O filme Emilia Pérez, dirigido pelo cineasta francês Jacques Audiard, chegou ao circuito cinematográfico cercado de grandes expectativas. Premiado em Cannes, vencedor do Goya e dono de quatro Globos de Ouro, o longa também acumulou impressionantes 13 indicações ao Oscar.
No entanto, a produção musical policial parece estar enfrentando um cenário complicado, com bilheteria abaixo do esperado, baixa adesão à trilha sonora e uma série de polêmicas que abalaram seu favoritismo na temporada de premiações.
Jean Werneck, crítico colaborador do portal No Sofá com Gatos, aponta que “o caso de Emilia Pérez é interessante, porque, apesar das pessoas estarem falando do filme, elas não estão necessariamente assistindo ao filme“. Esse fenômeno reflete diretamente no desempenho do longa nas bilheteiras.
Custos elevados e retorno decepcionante
Com um orçamento de US$ 24 milhões, Emilia Pérez foi adquirido pela Netflix (NFLX34) por US$ 12 milhões, com um forte investimento em marketing e campanhas para premiações.
Apesar disso, o longa não conseguiu atrair o público para os cinemas e ficou fora do ranking dos dez filmes mais assistidos no período de 6 a 9 de fevereiro, de acordo com dados da Comscore.
No Brasil, estreou apenas na 12ª posição nas bilheteiras, um resultado muito abaixo das projeções iniciais.
Além da fraca arrecadação, as músicas do filme, que desempenham um papel essencial na narrativa, também não alcançaram o sucesso esperado nas plataformas de streaming.
O baixo consumo das canções agrava ainda mais o impacto econômico do longa, que dependia de um forte apelo musical para ampliar sua rentabilidade.
Werneck ressalta que “os números, é claro, são um reflexo das polêmicas que dominaram as redes nas últimas semanas“. Isso inclui declarações da protagonista Karla Sofía Gascón e do diretor Jacques Audiard, além das críticas à representatividade trans no filme.
Polêmicas e queda de favoritismo
O filme, que inicialmente se consolidou como um dos favoritos da temporada de premiações, perdeu força após controvérsias envolvendo sua protagonista, Karla Sofía Gascón.
Declarações antigas da atriz nas redes sociais foram resgatadas, causando grande repercussão negativa. O próprio Jacques Audiard, que antes demonstrava entusiasmo com sua protagonista, teria se afastado dela após as polêmicas.
Além disso, Emilia Pérez foi alvo de críticas no México, país onde se passa a história, por não ter sido filmado em solo mexicano.
A ausência de atores mexicanos no elenco principal também gerou incômodo, levando às críticas sobre representatividade e apropriação cultural.
Outro ponto delicado foi a abordagem da transição de gênero da protagonista, que causou debates entre ativistas trans.
Recepção negativa do público com Emilia Pérez
Se a crítica especializada ainda demonstra certo entusiasmo pelo longa, o mesmo não pode ser dito do público. No IMDb, Emilia Pérez recebeu uma das piores avaliações de um indicado a Melhor Filme desde 1935, com uma média de 6/10.
No Rotten Tomatoes, a taxa de aprovação do público é de apenas 23%, muito inferior aos demais concorrentes na categoria de Melhor Filme, que variam entre 75% e 99%.
A queda de popularidade do longa também ficou evidente no México. Antes da estreia no país, a nota do filme no Rotten Tomatoes era de 75%. Após a chegada ao público mexicano, caiu drasticamente, demonstrando a frustração com a forma como a cultura local foi retratada.
Jean Werneck pontua que “como estratégia, a Netflix tirou Gascón dos holofotes da imprensa e pôs Zoe Saldanã na linha de frente da divulgação da obra“. A mudança reflete uma tentativa de contornar as controvérsias e manter o apelo do filme na temporada de premiações.
Ainda assim, ele ressalta que é essencial que cada espectador assista ao filme antes de formar sua opinião. “Os bastidores importam, mas a experiência cinematográfica não pode ser substituída por opiniões da internet“, conclui.