Mulheres de Negócios

Dia Internacional da Mulher: um chamado à igualdade no mercado financeiro

Crédito: Copyright (c) 2018 fizkes/Shutterstock
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Por Márcia Campos

O Dia Internacional das Mulheres, celebrado em 8 de março, tem raízes históricas ligadas à luta das mulheres por melhores condições de trabalho, igualdade salarial e direitos políticos. No início do século XX, a presença feminina no mercado de trabalho era restrita a poucas áreas, com destaque para empregos na indústria têxtil.

Com salários inferiores aos dos homens, jornadas extensas e nenhuma proteção trabalhista, a realidade das mulheres era marcada pela desigualdade — sem contar as horas de trabalho doméstico em suas próprias casas.

Ao longo dos anos, houve avanços na inserção das mulheres no mercado de trabalho brasileiro. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a participação feminina na força de trabalho cresceu de forma significativa nas últimas décadas: em 1970, apenas 18% delas trabalhavam. Nos anos 2000, esse número chegou a 40% e, atualmente, gira em torno de 54%. Mas, apesar desse crescimento, a desigualdade salarial persiste e incomoda.

Segundo o relatório de Transparência Salarial do Ministério do Trabalho e Emprego, publicado em setembro de 2024, as mulheres brasileiras recebem 20,7% menos que os homens.

E no mercado financeiro?

Olhando para o mercado financeiro, sob o aspecto do perfil de seus investidores, essa disparidade também é visível. De acordo com dados da B3, em 2024, o Brasil contava com mais de 6 milhões de investidores pessoa física na bolsa, mas apenas 25,73% eram mulheres. Isso representa apenas 1,5 milhão de CPFs femininos. Para comparação, esse percentual era de apenas 23,77% em 2015, mostrando um avanço ainda tímido.

É louvável que mais de 1 milhão de mulheres tenham começado a investir nos últimos cinco anos, mas a participação feminina segue estagnada nesse quadro, com os homens representando 75% dos investidores.

Outro dado da B3 aponta que, no mesmo período, as investidoras demonstraram menor diversificação de ativos em comparação aos homens.

Ao mesmo tempo, a representatividade feminina na alta administração das empresas também reflete essas barreiras e disparidades. A quarta edição do estudo Mulheres em Ações, realizado pela B3, aponta que mais da metade das empresas listadas na bolsa (56%) não possuem nenhuma mulher na diretoria estatutária, enquanto 37% não têm presença feminina no conselho de administração.

As políticas de igualdade para mulheres mudam o cenário?

Os dados mostram que, mesmo com políticas de incentivo à diversidade, ainda há resistência estrutural à presença feminina nos cargos de tomada de decisão.

Além das dificuldades enfrentadas para ingressar no mercado financeiro, barreiras culturais e a persistente disparidade salarial contribuem para a manutenção desse cenário desigual.

O histórico de menor renda faz com que as mulheres tenham menos recursos disponíveis para investir, enquanto a falta de representatividade nos ambientes corporativos e financeiros reduz a confiança na tomada de decisões financeiras.

A equidade de gênero no mercado de capitais e no ambiente corporativo é uma questão que precisa ser resolvida. Para que a participação feminina cresça de forma significativa, é necessário combater as desigualdades estruturais e criar mecanismos que incentivem a presença de mulheres tanto como investidoras quanto em cargos de liderança.

Enquanto isso, o Dia Internacional das Mulheres continuará sendo um dia de luta contra as dificuldades enfrentadas, em vez de uma celebração das conquistas alcançadas.

*Márcia Campos é economista e membro independente do conselho administrativo da Fictor Alimentos S.A