No início de 2025, uma nova empresa abalou o mercado financeiro e a geopolítica mundial: a DeepSeek. A startup chinesa de inteligência artificial (IA) gerou um debate global sobre o futuro da tecnologia.
O assistente de IA da plataforma ultrapassou o ChatGPT como o aplicativo mais bem avaliado na App Store dos Estados Unidos. O DeepSeek-R1 desafia soluções líderes do mercado, como OpenAI e Meta, com custos muito mais baixos e alta eficiência.
Esse movimento afetou empresas gigantes norte-americanas de tecnologia, como Nvidia, Microsoft e Meta.
As ações da NVIDIA, por exemplo, recuaram 16,86% no dia 27 de janeiro. A queda resultou em uma perda de aproximadamente US$ 589 bilhões em valor de mercado, a maior já registrada em um único dia.
Para Jeff Patzlaff, planejador financeiro CFP e especialista em investimentos, a reação do mercado pode ter sido um exagero. “Embora a DeepSeek tenha demonstrado avanços notáveis, a sustentabilidade e a escalabilidade de seu modelo ainda precisam ser comprovadas, o que deve acontecer em poucos meses”, afirmou.
Com o “efeito DeepSeek”, as ações da empresa brasileira WEG (WEGE3) recuaram 8% no dia 27 de janeiro. O planejador financeiro ainda complementou que o movimento pode favorecer outras empresas do setor.
“Além disso, a redução de custos na IA pode aumentar a demanda por tecnologia, possivelmente beneficiando empresas pelo mundo à fora, incluindo a suas concorrentes como a NVIDIA no longo prazo se não houver falta de fornecedores e matéria-prima”, disse.
O que há de diferente entre a DeepSeek e o ChatGPT?
A DeepSeek lançou um sistema de IA que não apenas compete com modelos como o ChatGPT, mas também introduz funcionalidades únicas. Entre elas está a capacidade de explicar seu processo de tomada de decisão.
Matheus Lima, analista de investimentos e sócio da casa de análise Top Gain, explica que a plataforma foi lançada com uma quantidade muito menor de chips, quando comparada ao ChatGPT.
O analista ressalta que a NVIDIA é a principal produtora dos chips para a criação de inteligência artificial: o H100 e o H200.
No entanto, esses chips são barrados da sua negociação na China e na Rússia por determinação dos Estados Unidos. A ideia é travar a evolução desse tipo de tecnologia nesses países.
Assim, a China possuia o acesso a chips menos potentes para criar algo similar dentro da IA.
“Basicamente, com 3 mil chips mais fracos, eles conseguiram fazer o que o ChatGPT precisou de 16 mil para conseguir. Então isso mostra que a NVIDIA cresceu muito por causa desse aumento na demanda por inteligência artificial, considerando que para conseguir criar uma inteligência artificial de qualidade precisaria daquela quantidade enorme de chips“, pontuou.
China gera desconforto aos EUA, mas traz boas novas para países emergentes
A DeepSeek marcou um novo episódio na corrida pela supremacia tecnológica entre os Estados Unidos e a China. Isso porque com o surgimento da IA, os EUA ficaram receosos com a possibilidade de ficarem “para trás”.
Além disso, no início de fevereiro, dois deputados norte-americanos, Darin LaHood, republicano de Illinois, e Josh Gottheimer, democrata de Nova Jersey, propuseram uma proibição a funcionários do governo de usar o chatbot de IA da startup chinesa em aparelhos oficiais.
Além da preocupação sobre o vazamento de dados, o analista de investimentos pontuou que a atuação da China gerou desconforto nos EUA devido à sua capacidade de gerar produtos semelhantes e com valores ainda mais baratos.
“Os EUA não facilitam para a China e para a Rússia esse tipo de ferramenta, mas é inevitável. Se você tem algo que está dando muito certo, não tenha dúvida de que o chinês vai conseguir dar um jeito de fazer mais barato. Então, com certeza, gera esse desconforto, que era o que os Estados Unidos não queriam, mas é difícil evitar esse tipo de situação“, pontuou.
Para o professor Glauco Arbix, pesquisador do Center for Artificial Intelligence (C4AI) da USP, a DeepSeek abre novos caminhos para países em desenvolvimento.
“Se os países em desenvolvimento conseguirem acelerar sua capacitação em IA, o panorama global pode sofrer uma rápida diversificação, com avanços que vêm da China, mas também de países europeus, dos nórdicos, da Ásia e do chamado Sul Global“, disse, em artigo.