O detrás. O escondido. O que pouca gente sabe. Esse é o brilho oculto da história: os fatos que a desencadearam, os movimentos anônimos e até os outros que têm nome e sobrenome e que fizeram a roda girar, mas que não pertencem ao público e se foram mencionados nos anais compilados por aí, o foram em poucas e insensíveis linhas.
Isso é o sublime… é o Lorde Carnavon dos acontecimentos. Para quem não sabe, Carnavon foi o britânico financiador da expedição que descobriu a tumba de Tutancâmon, o faraó menino. Carnavon entrou com o dinheiro e a Múmia entrou com a maldição, já que ele foi o primeiro a morrer de causa sobrenatural após a equipe de arqueólogos bancada por si desenterrar múmias, sarcófagos, artefatos e tudo mais que os milênios esconderam.
O nome dele ficou relegado a duas ou três linhas na Wikipédia, enquanto Howard Carter, o arqueólogo chefe da expedição, mereceu até filmografia. Ano após ano ele é relembrado. Pois bem. Não existiria Carter se não fosse Carnavon e esse é o ponto que eu quero atingir.
O registro esconde as molas propulsoras, para o bem ou para o mal. Se não os ventos que impulsionam, o deserto que emperra. Isso é a história: aquilo que se sabe e aquilo que nunca vai ser dado a conhecer.
Vale de mistérios
Ainda no Egito, o Vale dos Reis é, seguramente, um vale de mistérios.
E o Egito é aqui. Brasil de muitas pirâmides. Brasil de muitas tumbas. Brasil de Boi Gordo e Avestruz Master e, mais recentemente, Brasil da JJ Invest.
JJ Invest que transformou dinheiro em areia do deserto para milhares de brasileiros. Estima-se, ao todo, que mais de 170 milhões de reais tenham sumido da noite para o dia, uma verdadeira “maldição da pirâmide” que atraía a todos com uma rentabilidade surreal e promessas de risco baixo. Mas os ativos.. ah…os ativos… eram lendas.
A mídia deu ênfase aos artistas que investiram seu dinheiro e sua imagem, mas falou pouco dos desconhecidos. Aqueles que viram nas camisas dos seus times os emblemas da financeira e, como confiavam nas agremiações, passaram a confiar na marca estampada no coração dos atletas. Sem ninguém que lhes pudesse abrir os olhos, os comuns aplicaram as economias de uma vida toda apostando em um retorno de 10% a 15% ao mês. A aposta foi no milagre.
A CVM (Comissão de Valores Mobiliários), autarquia vinculada ao Ministério da Economia, que tem entre seus objetivos fiscalizar e disciplinar o mercado de valores mobiliários, emitiu, alguns anos atrás, alerta ao mercado informando que a JJ não possuía registro e, portanto, não tinha permissão para atuar como fazia.
Contudo, a CVM não informou aos simples. Nenhum comunicado foi emitido para os aposentados, leigos, torcedores que viram os craques posando para fotos e fazendo propaganda para a alta rentabilidade da empresa. Não se viu nos jornais, nem nas mídias sociais, qualquer informação ou aviso de alerta. A média dos brasileiros que investiram na JJ não fazia parte do “mercado”, de forma que ficou à margem de qualquer alerta.
Fiz muitos rodeios para chegar?
Não existiria Carter se não fosse Carnavon; não existiria expedição se não houvesse o financiamento. Da mesma forma, não existiria a JJ Invest se não fosse o marketing e não existiria o prejuízo de um grande número de brasileiros não fosse a ausência de informação clara e ostensiva por meio de quem tem a obrigação de prestá-la.
O vento que impulsiona e o deserto que empaca.
O Lorde Carnavon da história. Quem seria ele nessa imensa “pirâmide” brasileira?
Minhas pistas são claras: até que ponto podem ser responsabilizados os clubes e personalidades que emprestaram suas imagens públicas para que o golpe fosse aplicado nas camadas mais simples da população? Até que ponto deve ser responsabilizado o braço do governo que deveria proteger a população, mas calou-se para essa fatia de povo simples?
De fato, o Brasil não é para amadores.
Enquanto no Egito os faraós viraram múmias, aqui ainda estamos assistindo à construção de pirâmides. Imensas pirâmides financeiras amaldiçoando aqueles que têm fé e esperança.
O Carnavon brasileiro deu-se a conhecer. O que diria a justiça sobre isso?
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