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Inter (INBR32): BTG mantém recomendação neutra após desaceleração no crescimento

Embora as tendências gerais ainda permaneçam positivas e em linha com os planos de expansão contínua, o desempenho financeiro do banco ficou abaixo das expectativas de analistas do BTG Pactual

Inter (INBR32): BTG mantém recomendação neutra após desaceleração no crescimento

O Banco Inter (INBR32) divulgou um lucro líquido de R$ 243,0 milhões no terceiro trimestre de 2024, o que representa um retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) de 11,30%.

Este valor reflete um crescimento de 18% em relação ao trimestre anterior e impressionantes 166% no acumulado do ano.

No entanto, embora as tendências gerais ainda permaneçam positivas e em linha com os planos de expansão contínua, o desempenho financeiro do banco ficou abaixo das expectativas de analistas do BTG Pactual em alguns pontos cruciais, particularmente devido ao impacto de despesas inesperadas e a desaceleração no crescimento de algumas linhas de negócios.

Expansão do ROE do Inter continua, mas desacelera

Apesar da contínua expansão do ROE, o crescimento foi mais modesto do que o esperado.

Em relatório, os analistas Eduardo Rosman, Ricardo Buchpiguel e Thiago Paura assinalam que as despesas operacionais decepcionaram pela segunda vez consecutiva, e, assim, interromperam uma série de ganhos de eficiência.

A principal responsável por esse cenário foi a incorporação plena da unidade de pagamentos, o Inter Pag.

Mesmo quando excluído este fator, o resultado ainda seria considerado um “desapontamento”.

O lucro antes dos impostos (EBT) registrou uma queda de 1% em relação ao trimestre anterior, e ficou 25% abaixo das projeções do mercado.

No entanto, a taxa de imposto significativamente reduzida ajudou a suavizar esse impacto, que resulta em um “desapontamento” mais ameno, de apenas 7,00% abaixo das nossas estimativas e 4% abaixo do consenso do mercado.

A explicação para essa redução no EBT está relacionada a uma estratégia adotada pelo banco de adquirir títulos estruturados com retorno bruto mais baixo, mas isentos de Imposto de Renda.

Embora essa estratégia tenha diminuído os resultados antes dos impostos, ela também foi responsável por uma redução na carga tributária.

“Portanto, olhar apenas para o EBT pode dar uma visão distorcida do poder de geração de lucro da empresa no 3º trimestre especificamente”, comentam os analistas.

Crescimento dos empréstimos desacelera, mas NIM segue em alta

O crescimento de empréstimos no banco mostrou sinais de desaceleração, com um aumento modesto de apenas 2% em relação ao trimestre anterior, após um crescimento robusto de 7,00% no 2º trimestre.

O total da carteira de crédito atingiu R$ 33,70 bilhões, um crescimento de 25% em relação ao ano anterior, mas ainda assim ficou 5% abaixo das expectativas do mercado.

A maior parte da expansão da carteira foi impulsionada por empréstimos com garantia de imóvel, que cresceram 13,00% no trimestre e 54,00% em relação ao ano anterior, além de empréstimos garantidos pelo FGTS, com um aumento de 12,50% no trimestre e 77,00% na comparação anual.

Por outro lado, observou-se uma desaceleração nas concessões de crédito para PMEs (+5% q/q contra +29,0% q/q no 2º trimestre) e no uso de cartões de crédito (+2,5% q/q contra +4% q/q no 2º trimestre).

Ainda assim, a carteira de crédito ao consumidor, como financiamento via PIX, BNPL e cheque especial, continuou a crescer de forma robusta e ultrapassou R$500 milhões, com um aumento de 52% em relação ao trimestre anterior.

O banco viu um crescimento expressivo na sua base de pré-pagamento de recebíveis de cartões de crédito, que subiu 7,00% em relação ao trimestre anterior e 35,00% em relação ao ano passado, a R$ 38 bilhões.

Com a reprecificação da carteira de crédito e um mix mais rentável de produtos, o NIM (margem líquida de juros) gerencial aumentou 31,50 pontos base em relação ao trimestre anterior, a 8,10%.

Contudo, a receita líquida de juros (NII) ficou 2% abaixo das expectativas, embora tenha apresentado um crescimento de 10% em relação ao trimestre anterior e 39,00% em relação ao mesmo período do ano passado.

Inter registra queda na inadimplência e aumento das provisões para perdas com crédito

A qualidade dos ativos do Banco Inter melhorou, com a taxa de inadimplência (NPL) precoce, ou seja, clientes com mais de 30 dias de atraso, em queda de 30 pontos-base, para 3,6%.

