
O dólar comercial operava em forte alta na manhã desta quarta-feira (9), avançava 1,12% e atingia R$ 6,064 por volta das 9:12.
O movimento de valorização da moeda norte-americana reflete o aumento da aversão ao risco nos mercados internacionais, impulsionado pela escalada da guerra comercial entre Estados Unidos e China.
A busca por ativos considerados mais seguros, como o dólar, tem pressionado o câmbio global.
A tensão ganhou novo capítulo após o governo dos EUA anunciar uma tarifa de 104% sobre produtos chineses.
A medida, implementada pelo ex-presidente Donald Trump, adicionou uma nova camada de risco aos mercados financeiros.
Em resposta, a China retaliou com uma tarifa de 84% sobre itens americanos.
A escalada tarifária ampliou temores de recessão global e aumentou a pressão sobre a inflação nos EUA, o que afeta diretamente as expectativas para a política monetária norte-americana.
Embora o dólar seja tradicionalmente visto como um “porto seguro” em momentos de incerteza, sua valorização neste cenário não indica confiança na economia norte-americana, mas sim preocupação com os efeitos adversos da política tarifária.
Analistas destacam que os custos adicionais com importações tendem a ser repassados aos consumidores, o que eleva os índices inflacionários.
Mercado acompanha o Federal Reserve e aguarda novos indicadores de inflação nos EUA
Investidores monitoram atentamente a ata da reunião de março do Federal Reserve (FED), divulgada nesta quarta-feira (9) às 15:00.
A expectativa gira em torno da postura da autoridade monetária diante dos próximos indicadores de inflação — o CPI (Índice de Preços ao Consumidor) e o PPI (Índice de Preços ao Produtor).
Caso os dados mostrem avanço nos preços, o FED pode optar por uma abordagem mais agressiva ou mais cautelosa, considerando os riscos de recessão. Essa incerteza contribui para a volatilidade no mercado de câmbio.
O diferencial de juros entre Brasil (14,25%) e EUA (4,25% a 4,50%) pode limitar perdas adicionais do real frente ao dólar.
Indicadores econômicos no Brasil
No cenário doméstico, os investidores acompanham os dados divulgados nesta terça-feira (8) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) apontou um aumento de 0,5% nas vendas do varejo em fevereiro, o maior nível da série histórica iniciada em 2000.
O índice voltou a crescer após quatro meses de estabilidade.
Já o Índice de Preços ao Produtor (IPP) registrou queda de 0,12% em fevereiro frente a janeiro, e encerrou uma sequência de doze altas consecutivas. O IPP acumulou alta de 9,41% em 12 meses, com variação positiva de 0,03% no ano.
Além disso, o mercado acompanha com atenção a reunião marcada para as 11:00 entre o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, e os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Rui Costa (Casa Civil) e Luiz Marinho (Trabalho), que pode sinalizar novas medidas econômicas.
Impacto da guerra comercial no Brasil
As tarifas de 104% aplicadas por Trump aos produtos chineses e a resposta da China com alíquota de 84% sobre importações americanas intensificam o temor de recessão global.
O conflito comercial também gerou reações de outros países: o Canadá passou a cobrar tarifa de 25% sobre veículos dos EUA, enquanto a União Europeia avalia contramedidas à tarifa de 20% imposta por Washington.
No início, o Brasil chegou a ver oportunidades, sobretudo no agronegócio, diante da alíquota mínima de 10%.
No entanto, o aprofundamento das tensões comerciais elevou a insegurança nos mercados e levou o dólar de volta ao patamar de R$ 6.
O tema dominou discussões em painel do Bradesco BBI, que reuniu investidores, gestores e empresários em São Paulo.
A avaliação unânime foi de que o Brasil não vai sair ileso, diretamente impactado por uma desaceleração da economia chinesa.
Efeitos nos EUA e projeções para a economia local
A imposição de tarifas elevadas levou investidores a projetarem uma chance superior a 50% de que o FED volte a cortar os juros já em maio.
A mudança de percepção reflete preocupações com uma recessão iminente.
Agências de classificação de risco também se manifestaram: a Fitch Ratings alertou que o avanço das tarifas pode dificultar novos cortes de juros, enquanto a Moody’s apontou que o cenário já derrubou as Bolsas e freou investimentos.
O Morgan Stanley revisou suas estimativas para o PIB dos EUA, e projeta crescimento de apenas 0,8% em 2025 e 0,7% em 2026.
Robin Brooks, do Goldman Sachs, classificou as tarifas de Trump como “debilitantes” e alertou para o risco de choques extremos nos mercados.
A BlackRock, por sua vez, reduziu sua exposição a ações americanas de “acima da média” para “neutra”, e adotou uma postura mais cautelosa no curto prazo, embora mantenha otimismo no longo prazo.
Recessão à vista na Zona do Euro?
A União Europeia também está no radar da crise comercial. Economistas da Pantheon Macroeconomics avaliam que as tarifas de 20% impostas pelos EUA podem levar a Zona do Euro à recessão. O colapso na confiança dos investidores já se reflete em retração econômica.
Em coletiva realizada na terça-feira (9), Trump afirmou que a UE precisa se comprometer a comprar US$ 350 bilhões em energia dos EUA para obter alívio nas tarifas.
Questionado se isso seria suficiente para recuar, ele foi categórico: “Não”.
A resposta veio após a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, propor a eliminação das tarifas sobre carros e produtos industriais, desde que Washington fizesse o mesmo.
Com o aumento da incerteza global, os mercados seguem atentos a novos desdobramentos na política comercial dos EUA e às respostas dos principais blocos econômicos mundiais.