Por Ana Carolina Siedschlag, da Investing.com – Com a manutenção do cenário de juros baixos no Brasil e a disseminação da procura por modos de financiamento mais rentáveis, a onda de ofertas públicas iniciais, ou IPOs, que inundou 2020 pode ser ainda maior no próximo ano, com destaque para companhias de tecnologia, do agronegócio sustentável e de petróleo, disseram especialistas ao Investing.com Brasil.
A onda de abertura de capital no país colocou 25 estreantes para negociar na bolsa brasileira ao longo deste ano, com volume total negociado de R$ 26 bilhões, de acordo com dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A maior delas, da rede de hospitais Rede D’Or (SA:RDOR3), levantou R$ 8,4 bilhões em dezembro e desbancou a Neoenergia (SA:NEOE3) da terceira posição dos maiores IPOs da história da B3 (SA:B3SA3).
Para 2021, já são 43 pedidos em análise na CVM e as áreas de atuação parecem tão diversas quanto as deste ano, em que estrearam na bolsa empresas como a Petz (SA:PETZ3), de produtos para animais de estimação, até a Aeris (SA:AERI3), de pás para geradores de energia eólica.
“Ainda com todos esses IPOs, existem pouquíssimas empresas abertas na bolsa até hoje. O Brasil está ficando mais maduro, vemos mais empresas recorrendo a esse recurso, e com a economia voltando a andar, o cenário deve ser melhor ainda”, disse Alan Gandelman, CEO da Planner Corretora.
Segundo ele, a variedade de setores que procuraram o mercado de capitais em 2020 deve se repetir no próximo ano, mas com foco importante no setor de tecnologia, como fintechs ou varejistas especializadas em comércio online.
É o caso de nomes como a Paschoalotto, de serviços financeiros digitais, das varejistas Mobly e Westwing e da Mosaico, dona do site de compras Buscape, que figuram na lista de pedidos atualmente em análise na CVM.
Ainda assim, a B3, que detém o monopólio da negociação de capitais no Brasil, deve sofrer com alguma concorrência das bolsas americanas no segmento, já que muitas empresas enxergam no exterior maior interesse e melhores oportunidades de preço para ativos de tecnologia.
Foi o caso, nos últimos anos, da XP (NASDAQ:XP) e da Stone (NASDAQ:STNE), listadas na Nasdaq, e da PagSeguro (NYSE:PAGS), na Bolsa de Valores de Nova York, a NYSE.
Para gringo ver
O que deve ganhar destaque por aqui são os IPOs do setor de agronegócio, com grandes chances de chamarem a atenção de investidores estrangeiros principalmente nos casos em que as empresas atenderem às novas exigências de ESG – sigla em inglês para as boas práticas de governança ambiental, social e corporativa.
“Há uma preocupação muito grande com a parte fiscal do país lá fora. No entanto, o agro costuma minimizar os efeitos políticos, o Brasil vá bem ou vá mal”, diz Andres Castro, analista de equity na Berkana.
Segundo ele, junto com o interesse constante no setor, o ESG deve começar a se tornar uma pré-seleção para a entrada dessas companhias no mercado de capitais.
Ele exemplifica com o follow-on, ou oferta subsequente de ações, da já listada Suzano (SA:SUZB3), que ficou quase 50% nas mãos de estrangeiros: “É uma empresa ligada às questões de sustentabilidade e ao agro. Europeu já olha muito para isso e os americanos estão começando a se posicionar”, diz.
Castro aponta que outro setor que deve seguir as mesmas premissas é o de petróleo, que até agora tem as ofertas da Açu Petróleo e da Oceana na lista de análises para 2021. Este ano, a 3R Petroleum (SA:RRRP3), holding de investimentos em campos de óleo e gás, levantou R$ 700 milhões na estreia da bolsa.
Os analistas do Itaú (SA:ITUB4) projetam que o Brasil deva ter R$ 140 bilhões entre ofertas públicas iniciais e subsequentes em 2021. Se concretizadas, as ofertas da CSN Mineração e da varejista Havan, que desistiu do IPO este ano e ainda não protocolou novo pedido, devem figurar entre as maiores do ano.