Economia

Ao final de 2023, avaliação do mercado sobre Lula e Haddad é positiva

Analistas financeiros acreditaram que o período seria marcado por pouco embasamento técnico na economia, mas se surpreenderam ao longo do ano

Lula e Haddad
Haddad cumprimenta Lula em sua cerimônia de posse como ministro da Fazenda - Foto: Ricardo Stuckert/PR

2023 marcou o primeiro ano do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e atraiu para si um extremo pessimismo do mercado financeiro em relação ao governo do petista. 

De forma geral, analistas acreditaram que o período seria marcado por interferência em estatais, pouca preocupação com arcabouço fiscal e gastos desenfreados. 

Apesar disso, ao final deste ano de movimentações do governo Lula e, principalmente, do Ministério da Fazenda, esta visão parece ter mudado.

Para Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, o presidente permitiu que a equipe econômica trabalhasse com uma liberdade relevante. 

“Tivemos ao longo do ano um bom diálogo [do presidente] com o mercado. Outro destaque foi a melhora da relação institucional com o Banco Central. Inclusive, o atual diretor de política monetária fez uma ponte muito interessante na construção de credibilidade que antes o mercado não dava para ele”, pontua Spiess. 

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), passou por uma verdadeira prova de fogo neste ano. Quando indicado ao cargo pelo presidente Lula, o ceticismo do mercado em relação ao seu embasamento técnico foi motivo de preocupação. 

Ao longo do primeiro ano à frente do Ministério da Fazenda, o ministro conseguiu alcançar algumas “vitórias” como a aprovação da reforma tributária, medidas para aumentar a arrecadação e um novo marco fiscal. Além disso, também defendeu o controle do déficit e equilíbrio das contas públicas.

“Haddad mostrou habilidade em se relacionar com várias frentes, inclusive com o mercado financeiro. O principal atributo de Haddad é essa flexibilidade para conseguir endereçar temas polêmicos e arbitrar com habilidade estes conflitos”, pontua Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação para investidores. 

O especialista afirmou que o ministro da Fazenda deixou de ser uma “preocupação” e conseguiu alcançar credibilidade neste primeiro ano de gestão. 

“A reforma tributária foi uma conquista […] a expectativa do mercado é que no médio e longo prazo isso se converta em benefícios para a economia”, afirma.

O que esperar para 2024?

Para Matheus Spiess, 2024 deve ser um ano relativamente mais fraco devido ao período eleitoral, mas a agenda fiscal continuará sendo importante. O analista não acredita que a reforma administrativa virá no próximo ano, mas pontua que o período deve ser marcado por discussões em torno do projeto. 

Spiess ressalta que deve haver atenção em torno dos debates sobre a reforma tributária, que será pauta de discussão para as leis complementares que vão reger o funcionamento da estrutura aprovada no ano atual. 

O especialista em renda fixa da Quantzed, Ricardo Jorge, pontua que o Ministério da Fazenda deve permanecer na mesma trajetória ao longo de 2024 e buscar os números necessários para entregar as metas de superávit

Recentemente, a agência de classificação de risco S&P melhorou a nota de crédito do Brasil. O país saiu da nota BB-, três níveis abaixo do grau de investimento, para a nota BB.

O governo federal estima que o crescimento de 2023 seja de 3%. No entanto, a atividade deve ser menor ano que vem. No início do mês, quando os dados do PIB do terceiro trimestre foram divulgados e mostraram uma alta de apenas 0,1%, o ministro da Fazenda reafirmou a projeção de crescimento de 3% e disse esperar 2,5% para 2024. 

Segundo projeções da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o PIB brasileiro deve crescer 1,8% em 2024. 

O presidente Lula, por sua vez, afirmou que a instituição se enganou e o país registrará um avanço maior ao final do próximo ano.