Pressão permanente

Dólar deve permanecer em alta por mais tempo, admite governo

De acordo com a equipe econômica do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), não existem previsões de uma recuperação rápida para níveis de cotações mais baixos no curto prazo

Lula e Haddad
Haddad cumprimenta Lula em sua cerimônia de posse como ministro da Fazenda - Foto: Ricardo Stuckert/PR

Em meio a disparadas sucessivas, o dólar fechou a terça-feira, 3 de dezembro, cotado a R$ 6,05.

O cenário cambial do Brasil tem gerado preocupações tanto no governo federal quanto no mercado financeiro, e especialistas afirmam que os patamares elevados devem persistir por mais tempo.

De acordo com a equipe econômica do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), não existem previsões de uma recuperação rápida para níveis de cotações mais baixos no curto prazo.

Ruídos internos e contexto internacional motivam a disparada do dólar

O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, atribuiu a alta do dólar a dois fatores principais: os ruídos internos, relacionados ao entendimento do pacote fiscal de corte de gastos do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o cenário internacional desafiador.

Segundo ele, como o principal fator externo que impacta a moeda brasileira desponta a situação política nos Estados Unidos (EUA), que passa por uma transição de poder com a eleição do republicano Donald Trump, que retorna à Casa Branca como presidente no dia 20 de janeiro de 2025.

A transição de poder nos EUA e seus reflexos no câmbio

Com a iminente chegada de Trump ao poder, o mercado financeiro observa com atenção o movimento político e econômico no país norte-americano.

Trump já indicou que vai adotar uma política econômica mais protecionista, o que tende a aumentar a valorização do dólar.

Embora o contexto possa beneficiar a indústria brasileira voltada para exportação, a situação acende um alerta para possíveis efeitos negativos sobre a inflação e os juros no Brasil, o que pode resultar na desvalorização do real.

Ameaças de Trump aos Brics e o aumento das tensões geopolíticas

Além disso, as recentes declarações de Trump sobre os Brics, bloco econômico formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, geraram novos temores nos mercados globais.

O futuro presidente dos EUA cogita a imposição de tarifas elevadas ao grupo caso seus membros adotem uma moeda alternativa ao dólar.

Essas ameaças alimentam temores de um aumento das tensões geopolíticas, o que, por sua vez, fortalece o dólar, considerado um porto seguro durante períodos de instabilidade internacional.

O impacto das incertezas globais nos mercados emergentes

O secretário destacou que, em cenários de incerteza global, como o atual, os países emergentes tendem a sentir com mais intensidade os efeitos das mudanças de rumos econômicos.

Aumentou o risco de ter um cenário de uma inflação global maior. Isso gera uma reprecificação de ativos, com uma elevação de riscos e isso tem efeito sobre todos”, afirmou Ceron.

Ele acrescentou que a depreciação da moeda brasileira faz parte de um processo mais amplo, que afeta todas as moedas em momentos de crise.

Medidas econômicas do governo Lula e sua relação com o câmbio

Em relação às medidas econômicas adotadas pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ceron afirmou que o pacote de corte de gastos e a revisão fiscal visam “dar consistência para garantir que as coisas continuem bem no país”.

Segundo o secretário, essas ações são fundamentais para manter a estabilidade financeira do Brasil diante das incertezas externas e internas.

Expectativa de acomodação do dólar com aprovação das medidas fiscais

Contudo, espera-se que o dólar possa sofrer uma “acomodação” para valores mais baixos no curto prazo.

O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, da Indústria, do Comércio e dos Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), afirmou que, após a aprovação das medidas de corte de gastos pelo Congresso Nacional, seria possível que o valor da moeda americana se estabilizasse.

Se o Congresso der uma resposta rápida esse mês de dezembro, nós devemos ter uma acomodação do dólar um tanto mais baixa” , declarou.

Reforma da renda e os ruídos no mercado financeiro

A reforma da renda, um dos principais pontos do pacote fiscal do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), também tem sido apontada como uma das causas de instabilidade no mercado financeiro.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT-SP), admitiu, após o dólar ultrapassar a barreira de R$ 6 pela primeira vez, que a antecipação da reforma gerou ruídos.

Haddad reconheceu que a confusão em torno da reforma tem gerado apreensão, mas acredita que, à medida que as explicações forem dadas, a situação tende a se acalmar.

Havia também uma confusão muito grande em relação à reforma da renda.Não são as medidas apresentadas aqui”, afirmou o ministro, após reunião com senadores, no final de novembro.

Aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda como parte do pacote fiscal

No âmbito do pacote de ajuste fiscal, Haddad anunciou uma proposta para aumentar a faixa de isenção do Imposto de Renda (IR). A medida, que deve entrar em vigor a partir de 2026, prevê que pessoas com rendimento de até R$ 5.000,00 sejam isentas do tributo.

O anúncio foi feito com o objetivo de aliviar os impactos das medidas de corte de gastos, especialmente entre as camadas de renda mais baixa.

Expectativas para 2025: Desafios fiscais

Embora os anúncios fiscais tenham sido feitos em 2024, a discussão sobre o futuro da reforma da renda e do Imposto de Renda deve ser adiada para 2025.

Ministros do governo afirmaram, nas últimas semanas, que o tema vai ser retomado no próximo ano, após reações negativas do mercado financeiro, que ainda analisam os efeitos das reformas econômicas propostas.

As informações são do site Metrópoles.