Economia

Ata do COPOM: corte de juros pode ser menor a partir de junho, anteveem analistas

Preocupações com a inflação e com o aquecimento do mercado de trabalho, além das incertezas no cenário internacional, sugerem cautela na condução de política monetária

- Antônio Cruz/Agência Brasil
- Antônio Cruz/Agência Brasil

Nesta terça-feira (26), o Banco Central (BC) divulgou a ata da última reunião de seu Comitê de Política Monetária (COPOM), realizada entre os dias 19 e 20 de março. Na ocasião, o colegiado decidiu reduzir a taxa básica de juros Selic pela sexta vez consecutiva, em 0,50 p.p., a 10,75% ao ano (a.a.).

Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante Investimentos, observou que "o Banco Central (BC) está mais preocupado com a inflação e com a dinâmica da economia do que na reunião anterior. E que não pretende correr riscos com relação à sua comunicação com o mercado".

Em vários pontos, o documento citou a preocupação com a inflação e com o aquecimento do mercado de trabalho. Bevilacqua destaca a visão da autoridade monetária sobre o estágio atual da economia, de "fim do processo de desinflação", o mais trabalhoso e difícil, e que requer serenidade e paciência.

Sobre a inflação, o colegiado pontuou "os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária se situaram acima da meta".

Dirigentes do Comitê, contudo, concentraram seus apontamentos mais críticos ao mercado de trabalho: "os rendimentos se mostraram pressionados de maneira disseminada (…) não por ganhos de produtividade, mas por um fechamento do hiato do produto". Por isso, o Comitê "demonstrou maior preocupação com possíveis efeitos da ampliação de ganhos reais (…) e da massa salarial sobre a inflação de serviços".

O texto limitou-se a confirmar o corte de 0,50 ponto percentual na próxima reunião, agendada para maio. Mas, quanto a junho, as incertezas permanecem. O colegiado vai deixar de sinalizar o comportamento dos juros para além desse encontro, "de maneira a evitar ruídos na comunicação com o mercado".

Fabio Murad, sócio da Ipê Investimentos, afirma que a crescente incerteza levou à busca por maior flexibilidade na política monetária.

"A decisão de retirar a indicação plural de futuros cortes de juros visa a adaptar-se a um ambiente econômico mais volátil, onde a condicionalidade embutida na comunicação anterior não era considerada suficiente. A análise de custo-benefício levou em conta não apenas os benefícios da sinalização futura, mas também os potenciais custos associados a uma retirada tardia, que poderia afetar a credibilidade da comunicação", declarou Murad. 

"A incerteza tanto no cenário internacional quanto doméstico, especialmente no que diz respeito à dinâmica inflacionária e ao mercado de trabalho, sugere a necessidade de cautela na condução da política monetária", completa o executivo. 

Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Investimentos, destaca que a ata foi mais dura, apontou diversos sinais amarelos, em particular o comportamento da inflação nos EUA e, internamente, a dinâmica da inflação de serviços, a permanência da desancoragem das expectativas e a evolução da atividade, do mercado de trabalho e do hiato do produto.

“Claramente, a política monetária fica ainda mais data dependent, mesmo com a projeção de inflação para 2025, em 3,2%, seguir com um desvio pequeno com relação à meta de inflação”, pontuou Goldenstein.

A plataforma projeta uma Selic terminal em 9,0% ao fim do ciclo de cortes, uma vez que avalia a taxa em patamar bem contracionista e a projeção de inflação do BC para o ano de 2025 apenas ligeiramente acima da meta.

“Acreditamos que ocorrerão mais 2 cortes de 0,50 p.p. (o que pode ser facilitado pela perspectiva de desaceleração da inflação nos próximos meses, inclusive a de serviços), com o ritmo em queda para 0,25 p.p. (mais três cortes) após a Selic chegar ao patamar de 1 dígito em 9,75%”, detalhou.

O cenário alternativo seria de uma Selic terminal de 9,50%, caso a inflação de serviços continue a apresentar surpresas altistas.