O dólar, cotado a R$ 6,19 na última sexta-feira (27), ultrapassou em termos reais os picos registrados durante a crise política e econômica de 2015-2016, que culminou no impeachment de Dilma Rousseff (PT). Corrigido pela inflação brasileira (IPCA) e americana (CPI), o recorde nominal de R$ 4,1450 em setembro de 2015 equivale hoje a R$ 5,08, R$ 1,11 abaixo do valor atual.
Embora a valorização do dólar tenha sido mais acentuada naquela época (62% entre 2015 e 2016, contra 25% em 2024), especialistas apontam que o câmbio reflete as dificuldades fiscais persistentes do Brasil.
Segundo Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, a dívida pública e a deterioração fiscal são fatores centrais.
“O câmbio é quase um espelho da nossa dificuldade fiscal, embora não haja uma relação direta”, afirmou.
Além disso, a dívida bruta do governo atingiu 77,8% do PIB (Produto Interno Bruto) em outubro de 2024, e a projeção da Instituição Fiscal Independente (IFI) é que esse índice chegue a 84,1% até 2026.
Em 2016, no entanto, a relação dívida/PIB era de 69,8%, mesmo após uma das piores recessões da história, com quedas consecutivas do PIB de 3,8% e 3,6% em 2015 e 2016, respectivamente.
Nesse sentido, Nicholas McCarthy, do Itaú Unibanco, também destacou que o cenário externo desfavorável amplifica as pressões atuais.
“Em 2015, a China crescia cerca de 10% ao ano, sustentando altas nas commodities e equilibrando nossas contas externas, algo que não ocorre hoje”, explicou.