Bombordo, estibordo ou à deriva?

Em 2023 o timão do gigante Brasil passou a ser conduzido por um novo comandante, com tendência a navegar a bombordo. Antes de assumir o comando, a sua tripulação já propôs uma manobra ousada: excluir 175 bilhões de reais da regra do teto de gastos para viabilizar o programa Bolsa Família e um valor adicional por criança menor de 6 anos de cada beneficiário. Responsabilidade social ou irresponsabilidade fiscal?

O governo assumiu, a partir do mês de maio, gastos maiores com o aumento do salário mínimo. Garantia de aumento real, a um alto custo fiscal. Pretende construir cem novos aeroportos em pequenos municípios e dois milhões de casas. Bancos públicos financiando obras do governo. É sustentável?

Com a sinalização de reajuste da tabela de imposto de renda, aumentando a faixa de renda com isenção, as receitas do governo devem ser reduzidas. Mais dinheiro na mão da população por meio de renúncia fiscal. O governo pode abrir mão desse valor prevendo aumento de gastos?

Enquanto o relatório Focus mostra expectativa de alta inflacionária, o governo trava uma batalha com o Banco Central exigindo redução da taxa básica de juros. Vale lembrar que a meta inflacionária é definida pelo Conselho Monetário Nacional, formado pelo ministro da economia, pela ministra do planejamento e pelo presidente do Banco Central, ou seja, dois terços representados pelo governo. Corte de juros é prudente sem que seja apresentado um novo arcabouço fiscal, com controle dos gastos públicos?

Essas e outras questões político-econômicas geram discussões e são polêmicas. Uma pesquisa realizada pela Genial/Quaest com profissionais do mercado financeiro, majoritariamente de Hedge fund e de Asset management rv, mostra que 98% dos entrevistados entendem que a Política Econômica do governo está em direção errada e 73% julga que o país corre o sério risco de apresentar recessão econômica.

Ao serem questionados sobre a preocupação do governo com a inflação, 68% dos respondentes desacreditam dessa premissa e 58% apostam em uma taxa superior a 6%. A avaliação do mercado, no entanto, não coaduna com a opinião pública.

90% dos profissionais entrevistados acreditam que a gestão do governo é negativa, já 64% do público avalia como positiva ou regular. 78% dos profissionais do mercado vislumbram dificuldades econômicas nos próximos meses, diferentemente da opinião pública que tem expectativa de melhora (62%).

Se um médico analisa os resultados dos exames e sugere uma cirurgia, se um engenheiro analisa a possibilidade de desmoronamento e sugere a desocupação, se um advogado analisa um contrato e sugere a inclusão de cláusulas específicas, talvez seja razoável buscar uma segunda opinião, afinal de contas, esses profissionais podem estar errados, mas parece prudente entrar em estado de alerta.

Economistas e gestores têm mostrado que o caminho não é girar o timão para bombordo e colocar os motores a todo o vapor. Pode quebrar o leme, acabar a gasolina e o navio ficar à deriva.

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