Nesta terça-feira (6), o Banco Central (BC) divulgou a ata da última reunião de seu Comitê de Política Monetária (COPOM), a ata do COPOM, desta vez referente a decisão da última semana, quando o colegiado reduziu novamente em 0,50 p.p. a taxa básica de juros Selic, a 11,25% ao ano.
Com relação aos próximos passos, os membros do Comitê concordaram unanimemente com a expectativa de cortes de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões e avaliaram que esse seria o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário. Entretanto, a ata apontou fatores que poderiam interromper o ciclo de reduções, disseram analistas.
Para Lucas Farina, analista econômico da Genial Investimentos, a principal novidade do documento foi a introdução de uma discussão mais profunda sobre a dinâmica recente do mercado de trabalho.
“Existe um grande debate atualmente sobre se as reformas (principalmente a trabalhista) e as mudanças pós-pandemia, como a adoção do trabalho via home office, alteraram a NAIRU (taxa natural de desemprego). Isso, junto da condução da política monetária norte-americana, são pontos-chave para se determinar o quão baixa pode ser a Selic terminal ao final do ciclo desse ciclo de cortes”, apontou o economista.
Outro risco que já tinha sido destacado antes, e que foi reforçado nesta edição, foi o referente à questão fiscal.
“Agora, o BC reforçou que ela ainda pode sofrer mais uma revisão altista caso as metas do novo arcabouço fiscal não sejam cumpridas e a dívida continue a crescer como proporção do Produto Interno Bruto (PIB)”, afirmou.
Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Investimentos, considera que, na medida em que se avança no ciclo de relaxamento monetário, a discussão sobre uma eventual aceleração do ritmo perde ainda mais força, com o debate centrado no patamar da taxa Selic terminal.
“Não há qualquer indicação de que o Comitê possa acelerar o ritmo de ajuste monetário, o que, inclusive, deveria ter como um dos pressupostos projeções de inflação abaixo da meta”, acrescentou.
Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante Investimentos, viu o Comitê mais preocupado com a cena externa desta vez.
No documento, o colegido opinou que a conjuntura internacional segue volátil, marcada por renovadas tensões geopolíticas e pelo debate sobre o início do processo de flexibilização da política monetária nas principais economias.
Ou seja, os problemas no Oriente Médio e a potencial escalada do conflito entre Rússia e Ucrânia podem levar a uma alta dos preços do petróleo, e dificultar a queda de juros na Europa e nos Estados Unidos.
“Permanece grande a incerteza sobre a demanda global futura e qual a extensão do movimento residual de preços relativos entre bens e serviços que ainda poderia ocorrer”, destacou.
Fernando Miguel Montero, economista-chefe da Tullett Prebon Brasil, avalia que a ata “chancela status quo, mas aprofunda a discussão das rendas”.
Ele observou que os dirigentes têm dado crescente foco às rendas das famílias na resiliência de seu consumo, uma vez que o Comitê vê elementos “que permitiriam observar, nos próximos meses, uma atenuação da desaceleração da atividade antecipada em função do aumento da renda das famílias, como reflexo da elevação do salário-mínimo, de benefícios sociais e do mercado de trabalho mais resiliente”.
Na avaliação de Montero, a ata manteve a avaliação de que a ampliação de ganhos reais pode ainda refletir questões temporárias.