Já a taxa de NPL a 90 dias também apresentou uma queda, de 20 pontos-base, indo para 4,5%.

No entanto, a formação de crédito em Estágio 3 aumentou 20 pontos-base, para 1,90%.

Esse movimento foi impulsionado pela adaptação à Resolução 4966 do Conselho Monetário Nacional (CMN), que estabelece um período mínimo para que carteiras renegociadas permaneçam no Estágio 3.

Esse impacto no portfólio de crédito levou a um aumento nas provisões para perdas com empréstimos, que ficaram 4% acima das estimativas do banco, a R$ 471,0 milhões, o que representa um aumento de 12% em relação ao trimestre anterior e de 16% no comparativo anual.

A cobertura de provisões manteve-se estável, em 130%, e o custo do risco se manteve em 5,10%.

Depósitos crescem fortemente e ganhos por cliente aumentam

A base de clientes do Banco Inter também registrou um crescimento significativo, a 34,90 milhões de clientes, um aumento de 5% em relação ao trimestre anterior e 19% no comparativo anual.

A base de clientes ativos subiu para 19,5 milhões, com uma taxa de ativação que avançou para 55,90%.

Com esse crescimento de clientes, a base de depósitos teve um desempenho robusto, a R$ 39,0 bilhões, um aumento de 9,0% no trimestre e 35,00% no comparativo anual.

Os depósitos a prazo, que somaram R$ 21,2 bilhões, cresceram 13,00% em relação ao 2º trimestre e 40% no acumulado de 12 meses.

Já os depósitos transacionais, uma boa indicação de depósitos à vista, atingiram R$ 15,90 bilhões, com crescimento de 5% no trimestre e 30% no ano.

Apesar do aumento no custo de funding, que subiu para 65,40% no trimestre, o banco manteve um desempenho competitivo no que diz respeito ao custo do CDI, impulsionado pela forte expansão nos depósitos transacionais.

O ARPAC (average revenue per active customer) também teve um crescimento considerável, subiu 5% em relação ao trimestre anterior e se manteve forte, em R$ 47,00.

No entanto, o CTS (custo de captação de clientes) aumentou 13,00% no trimestre, a R$ 12,60 por mês.

Resultados do InterShop e outras verticais

O InterShop, a plataforma de comércio eletrônico do banco, registrou um GMV (volume bruto de mercadorias) de R$ 1,4 bilhão no trimestre, com um crescimento de 22% em relação ao trimestre anterior e de 60% em relação ao ano passado.

A taxa de comissão bruta foi de 13,90%, praticamente estável em relação ao trimestre passado, enquanto a receita líquida gerada pela plataforma foi de R$ 86 milhões, um aumento de 29,00% no trimestre e 14,00% no comparativo anual.

A vertical de investimentos também teve um desempenho impressionante, com ativos sob gestão (AuM) em R$ 122 bilhões, um aumento de 16% no trimestre e 48% no comparativo anual.

A receita líquida gerada pela área foi de R$ 73,0 milhões, com um crescimento de 14% no trimestre e 77,00% no ano.

Já a vertical de seguros, que possui 3,2 milhões de clientes ativos, registrou um crescimento expressivo de 32% no trimestre e 115% no comparativo anual.

No entanto, as receitas líquidas caíram 59,00% em relação ao trimestre anterior e 50% em relação ao ano passado, e fecharam o período com R$ 24 milhões.

Cenário macroeconômico desafiador impõe desaceleração no crescimento, diz BTG Pactual

O atual cenário macroeconômico no Brasil, caracterizado pela inflação elevada e taxas de juros mais altas, além de um aumento nas emissões de renda fixa que afetam os spreads de crédito, tem impactado a estratégia de crescimento do banco.

O aumento das taxas de juros e a desaceleração no mercado de crédito forçam uma abordagem mais cautelosa por parte de bancos como Inter, Nu, Bradesco e Santander.

Embora o Banco Inter tenha se mostrado mais cauteloso, os desafios persistem, com a necessidade de crescer a um ritmo mais acelerado do que os bancos tradicionais para justificar suas altas avaliações.

Apesar de continuar com um crescimento sólido em várias áreas, o Banco Inter enfrenta desafios importantes, especialmente com a desaceleração no crescimento de empréstimos e o aumento nas despesas operacionais.

O ambiente macroeconômico também sugere um período de crescimento mais lento, o que pode afetar o desempenho da instituição no curto prazo.

Como resultado, a recomendação para as ações do banco continua neutra, ao preço de R$ 40,00, com investidores ansiosos por uma maior estabilização da economia e uma melhor gestão das despesas antes de uma possível retomada no ritmo de crescimento.