O mercado de trabalho está avançando ou regredindo no caminho rumo à diversidade dentro das empresas? No dia 19 de setembro, o ex-CEO da startup G4 Educação, Tallis Gomes, declarou em sua rede social “Deus me livre de mulher CEO”, se referindo a relacionamentos.
Com falas que reforçam estereótipos misóginos, Gomes afirmou que um cargo de liderança “masculiniza” mulheres e a “energia feminina” será muito melhor usada dentro do lar.
Carolina Cavenaghi, fundadora da Fin4She, empresa que auxilia mulheres que querem trabalhar e se certificar no mercado financeiro, afirmou que a sensação, ao ler esse tipo de mensagem, é a de que “voltamos algumas casas no tabuleiro do jogo”.
Nas declarações do executivo, “o mundo começou a desabar exatamente quando o movimento feminista começou a obrigar a mulher a fazer papel de homem”.
Fin4She: a história de Carolina Cavenaghi e o compromisso com a inclusão de mulheres no mercado
“Não é sobre a gente não ter a nossa feminilidade, eu gosto muito de ser mulher. Mas é uma questão de responsabilidades, de possibilidades que independem. É uma questão de poder ser o que a gente quiser”, pontua Cavenaghi.
Abaixo, a publicação de Gomes na ferramente Story, do Instagram:
“Energia feminina”: o que esse termo revela?
Muito utilizado por coachs, o termo energia feminina está relacionado a um universo que abrange estética, cuidados com o lar, comportamento delicado, entre outros aspectos, mas pode ser vendido como um superpoder natural que precisa ser “desbloqueado”.
O ex-CEO da G4 Educação pontuou que o “melhor benefício de uma mulher” é o “uso da energia feminina nos lugares certos, lar e família”.
No entanto, para Cavenaghi, a fala desperta um conflito geracional. “A questão geracional é tão relevante quanto outras para a diversidade. As empresas estão preparando seus sucessores? Quem vai querer trabalhar em uma empresa onde o líder pensa dessa forma?”, questiona.
A fundadora da Fin4She também pontuou que existe uma dificuldade, no meio executivo, de reconhecer lideranças diversas.
“Existe uma necessidade de ressignificar modelos de liderança também, precisamos de uma liderança de sucesso para que a gente se conecte e tenha talentos nas novas gerações”, afirmou.
O estudo TheReady-Now Leaders, da Ong Conference Board, de 2023, mostrou que as organizações com pelo menos 30% de mulheres em cargos de liderança têm 12 vezes mais chance de estar entre as 20% melhores em desempenho financeiro.
Já um relatório da organização Leadership Circle, com base em análises de mais de 84 mil líderes e 1,5 milhão de avaliadores, revela que lideranças femininas aparecem com mais eficácia do que seus colegas homens em todos os níveis de gerenciamento e faixas etárias.
Ações valem mais na luta por mais diversidade
“Eu acho que aqui a gente tem que tentar um caminho de construção […] eu sei o que eu estou fazendo aqui, as vidas que eu estou transformando. Então, eu acho que estamos nesse lugar de construir um legado”, afirmou Cavenaghi.
A Fin4She já impactou mais de 15 mil mulheres através da comunidade de sua comunidade, programas online, edições do evento Women in Finance, entre outros meios. Confira o gráfico de diversidade da plataforma:
Para Cavenaghi, é preciso se responsabilizar e efetivamente correr pela mudança. “Daqui a 3 meses ninguém mais se lembrará dessa polêmica e estará tudo bem, mas o que estamos fazendo de efetivo para a mudança?”, indaga.
Em março deste ano, a empresa se uniu com a ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) para oferecer 25 vagas exclusivamente para mulheres pretas e pardas no Young Women Summit, programa de treinamento e formação de mulheres em início de carreira no mercado de capitais.
O programa doou bolsas para as provas de certificação com as qualificações CPA-10, CPA-20 (Certificações Profissionais), CEA (Especialistas em Investimento), CFG (Fundamentos da Gestão), CGA (Gestores ANBIMA) ou CGE (Gestores ANBIMA para Fundos Estruturados).