Resultado amargo

Ações da Natura (NTCO3) despencam 25% com balanço do 4° tri abaixo das expectativas — veja como o BTG Pactual avalia o desempenho

Banco reconhece esforços da companhia para simplificar sua estrutura e melhorar margens operacionais, mas aponta que processo de reestruturação ainda indica riscos

Natura - NTCO3
Foto: montagem/JC-SM

As ações da Natura (NTCO3) operam em queda livre nesta sexta-feira (14), após a companhia apresentar seus resultados financeiros do 4° trimestre, que vieram abaixo das expectativas. Por volta das 11:05, os papéis caíam 25,59%, cotados a R$ 10,09.

Isso porque, embora a empresa tenha exibido um crescimento expressivo nas vendas da marca Natura no Brasil e na América Latina, os números foram prejudicados por maiores despesas administrativas (G&A) e uma margem bruta mais fraca.

Na visão do BTG Pactual, os resultados foram “poluídos” pela reincorporação da Avon International após o processo de recuperação judicial (Chapter 11).

Diante disso, o banco mantém a recomendação ‘neutra’ para as ações NTCO3, com preço-alvo de R$ 18,00, o que indica um potencial de valorização de mais de 40% em relação ao preço atual.

“Reconhecemos os esforços da companhia em simplificar sua estrutura e melhorar margens operacionais, mas o processo de reestruturação em curso ainda apresenta riscos significativos”, comenta o BTG.

Como o BTG Pactual avalia o desempenho da Natura no 4° trimestre?

Ao observar o balanço da Natura, entre os destaques positivos, o BTG aponta que as vendas da marca Natura no Brasil cresceram 21% em relação ao ano anterior, enquanto em outros mercados da América Latina avançaram 33% (excluindo Argentina, que apresentou crescimento em dígitos baixos de dois dígitos).

Por outro lado, a divisão Avon LatAm segue em dificuldades.

As vendas de produtos de beleza da Avon no Brasil caíram 1% em relação ao ano anterior, acumulando uma queda de 11% no trimestre anterior (4T23).

Além disso, a receita do segmento Home & Style despencou 25% na região.

Segundo BTG, um dos principais fatores que pressionaram os resultados foi o aumento significativo das despesas administrativas.

“As despesas com G&A subiram para 12,2% da receita líquida, um aumento de 510 pontos-base em relação ao ano anterior”, destaca o banco.

O BTG explica que a reclassificação de investimentos em TI e sistemas de capital (capex) para despesas operacionais (opex) gerou um impacto negativo de R$ 108 milhões no trimestre.

Enquanto a margem bruta (excluindo a Avon International) caiu 20 pontos-base em relação ao ano anterior, atingindo 63,2%.

Segundo o BTG, a combinação de uma maior participação da categoria de presentes – que possui margens estruturalmente mais baixas – e os esforços promocionais táticos contribuíram para essa queda.

Redução de custos e alívio no resultado líquido

Apesar da pressão sobre a margem, o BTG destacou que houve melhorias na eficiência de vendas: “As despesas com vendas na América Latina representaram 45% da receita líquida, uma redução de 300 pontos-base em relação ao ano anterior”.

A integração do projeto Wave 2 gerou economias em logística e custos de crédito e cobrança, permitindo maiores investimentos em marketing.

No resultado financeiro, houve alívio devido à redução de despesas financeiras líquidas, que somaram -R$ 66 milhões, uma queda expressiva em relação aos -R$ 284 milhões do 4T23. Esse desempenho teve benefícios por ganhos cambiais e com derivativos.

Nesse sentido, a expectativa do BTG é que a simplificação da estrutura corporativa, aliada à recuperação gradual da Avon na América Latina, possa destravar valor nos próximos trimestres.

Entretanto, o banco reforça a necessidade de monitorar os impactos contínuos da reclassificação de despesas e as condições macroeconômicas na região.