Economia

Copom deve reduzir Selic em 0,25 p.p., dizem analistas

Incertezas na política monetária norte-americana e as tensões do Oriente Médio, somadas ao aquecimento do mercado de trabalho interno e aos riscos fiscais, devem amenizar magnitude dos cortes

Copom deve reduzir Selic em 0,25 p.p., dizem analistas

Nesta quarta-feira (8), o Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central (BC) reúne-se pelo último dos dois dias seguidos para deliberar sobre a taxa básica de juros Selic, atualmente em 10,75% ao ano (a.a.).

Embora agentes e analistas do mercado financeiro afirmem, em consenso, que o ciclo de cortes vai continuar, poucos arriscam afirmar qual magnitude vai ser adotada para a redução. 

Desde agosto passado, o colegiado já cortou a Selic por seis vezes consecutivas, sempre em 0,5 ponto percentual. Agora, em razão de incertezas internacionais, algumas correntes dissonantes creem em uma queda mais conservadora, de 0,25%, como o caso de Roberto Simioni, economista-chefe da Blue3 Investimentos.

O executivo destaca que, em ata divulgada referente a reunião anterior do COPOM, realizada em março, foi reforçada a necessidade de manter uma política monetária contracionista até que se consolidasse não apenas o processo de desinflação, como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.

De acordo com Simioni, o documento destacou que uma redução de mesma magnitude, de 0,5 ponto percentual, estaria condicionada a evolução da dinâmica inflacionária, não apenas dos componentes mais sensíveis à política monetária, mas também das expectativas de inflação no horizonte relevante, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos. Não foi o que se concretizou.

“O mercado acompanhou externamente o aumento significativo das tensões no Oriente Médio, o aumento do Ouro, da Treasury de 10Y e a piora gradual das estimativas de cortes de juros na economia americana”, comentou.

Essas questões, inclusive, reforçam a visão da Blue3 Investimentos de que os juros nos Estados Unidos devem começar a cair apenas no 2º semestre de 2024, provavelmente em duas reduções de 0,25 ponto percentual.

Quanto ao Brasil, Simioni relembrou a catástrofe natural que a região Sul enfrenta e que vai trazer efeitos negativos, com a puxada da inflação para cima dentro do 2º e 3º trimestre, “sem falar no redesenho da questão fiscal”. 

Para o economista-chefe, eventos ocorridos desde março “trazem força suficiente para alterar a magnitude de cortes para três reduções de 0,25 ponto percentual, ainda que não de forma contínua”.

A medida limitaria esse ciclo de cortes a uma taxa final em 10% no fim do ano, “a fim de fortalecer a todo tempo a credibilidade e reputação das instituições dos arcabouços monetários e fiscais que compõe a política econômica brasileira”.

Já Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante Investimentos, opina que as declarações mais recentes de Roberto Campos Neto (RCN), presidente do Banco Central (BC), e as próprias expectativas reunidas semanalmente no Relatório Focus mostram a expectativa de uma desaceleração no corte dos juros.

“A estimativa mais recente para a variação do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024 é de 2,05 por cento. Quatro semanas atrás era de 1,90 por cento. Esse 0,15 ponto percentual de diferença representa cerca de R$ 16,2 bilhões a mais em circulação na economia. É uma quantia relevante, capaz de pressionar alguns preços e elevar os índices de inflação de maneira geral”, comentou.

Bevilacqua relembra que, no fim de abril, em uma entrevista, RCN tratou do aquecimento do mercado de trabalho. “Apesar de positivo para a economia e para a sociedade, a escassez de mão de obra pode pressionar os salários, elevar a inflação”, pontua.

Confirmada a desaceleração do corte, os investidores deverão refazer as contas para a segunda metade de 2024, diz o estrategista-chefe.