Já o de outubro, segundo em operações, cedeu 67 iuanes para 3.437 iuanes por tonelada.
Depois do tombo da véspera, os preços do petróleo se recuperam nesta quinta-feira. O barril do tipo Brent, de Londres, soma 4,90%, ou US$ 1,20, a US$ 26,08. Já em Nova York, o WTI salta 10,99%, ou US$ 2,33, a US$ 23,16.
MERCADO CORPORATIVO
– Varejo
A prefeitura de São Paulo determinou nesta quarta-feira o fechamento de estabelecimentos comerciais da cidade para atendimento presencial de 20 de março até 5 de abril.
A decisão do prefeito Bruno Covas foi tomada com “base na lei federal que lhe confere poderes para enfrentamento de emergência de saúde”, segundo comunicado da prefeitura enviado à imprensa.
A medida autoriza a manutenção dos serviços administrativos e a realização de vendas por meio de aplicativos, internet ou instrumentos similares.
Ficam isentos da medida farmácias, supermercados, feiras livres, lojas de conveniência e de venda de alimentação para animais, padarias, restaurantes, lanchonetes e postos de combustível.
Ainda segundo o comunicado, cabe às subprefeituras suspender atividades de autônomos e à guarda civil metropolitana, intensificar a retirada de comércio ambulante ilegal.
– Petrobras (SA:PETR4)
Gaspetro
A Petrobras adiou para 30 de abril o prazo para habilitação na fase não vinculante de potenciais compradores da fatia de 51% que a empresa mantém na Gaspetro, disse a companhia em comunicado nesta quarta-feira.
A estatal não forneceu detalhes sobre o adiamento, e afirmou que as próximas etapas do projeto serão divulgadas ao mercado oportunamente.
A Gaspetro é uma holding com participação de diversas distribuidoras de gás, que distribuiu 29 milhões de metros cúbicos diários do produto em 2019. Em termos societários, a Petrobras possui 51% da empresa e a Mitsui Gás e Energia, 49%.
A Gaspetro é um importante ativo do programa de desinvestimento da estatal.
Na véspera, uma fonte da empresa disse à Reuters que a Petrobras avaliará a possibilidade de ajustes de curto prazo no seu plano negócios, enquanto a crise gerada pelo coronavírus e uma guerra de preços de petróleo declarada por sauditas derrubam as cotações da commodity.
GLP
A Petrobras reduzirá em 5% o preço do gás liquefeito de petróleo (GLP) vendido às distribuidoras a partir de quinta-feira, informou a assessoria de imprensa da petroleira, após ser consultada.
Os preços do GLP, segundo a Petrobras, têm como base o preço de paridade de importação, mas o valor repassado ao consumidor de gás não é imediato, dependendo de tributos e margens de distribuidoras.
A Petrobras também anunciou que reduzirá o preço médio da sua gasolina em 12% a partir de quinta-feira, e o do diesel nas refinarias em 7,5%.
Concessões
A Petrobras iniciou a fase vinculante para venda da totalidade de sua participação nas concessões marítimas Polo Golfinho e Polo Camarupim, localizadas em águas profundas na Bacia do Espírito Santo, disse a petroleira em comunicado nesta quarta-feira.
Agora, os habilitados receberão carta-convite com instruções para o processo de desinvestimento, bem como orientações para due dilligance e envio das propostas vinculantes, disse a Petrobras.
A Petrobras tem 100% de participação nas concessões de ambos os polos, com exceção do bloco exploratório BM-ES-23, no qual possui participação majoritária de 65%, em parceria com a PTTEP (20%) e a Inpex (15%).
Segundo a Petrobras, o Polo Golfinho produziu em média 15 mil barris por dia de óleo e 750 mil metros cúbicos diários de gás entre 2018 e 2019, enquanto o Polo Camarupim compreende os campos de Camarupim e Camarupim Norte, ambos produtores de gás não associado.
– Indústria Automotiva
General Motors (NYSE:GM) e Mercedes-Benz anunciaram nesta quarta-feira que vão dar férias coletivas para todos seus funcionários no Brasil a partir de 30 de março, em meio à queda na demanda de veículos causada pelo pânico com a pandemia de coronavírus.
