sexta, 29 de março de 2024
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Cortar ou não a pizza, eis a questão

27 agosto 2020 - 20h24Por Juliana Chini

Conforme o pôr do sol se aproximava, o céu ficava com um esplendor de cores, como se realizasse um convite para admirá-lo nas calçadas de Piracicaba. Enquanto o calor do dia começava a se apaziguar, os bares universitários da tradicional Av. Carlos Botelho, carinhosamente apelidada de B.O., colocavam suas mesas, cadeiras e banners com a promoção do dia, enquanto os estudantes começavam a reunir após um dia lotado de aulas, provas e estágios.

"Hoje o litrão está R$3,59", disse uma amiga enquanto eu desviava o olhar do bar na tentativa em vão de ir para a academia. “E é double até as 20h!”

“Tudo bem, vamos parar para tomar só dois”, respondi.

“Claro, só dois”.

Eu conto ou vocês contam?

Conforme eu estudava nos livros sobre o que é inflação, políticas e crises inflacionárias e como o Banco Central tentava contê-la, assistia a meu poder de compra para entretenimento diminuindo e a fatia de pizza desse tipo de gasto aumentando conforme visualizava no gráfico do aplicativo.

Como comentei, não podia cortar os custos fixos relacionados à moradia; e, depois de organizar aqueles desnecessários com bancos e tarifas bancárias, chegou o momento do lazer.

Assim, começa um dos grandes dilemas do jovem brasileiro:

Economizar para aproveitar ou aproveitar enquanto pode?

Como economista e libriana que adora encontrar os amigos, eu sou a favor do equilíbrio. Logo que eu vi que estavam elevados os gastos com bares, restaurantes, mercado e entretenimento, de forma geral, e que eu precisaria reduzi-los para aumentar a minha reserva mensal, um amigo me alertou: “Juh, cuidado para só focar no dinheiro e esquecer de viver”.

Hoje, presa em casa devido ao isolamento, só consigo me recordar dos momentos que aproveitei nas festas, nos bares e com as pessoas que não estão mais conosco e pensar “que bom que eu curti”.

Não quero passar a ilusão de que é o dinheiro é essencial para aproveitar a vida, pois entraria em uma discussão sobre materialismo que não é o foco aqui. Porém, novamente, sou contrária à visão romantizada de enriquecimento e argumentos como o de que o jovem pode trocar lazer por estudos. 

“Você pode trocar uma hora de streaming de séries por uma hora de estudos”, li outro dia em uma rede social. Ora, que o tempo está cada vez mais escasso a ponto de considerar cada hora um eterno trade-off, entendemos. Mas o lazer também é importante para a saúde mental e, depois de um dia estudando ou trabalhando dez horas, mais a exaustiva logística, o lazer se torna prioritário.

A socialização também foi um fator importante para o desenvolvimento do cérebro, assim que nossos ancestrais homens das cavernas começaram a se reunir em torno do fogo e se organizar para as caçadas. Mas isso é assunto para discutir em mesa de bar.

Cortar ou não? Eis a questão!

Sendo necessário o corte para honrar todos os pagamentos e conseguir fazer uma reserva, a minha sugestão é: imponha um limite. Lembra que eu comentei, no artigo anterior, que foquei os gastos no cartão de crédito? Pois bem, a fatura é mensal e dela eu quebrei o valor do limite que estabeleci em um orçamento semanal, já considerando um “up” aos finais de semana. 

Exemplo: se eu impuser que o limite de gastos com fatura é de R$ 2.000, isso significa que semanalmente possuo R$ 500. Desses R$ 500, deixo R$200 para o final de semana e os demais para durante, lembrando que contempla mercado, assinaturas e outras compras, como roupas, livros e cursos.

Saber até quanto pode gastar nos finais de semana ajuda a manter o controle. E se gastar a mais em um, já sabe que no próximo vai ser necessário trocar a cerveja artesanal pelo litrão. Hoje, isolada em casa, eu não abro mão do streaming de filmes e séries, mas vou contar como administrei minhas assinaturas no próximo artigo.

Vai cortar entretenimento? Tenha responsabilidade e priorize o que é mais importante para você no momento. O importante é manter o equilíbrio, conhecer e respeitar os seus limites. 

Cheers!