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Crédito se recupera com tecnologia reconectando oferta e demanda

03 julho 2020 - 15h26Por Breno Costa

Considerando que um dos efeitos da pandemia foi aumentar a necessidade de crédito para um número maior de pessoas, como explicar que nesse período houvesse queda nos volumes de créditos concedidos? Aparentemente estavam postas as condições ideais para o crescimento dos empréstimos, uma vez que havia muita gente precisando e, por outro lado, um mercado ávido por negócios.  Apesar disso, quando observados mais de perto, os efeitos do coronavírus criaram uma barreira no fluxo desse segmento. Grande parte dos varejistas, por exemplo, tinha como estratégia oferecer crédito dentro da própria loja, mas o fechamento das portas por conta das regras de isolamento social estabeleceu a impossibilidade de usar esse canal. Em outras palavras, se estabeleceu aí o desencontro entre oferta e demanda, criando o momento de maior apreensão no setor. Isso fica claro quando observamos a evolução do Índice Neurotech de Demanda por Crédito (INDC), que mensura o comportamento das consultas ao data center da Neurotech, empresa de soluções de inteligência artificial aplicadas à concessão de crédito. Como pode-se observar no gráfico abaixo, a procura por crédito caiu 8% em fevereiro (esperado para o carnaval), 11% em março e 20% em abril. A julgar por esse cenário, parecia que o período de vacas magras se estenderia por um longo prazo, mas surpreendentemente não foi o que ocorreu. Logo no mês seguinte o INDC detectou uma melhora significativa, com um crescimento de 11% em maio. Fonte: Neurotech Além da gradual reabertura de algumas cidades, essa rápida inversão de expectativa pode ser explicada também por um dos efeitos causados pela pandemia, que é a aceleração dos processos de digitalização das empresas. Ao constatarem que não conseguiriam conceder crédito nos volumes esperados em suas lojas físicas, os varejistas reinventaram seus processos e desenvolveram diversas formas de conceder acesso ao crédito por meios digitais. Em outras palavras, se reestabeleceu aí a conexão entre oferta e demanda. Na prática, a pandemia não está proporcionando bem uma transformação digital, mas sim uma aceleração digital tão intensa que os últimos três meses podem ter significado a concretização de processos inicialmente imaginados para ter seu ciclo completado em três anos. A Inteligência Artificial é uma das tecnologias que mais está sendo acelerada neste período. Exemplos como este da desconexão momentânea entre as partes mostraram para as empresas que elas terão que efetivamente, e o mais rápido possível, colocar o cliente no centro das decisões. Só assim será possível entregar a ele, por meio de uma experiência digital, exatamente aquilo que deseja. Ícones como Amazon e Netflix apontam o caminho para o sucesso nessa jornada e o mercado de crédito terá que seguir. Não só para ampliar o volume de concessões, mas também para engajar e reter clientes. Estamos falando de um ambiente com altíssimo grau de automação, baseado em sistemas sofisticados e processos analíticos que envolvam inteligência artificial, redes neurais e a captura de dados junto a inúmeras fontes autorizadas, públicas e privadas. Essas coisas não são exatamente novidades. Os especialistas e profissionais da área sabiam que chegariam. A única novidade é a velocidade com que isso aconteceu, ou está acontecendo. O senso comum trabalhava com este cenário para o médio prazo, mas pelo visto, se não quiser perder a conexão entre oferta e demanda, a indústria de crédito terá que continuar acelerando o máximo possível.