Uma fonte sindical disse à Reuters nesta quarta-feira que as férias coletivas da GM vão durar de 30 de março a 12 de abril.
A GM não informou número de funcionários atingidos pela decisão no país. Na América do Sul, a empresa emprega 19 mil pessoas, a maior parte no Brasil.
A companhia norte-americana afirmou que a decisão de conceder férias coletivas deve-se à necessidade “de ajustar a produção à demanda do mercado”.
Mais cedo, a Mercedes-Benz também anunciou férias coletivas, de 20 dias, para todos os seus cerca de 10 mil funcionários no Brasil a partir de 30 de março.
– Banco do Brasil (SA:BBAS3)
O Banco do Brasil anunciou nesta quarta-feira que vai reforçar suas linhas de crédito com 100 bilhões de reais, em meio aos sinais de forte deterioração econômica no país devido aos desdobramentos da pandemia de coronavírus.
Em comunicado, o banco afirmou que 24 bilhões de reais são destinados a pessoas físicas, 48 bilhões são para empresas, 25 bilhões para o agronegócio e 3 bilhões para prefeituras e governos estaduais.
Os valores adicionais serão incorporados a linhas já existentes, para clientes com limite aprovado. No caso de pessoas físicas, os recursos extras irão para 13 milhões de clientes de crédito consignado, crédito salário e crédito automático.
No caso de empresas, o reforço vai para linhas de capital de giro, investimento e de antecipação de recebíveis, para companhias de todos os tamanhos.
– Lojas Renner (SA:LREN3)
A varejista de moda Lojas Renner anunciou nesta quarta-feira a interrupção do funcionamento de suas lojas na Grande São Paulo a partir de quinta-feira (19), diante da epidemia do coronavírus.
Em fato relevante, a companhia informou ainda que o horário de funcionamento de suas demais unidades será reduzido, mas não deu detalhes.
– Tupy (SA:TUPY3)
A fabricante de peças fundidas Tupy anunciou nesta quarta-feira a concessão de 10 dias férias coletivas a todos os funcionários no país a partir de 19 de março.
A companhia catarinense afirmou que a medida “leva em consideração a suspensão de operações dos nossos clientes no Brasil e exterior em face das restrições impostas pelos governos locais para a contenção da pandemia”, referindo-se ao coronavírus.
No entanto, a Tupy, que fabrica blocos e cabeçotes de motor e peças para sistemas de freio, transmissão, direção, eixo e suspensão, afirmou por meio de fato relevante que seus estoques estão em patamares adequados e não há risco para o fornecimento aos clientes.
– Elétricas
Turbulências nos mercados globais devido à pandemia de coronavírus devem levar empresas de energia no Brasil a postergar ou até cancelar emissões de debêntures para financiar projetos, e muitas deverão voltar a buscar recursos no BNDES, que vinha gradualmente perdendo espaço nas captações.
O movimento, projetado por uma fonte do setor bancário e especialistas, vem após um volume recorde de captações em 2019, quando companhias de energia emitiram 27,3 bilhões de reais em debêntures de infraestrutura, um avanço de 41% ante 2018.
“Impactou sensivelmente. Algumas emissões foram suspensas. Os investidores institucionais, que são quem movimenta o mercado, estão em modo de espera. Não conseguimos cotar nada com fundos e grandes assets”, disse à Reuters uma fonte em uma das maiores instituições financeiras do país.
O mercado não deve travar totalmente, uma vez que empresas mais conhecidas e com garantias robustas ainda têm condições de levar operações adiante, principalmente nos setores de energia renovável e transmissão, mas a expectativa é de uma piora nas condições.
AGENDA DE AUTORIDADES
– Jair Bolsonaro
O presidente da República se reúne na parte da manhã com o ministro Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública) e, na parte da tarde, com Paulo Guedes (Economia).
– Paulo Guedes
– Reunião com o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho;
– Reunião com o presidente da República, Jair Bolsonaro;
– Vídeoconferência com o presidente da Azul (SA:AZUL4) Linhas Aéreas Brasileiras, John Rodgerson.
*Com Reuters