O mercado financeiro dos Estados Unidos está em estado de alerta, aguardando ansiosamente o próximo relatório de emprego. Previsto para a primeira semana de setembro, este relatório é considerado um divisor de águas, com potencial para desencadear movimentos significativos em ações e títulos. De acordo com Victoria Fernandez, estrategista-chefe de mercado da Crossmark Global Investments, “este relatório será crucial para o mercado, com a capacidade de alterar significativamente o cenário atual”.
O desempenho do mercado em agosto, com o índice Dow Jones alcançando um novo recorde e o S&P 500 aproximando-se de seu pico histórico, intensificou ainda mais a expectativa em torno do relatório de emprego. Segundo Bob Elliott, cofundador da Unlimited Funds, “a economia dos EUA permanece robusta, mas ainda há incerteza sobre o futuro, especialmente em relação ao tipo de recuperação que veremos”. Elliott ressalta que, embora o mercado esteja forte, o impacto do relatório de emprego pode determinar se haverá um “no landing”, um pouso suave ou um pouso forçado para a economia.
Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, abordou o tema durante seu discurso em Jackson Hole, afirmando que o mercado de trabalho “resfriou consideravelmente” desde o seu estado de superaquecimento. Essa mudança, segundo Powell, reduz os riscos inflacionários e abre espaço para cortes nas taxas de juros. No entanto, a decisão final sobre as taxas de juros será fortemente influenciada pelo relatório de emprego de agosto.
Veja o que impactou as economias em agosto
Federal Reserve e as decisões de política monetária
Phil Camporeale, gestor de portfólio da J.P. Morgan Asset Management, enfatiza que o relatório de empregos será determinante para as próximas decisões do Federal Reserve. Se os dados de emprego em agosto forem robustos, o Fed pode optar por iniciar cortes graduais nas taxas de juros, em passos de um quarto de ponto percentual. Por outro lado, um corte mais profundo indicaria maiores preocupações com a economia e o mercado de trabalho, sinalizando uma possível deterioração econômica mais acentuada.
Analistas do Barclays preveem que a taxa de desemprego caiu para 4,2% em agosto. Se confirmado, esse resultado representará uma recuperação parcial em relação ao aumento registrado em julho, que foi impulsionado por desempregos temporários devido ao furacão Beryl. Um “bom relatório de emprego”, como sugere Camporeale, pode levar a um aumento nos rendimentos dos títulos do Tesouro e impulsionar uma nova alta no mercado de ações.
Roger Hallam, chefe global de taxas do Vanguard Group, adverte que uma surpresa negativa no relatório de emprego poderia resultar em cortes mais profundos nas taxas de juros durante a reunião de setembro do Federal Reserve. Contudo, ele também sugere que dados econômicos mais positivos poderiam provocar um leve aumento nos rendimentos dos títulos, reforçando a importância do relatório de emprego para a formulação da política monetária.
Impacto nos mercados de ações e títulos
Na última sexta-feira de agosto, todos os principais índices de ações dos EUA registraram alta. O Dow Jones, o S&P 500 e o Nasdaq Composite fecharam em território positivo, com cada índice acumulando ganhos ao longo do mês. O desempenho do mercado de ações reflete a expectativa de que o relatório de emprego trará boas notícias, impulsionando ainda mais o mercado.
No mercado de títulos, os rendimentos do Tesouro caíram durante agosto, à medida que os investidores antecipavam cortes nas taxas de juros pelo Federal Reserve. O rendimento da nota do Tesouro de 10 anos caiu pelo quarto mês consecutivo, refletindo a expectativa de que o relatório de emprego poderia justificar uma postura mais dovish do Fed. O rendimento do Tesouro de dois anos também caiu, registrando sua maior sequência de quedas desde julho de 2020.
Apesar dos sinais recentes de enfraquecimento no mercado de trabalho, Hallam enfatiza que o mercado de trabalho ainda não está “suave”. Ele alerta que uma surpresa negativa no relatório de emprego poderia forçar o Federal Reserve a adotar cortes mais agressivos nas taxas de juros. No entanto, dados econômicos mais benignos poderiam resultar em um leve aumento nos rendimentos dos títulos, sugerindo que o impacto do relatório de emprego será fundamental para o comportamento do mercado.
Expectativas globais e possíveis repercussões
A expectativa em torno do relatório de emprego nos EUA não se limita apenas ao mercado interno. As repercussões podem ser sentidas globalmente, influenciando mercados em todo o mundo. Com a crescente expectativa de que o Federal Reserve possa iniciar cortes nas taxas de juros em sua reunião de setembro, outros bancos centrais também estão monitorando de perto o relatório de emprego.
No Canadá, o banco central se prepara para um terceiro corte consecutivo na taxa de juros. No entanto, a decisão final será influenciada pelo desempenho do mercado de trabalho canadense, que também está em fase de recuperação. A expectativa é que o relatório de emprego dos EUA forneça uma indicação clara da direção que o Banco do Canadá deve seguir.
Na Zona do Euro, o Banco Central Europeu (BCE) enfrenta uma situação semelhante, com a inflação se aproximando de sua meta e sinais de fraqueza na economia. O relatório de emprego nos EUA pode influenciar as decisões do BCE em sua próxima reunião, especialmente em relação à necessidade de cortes adicionais nas taxas de juros.
Em mercados emergentes, como a China e o Brasil, o relatório de emprego nos EUA é visto como um indicador chave da saúde econômica global. Um relatório positivo poderia impulsionar os mercados de commodities e fortalecer as moedas locais, enquanto um relatório negativo poderia desencadear uma fuga para a segurança, impactando negativamente as economias emergentes.
No Japão, o Banco do Japão está acompanhando de perto os desenvolvimentos no mercado de trabalho dos EUA, uma vez que suas próprias políticas monetárias podem ser influenciadas por mudanças nas taxas de juros globais. Um relatório de emprego forte nos EUA poderia levar a um endurecimento da política monetária no Japão, enquanto um relatório fraco poderia justificar uma postura mais acomodatícia.
Em resumo, o impacto do relatório de emprego nos EUA em setembro será profundo e de longo alcance, afetando não apenas o mercado financeiro americano, mas também a economia global como um todo.
Com Informações de MaketWatch e Wall Street Journal