Economia

Apostadores em bets têm risco de crédito maior, afirma Galípolo em CPI

Impacto é direto na atividade econômica e na avaliação de crédito dos bancos

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Gabriel Galípolo

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou nesta terça-feira (8), durante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado sobre apostas virtuais, que pessoas que apostam em sites de jogos online – as chamadas bets – apresentam risco de crédito significativamente maior do que aquelas que não apostam.

Segundo ele, o dado é resultado de um levantamento feito pela própria instituição.

“Concluímos que as pessoas que realizam apostas apresentam um risco de crédito significativamente maior do que as que não realizam apostas, mesmo quando controlados fatores como faixa de renda e risco de operação de crédito subjacente”, explicou Galípolo aos senadores.

O presidente do BC também ressaltou que a supervisão da autoridade monetária envolve a fiscalização dos controles de instituições financeiras e de pagamento, especialmente em relação a práticas como “conheça seu cliente” e “conheça seu parceiro de negócios”.

Segundo ele, o monitoramento de indícios de transações suspeitas faz parte do Plano de Ação de Supervisão (PAS), e as operações com apostas ilegais são apenas uma parte desse trabalho.

Apostas afetam a economia e score de crédito

Galípolo explicou que o Banco Central começou a investigar o segmento após notar um descompasso entre o aumento da renda das famílias e o destino desse dinheiro.

Parte significativa da renda não estava sendo direcionada nem para o consumo nem para a poupança. Foi então que surgiu o alerta: o dinheiro estava sendo canalizado para sites de apostas.

“Alguns participantes do mercado já haviam nos alertado que fluxos financeiros para sites de aposta estavam se tornando significativos, com potencial impacto na atividade econômica”, afirmou.

Esse comportamento, segundo ele, passou a afetar também a forma como o sistema financeiro analisa pedidos de crédito.

“Sim, os estudos já revelam que os apostadores costumam ter uma avaliação de crédito pior. Isso passou a ser considerado no score de crédito, na análise que os bancos fazem ao conceder empréstimos”, disse.

Impacto maior entre os mais pobres

De acordo com o estudo “Análise técnica sobre o mercado de apostas online no Brasil e o perfil dos apostadores”, publicado pelo Banco Central em 2023, as famílias de baixa renda são as mais prejudicadas pelas apostas online.

Para Galípolo, o apelo comercial de enriquecimento rápido é mais atrativo para quem está em situação de vulnerabilidade financeira.

“É razoável supor que o apelo comercial do enriquecimento por meio de apostas seja mais atraente para quem está em situação de vulnerabilidade financeira”, afirmou, destacando que o Banco Central ainda precisa de mais tempo e dados para avaliar com profundidade os impactos do setor na economia e no bem-estar da população.

Atuação do Banco Central no setor de apostas

O presidente do BC ressaltou que a instituição tem atuado em colaboração com a Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda, especialmente na regulamentação do setor.

O objetivo é esclarecer como funciona o sistema financeiro e os arranjos de pagamento envolvidos nas transações com sites de apostas, além de colaborar com auditorias e investigações.

Ele lembrou que, quando o Banco Central iniciou seus estudos, em agosto de 2024, o setor ainda não era totalmente regulado.

As empresas muitas vezes não estavam formalmente constituídas no país, e recebiam recursos por meio de intermediários fora da regulação, dificultando o rastreamento dos valores.

Pix, privacidade e confiança

Durante sua fala, Galípolo também fez questão de reafirmar o compromisso do Banco Central com o sigilo bancário e a proteção dos dados dos cidadãos.

Ele destacou a importância do Pix como uma infraestrutura pública digital essencial para a economia brasileira e afirmou que é dever da instituição garantir a privacidade das informações financeiras processadas.

“A manutenção da confiança da população no Pix, principalmente na proteção dos seus dados, é essencial para o bom funcionamento da economia”, destacou.

Transparência e supervisão

Galípolo frisou que o Banco Central não regula diretamente o setor de apostas, mas atua dentro de sua competência fiscalizatória e está sempre disposto a colaborar com o Congresso e com a sociedade.

“O Banco Central é autônomo, mas não isolado. Produz informações e essas informações têm que estar disponíveis para o Senado, para a Câmara dos Deputados e para a população em geral”, afirmou.

Para ele, o surgimento das bets reflete uma série de transformações nos serviços financeiros, o que exige uma atuação constante da autoridade monetária.

“O Banco Central tem o papel de prestar esse serviço à população. A economia está mudando, e nós temos que acompanhar essas mudanças”, concluiu.

Com informações de InfoMoney.