A Moody’s Ratings manteve inalteradas as suas avaliações sobre a Azul (AZUL4), com uma nota de Caa2 para a classificação de família corporativa (CFR), Caa1 para a dívida senior garantida de primeiro grau e Caa2 para as dívidas senior garantidas da Azul Secured Finance LLP (Delaware), além da nota Caa3 para as dívidas senior não garantidas da Azul Investments LLP, com perspectiva negativa.
Essas classificações permanecem as mesmas após o anúncio da empresa de uma oferta de troca para suas notas de 2028, 2029 e 2030.
A Moody’s, em seu comunicado, afirmou que “a perspectiva negativa reflete o perfil de liquidez apertado da Azul e a dependência da empresa de novas renegociações com locadores ou de novas iniciativas de refinanciamento que poderiam ser consideradas trocas distantes para evitar um possível default.”
A agência de classificação de risco alertou que pode rebaixar a classificação da Azul se a situação de liquidez da empresa piore. “Podemos rebaixar as classificações da Azul se as preocupações com a liquidez se intensificarem ou se a empresa não conseguir fortalecer seus indicadores financeiros, o que aumentaria o risco de inadimplência em suas obrigações financeiras.”
No entanto, a Moody’s também destacou que “um upgrade nas classificações da Azul dependeria de uma melhoria significativa na sua estrutura de capital, de uma demanda sustentada de passageiros superior aos níveis pré-pandemia e da manutenção de liquidez adequada, com o caixa consistentemente superior a 15% da receita.”
Além disso, a agência também afirmou que seria necessário que a Azul continuasse a melhorar sua estrutura de capital e mantivesse índices financeiros saudáveis para um upgrade em suas classificações: “Para um upgrade, seria necessário que a Azul mantivesse uma estrutura de capital mais sólida e mantivesse uma liquidez adequada, com o caixa acima de 15% da receita e uma redução no endividamento com o índice de dívida/EBITDA abaixo de 6x.”
ℹ️ A classificação Caa2 da Moody’s pertence ao grau especulativo e indica que o título ou obrigação apresenta uma condição financeira fraca. Esse rating sugere um risco elevado de inadimplência, ou seja, a probabilidade do emissor deixar de cumprir com os pagamentos prometidos é significativamente alta.
A escala de ratings de longo prazo da Moody’s vai de Aaa (qualidade mais alta) até C (a mais baixa). Dentro do grupo Caa (Caa1, Caa2 e Caa3), o Caa2 está no nível intermediário, sinalizando que os títulos classificados nessa faixa são altamente vulneráveis e apresentam uma qualidade de crédito muito baixa.
A troca de dívida da Azul
Em 18 de dezembro, a Azul anunciou uma oferta de troca e solicitação de consentimento como parte de sua reestruturação de dívida.
O acordo envolve uma troca das notas de US$ 807 milhões (cerca de R$5 bilhões) com vencimento em 2029 e 2030, em que os detentores das notas irão converter imediatamente 10% do valor principal das notas em ações e 52,5% em um novo instrumento conversível com taxa de juros de 10% (4% em pagamento em dinheiro e 6% em PIK – Payment in Kind).
Com a emissão de uma nova nota de superprioridade no valor de US$ 100 milhões, a Azul poderá converter um adicional de 25% do valor principal das notas em ações, e em uma futura aumento de capital, poderá converter os 12,5% restantes.
O preço de conversão das ações será baseado no valor de mercado das ações da empresa, acrescido de um desconto.
Além disso, a Azul anunciou uma oferta de troca para suas notas de aproximadamente US$ 1 bilhão com vencimento em 2028, nas quais os detentores trocarão as notas por novos títulos com termos semelhantes aos anteriores.
O acordo exigirá que os investidores aceitem a cessão do negócio de carga da Azul como garantia, além do empenho da garantia das notas de 2028 para as novas notas de superprioridade, que terão prioridade de pagamento sobre as outras.
Essas ofertas fazem parte de um esforço mais amplo para reestruturar a dívida da Azul, melhorar sua estrutura de capital e sua liquidez.
A Azul também anunciou acordos com um grupo ad hoc de credores para fornecer até US$ 500 milhões por meio da emissão de notas de superprioridade, sendo US$ 150 milhões já disponibilizados em outubro de 2024, com mais US$ 250 milhões esperados para janeiro de 2025, além de um adicional de US$ 100 milhões, condicionado a economias anuais de pelo menos US$ 75 milhões nos anos de 2025 a 2027.
Essas trocas de dívidas visam aliviar as necessidades de caixa da Azul no médio prazo e resultarão em uma redução da dívida total da empresa, com a conversão de até US$ 807 milhões de dívidas existentes em ações, o que também implicará numa redução anual de quase US$ 100 milhões nos pagamentos de juros.
A posição de caixa da empresa será fortalecida com os novos US$ 400 milhões oriundos das notas de superprioridade, podendo chegar a até US$ 500 milhões caso as condições de economias sejam atingidas.
Apesar dessas medidas, os riscos de liquidez da Azul permanecem elevados, com um balanço altamente alavancado.
A companhia gerou um EBIT de R$ 3,2 bilhões nos últimos 12 meses, mas enfrentou um consumo de caixa acumulado de R$ 260 milhões no mesmo período.
A posição de caixa da empresa caiu de R$ 1,9 bilhões no final de 2023 para R$ 1,1 bilhões em setembro de 2024, e ainda há cerca de R$ 4,5 bilhões em obrigações financeiras e de arrendamento com vencimento até o final de 2025, após a conclusão das transações.