Chegamos a um ano de Open Banking (agora Open Finance) no Brasil. E aí?
Olhando de relance para os números, até pode parecer que ainda caminhamos a passos lentos: em fevereiro, quando o processo completou um ano, o Brasil tinha cerca de 5 milhões de consentimentos para o compartilhamento de dados financeiros entre instituições.
Esse número pode não ser expressivo diante do número total de adultos do país: são 159,1 milhões (cerca de 34 milhões não têm conta bancária, de acordo com o Banco Central). Mas colocar este dado em perspectiva em relação, por exemplo, ao Reino Unido, que teve cerca de 3 milhões de consentimentos entre 2018 e 2021, nos ajuda a perceber o potencial de crescimento que ainda temos por aqui.
E tudo indica que estamos no caminho para chegar lá: em março, foram 204,3 milhões de chamadas de APIs no Brasil, um aumento de 111,9% em relação ao mês anterior, de acordo com estudo da Bip, divulgado pelo Valor Econômico.
A estrada para o sucesso está trilhada e, ao apontar gargalos e desafios para chegar lá, precisamos dividí-los em duas categorias: o trabalho técnico e a adoção pelo consumidor.
Do lado da infraestrutura, estamos vendo alguns obstáculos de integração que ainda vão se corrigir, como por exemplo a categorização dos dados que circulam entre as instituições financeiras. Felizmente, temos players de extrema qualidade, além do apoio do Banco Central, para que essas questões se resolvam, e estamos aprendendo juntos.
Em termos de cobertura, ainda não contamos com toda a oferta possível: há players relevantes no mercado que, por contarem com adoção voluntária, ainda não entraram na fase 2 da implementação, e portanto ainda não permitem o compartilhamento, como o Banco Inter e Nubank. Com certeza veremos um aumento significativo no número de consentimentos depois que instituições como essas aderirem.
Mas nosso desafio principal está no lado do consumidor: ainda há pouca compreensão sobre tudo que o Open Finance pode significar em termos de praticidade e acesso para a população.
É preciso conquistar o consumidor
Sabemos que, quando o valor do compartilhamento de dados pelo usuário final é percebido claramente, a taxa de conversão é alta: é o que acontece, por exemplo, quando uma pessoa tem a opção de substituir o processo de oferecer suas informações de forma manual, com o envio de diversos documentos, por simplesmente conectar com a instituição e fazer rápida e automaticamente a transmissão de dados que precisa.
No momento, estamos vendo bancos tentando convencer os usuários a compartilhar suas informações com a proposta de “ofertas de serviço personalizadas”, mas, em muitos dos casos, esse usuário irá conectar a conta e terminou. Ele não recebe, por exemplo, um e-mail do banco explicando exatamente o que isso significa, qual é a vantagem palpável da ação que acabou de tomar. Essa é uma questão que, se não corrigirmos cedo, pode ficar registrada de maneira negativa na mente das pessoas.
Os benefícios oferecidos a esse cliente podem ser variados, desde uma simples opção de cashback ao fazer a conexão até uma oferta de empréstimo mais barato ligada aos dados, mas o usuário tem que perceber de maneira mais clara o que ganha ao compartilhar suas informações.
O último ponto fundamental na jornada até o coração do brasileiro é comunicar com clareza a questão da segurança da informação. Desenvolver um ambiente extremamente seguro para lidar com dados financeiros é uma prioridade para players que desenvolvem soluções de Open Finance, como é o caso da Belvo, que conta com a certificação ISO 27001, e a preocupação com este aspecto precisa estar clara para que o consumidor final escolha dividir suas informações. Felizmente, contamos também com aliados importantes na conscientização pública, incluindo o esforço do Banco Central e a própria LGPD, que facilitam a confiança na proteção de dados.
Acredito, por fim, que veremos um salto importante no número de consentimentos com o aumento do ecossistema de pagamentos. Nesta fase, o usuário poderá fazer a movimentação de dinheiro sem sair do aplicativo em que está — por exemplo, um gerenciador de finanças pessoais, como o Mobills — e ter que abrir o programa do banco.
Depois deste breve panorama, é evidente que, apesar dos desafios que ainda enfrentamos, o alinhamento de todos esses fatores contribui para que tenhamos um landscape extremamente favorável para o Brasil. E, ainda, temos outra vantagem fundamental, que é já estarmos começando com o Open Finance de maneira completa. Isso não aconteceu nos outros países, que avançaram a passos mais lentos, e essa vantagem deverá resultar em ofertas muito mais poderosas e abrangentes para o consumidor – o que ajudará a tornar o Brasil uma referência na implementação do Open Finance para a América Latina e o mundo.
Até que não estamos tão mal.
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