Na encosta de Caconde, município do Estado de São Paulo, a plantação de café de Silvio Almeida, um pequeno agricultor da região, enfrenta tempos desafiadores. Em uma região conhecida pela qualidade de seus grãos, Almeida, que esperava colher 120 sacas nesta safra, viu sua expectativa murchar para cerca de 100, em razão da pior seca que o Brasil enfrenta em mais de setenta anos, combinada com as queimadas devastadoras que tem percorrido o país.
“Dadas as condições atuais, a safra de 2025 já está comprometida”, lamenta Almeida.
Agricultores de todo o país estão lidando com a escassez de água, que se intensifica com os incêndios florestais descontrolados que devastaram áreas protegidas e privadas, incluindo a do vizinho de Silvio, João Rodrigues Martins, que perdeu sua pequena plantação de 2.500 plantas.
Diante disso, os preços mundiais do café e do açúcar já atingem máximas históricas, com os investidores concentrados na estiagem que atinge o Brasil, o maior produtor de ambas as commodities, já que as previsões meteorológicas continuam indicando condições secas.
As previsões meteorológicas indicam a continuidade das condições secas nos próximos meses. Analistas da LSEG alertam que, embora algumas projeções indiquem chuvas, estas provavelmente só ocorrerão em meados ou no final de outubro, se ocorrerem.
Nesse contexto, os contratos futuros do café arábica alcançaram uma nova máxima de 13 anos, sendo negociados a cerca de US$ 2,735 por libra-peso, enquanto os contratos do açúcar bruto atingiram um pico de sete meses, a 23,71 centavos por libra-peso.
A expectativa de um longo período de entressafra no Brasil impactou as estratégias de especuladores no mercado de açúcar.
No Vietnã, embora os preços do café robusta tenham caído devido a condições climáticas favoráveis, a produção poderá ser afetada por eventos adversos anteriores. Os futuros do café robusta continuam em alta, superando os US$ 5.500 por tonelada.
Nesse cenário, o mercado global tem buscado alternativas na Tailândia e Índia. No entanto, ambos os países enfrentam seus próprios desafios climáticos, como inundações e a priorização da produção de etanol.
Impacto das queimadas na agricultura brasileira
A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) afirmou recentemente que as queimadas que assolam o Brasil causaram, de junho a agosto, prejuízo estimado de R$ 14,7 bilhões em 2,8 milhões de hectares de propriedades rurais no Brasil.
Conforme a entidade, a estimativa leva em conta aspectos como perda de matéria orgânica, produção, redução na produtividade, cercas em áreas de pastagem e potássio e fósforo nas camadas superficiais do solo.
Conforme o sistema BDQueimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Brasil teve, de 1º de junho a 31 de agosto, 103.545 focos de incêndio.
O Brasil encerrou o mês de agosto de 2024 com o pior número de queimadas em 14 anos. Foram 68.635 ocorrências –o 5º maior da série histórica, iniciada em 1998. Foi uma alta de 144% em relação ao mesmo período de 2023.
Setembro já ultrapassou o número de focos de incêndio de agosto e é, até o momento, o pior mês deste ano quanto ao número de queimadas. O mês acumula 79.499 focos de incêndio. Em 2024, são 206.550 ocorrências do tipo.