Recuperação econômica

Brasil volta a ser país de classe média após quase 10 anos

Isso significa que essas famílias têm uma renda mensal domiciliar superior a R$ 3,4 mil. Em 2023, o grupo representava 49,6%.

Brasil volta a ser país de classe média após quase 10 anos

O Brasil voltou a ser um país predominantemente de classe média. Dados revelados por um estudo da Tendências Consultoria, obtidos com exclusividade pelo jornal O Globo, mostram que 50,10% dos domicílios brasileiros agora pertencem às classes C ou superiores.

Isso significa que essas famílias têm uma renda mensal domiciliar superior a R$ 3,4 mil. Essa foi a primeira vez desde 2015 que o percentual atinge esse patamar. Em 2023, o grupo representava 49,6%.

Melhora no mercado de trabalho impulsionou números

A principal alavanca para essa mudança foi a recuperação do mercado de trabalho após os impactos da pandemia. A economista Camila Saito, da Tendências Consultoria, destacou:

Desde 2023 houve uma migração significativa das famílias da classe D/E para a classe C, reflexo direto da melhora substancial no mercado de trabalho pós-pandemia.

As classes C e B são típicas da classe média, com a renda majoritariamente proveniente do trabalho. Saito aponta que o aumento da massa salarial nos últimos anos foi um fator decisivo:

— O reajuste real do salário mínimo em 2023 e 2024, após anos sem correções acima da inflação, gerou melhor desempenho para essas classes.

Números comprovam o avanço da Classe C

Em 2024, a massa de renda total — incluídos salários, benefícios sociais, aposentadorias, pensões e outras fontes — cresceu 7,0% no país.

Contudo, na classe C, que engloba famílias com rendimento mensal entre R$ 3,5 mil e R$ 8,10 mil, o crescimento foi ainda maior, a 9,50%.

Já na classe B, com rendimentos entre R$ 8,10 mil e R$ 25,0 mil, o aumento foi de 8,70% – o segundo melhor desempenho.

Para 2025, projeta-se um crescimento de 6,4% na renda da classe C, acima da média nacional de 3,8%. No entanto, a mobilidade social tende a ser mais lenta, conforme alerta Saito :

— A ascensão social das classes D e E será reduzida nos próximos anos, refletindo a desigualdade estrutural do país.

Trabalho formal e desigualdade em queda

Um dos indicadores de melhoria social foi o aumento do emprego formal. Entre janeiro de 2023 e setembro de 2024, foram criadas 3,6 milhões de vagas com carteira assinada. Marcelo Neri, diretor da FGV Social, celebrou os avanços:

— O Brasil registrou em 2024 resultados sociais comparáveis aos de 2014, o melhor ano para o mercado de trabalho até então. Três fatores foram determinantes: crescimento do PIB, aumento da renda do trabalho acima do PIB e a queda da desigualdade.

A desigualdade, que ficou estagnada em 2023, apresentou queda em 2024.

Dados indicam que, enquanto a renda média domiciliar per capita cresceu 6,98%, os 50% mais pobres registraram um aumento de 10,2%.

O desemprego também atingiu seu menor nível histórico, com uma taxa de 6,10% no trimestre encerrado em novembro de 2024.

Juros altos favorecem classes superiores

A alta na taxa Selic, que chegou a 12,25% ao ano em 2024 e pode atingir 14,75% em 2025, deve beneficiar principalmente a classe A, cujos rendimentos são mais concentrados em aplicações financeiras e aluguéis. Camila Saito explica:

— O aumento dos juros favorece a classe A e, em menor escala, a classe B. Contudo, a inflação elevada prejudica as famílias mais pobres.

As informações são do jornal O Globo.