O novo governo de Donald Trump nos Estados Unidos (EUA) gera incertezas para a economia global e o Brasil não deve passar imune a esses impactos. Neste 20 de fevereiro, o republicano completa o primeiro mês de seu segundo mandato e suas ações têm colocado todo o mundo em alerta.
De acordo com o professor Ahmed El Khatib, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), as políticas protecionistas e a agenda econômica do governo norte-americano podem trazer desafios e oportunidades para o país.
Uma das principais preocupações com a volta de Trump ao poder diz respeito a adoção de tarifas sobre importações.
“Trump tem implementado medidas agressivas nesse sentido, o que pode prejudicar economias como a do Brasil. Tarifas sobre produtos brasileiros, como o aço e commodities do agronegócio, podem limitar nosso acesso ao mercado americano, afetar diretamente setores estratégicos”, explica El Khatib.
As relações entre Brasil e Estados Unidos podem passar por mudanças significativas.
“A postura mais nacionalista de Trump pode dificultar a cooperação econômica entre os países, tornar negociações comerciais mais complexas. O Brasil precisa buscar alternativas para manter a estabilidade econômica e minimizar as consequências dessa postura protecionista”, ressalta o especialista.
Quais empresas da B3 podem se beneficiar de uma guerra comercial?
João Kepler, CEO da Equity Fund Group, comenta que a política econômica de Donald Trump também pode afetar os juros nos Estados Unidos (EUA), e o Federal Reserve possivelmente deve manter as taxas elevadas por um período prolongado.
Nesse sentido, setores como aço, petroquímico e alimentos devem sentir mais o reflexo das tarifas protecionistas, estima Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike.
Companhias com forte presença nos EUA, como Gerdau, Braskem e JBS, tendem a se beneficiar, pois produzem localmente e escapam das barreiras comerciais. Já exportadoras de aço, como Usiminas, ArcelorMittal e CSN, podem enfrentar dificuldades, com menor demanda e pressão sobre os preços no mercado interno. Esse cenário traz a tona a importância de estratégias que reduzam essa dependência de mercados específicos, e aumentem a competitividade global dessas empresa.
Economia seria a única preocupação? Não quando nos lembramos da imigração…
A política imigratória de Trump pode ainda afetar a economia do Brasil. “Há cerca de 230 mil brasileiros sem documentação nos Estados Unidos, e a promessa de deportações em massa pode gerar um impacto negativo tanto na vida dessas pessoas quanto nas remessas enviadas ao Brasil, que representam uma importante fonte de renda para diversas regiões do país”, alerta o docente.
Não se esqueça das mudanças climáticas
A política ambiental do governo Trump também pode gerar impactos.
“A retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris pode afetar investimentos em energias renováveis e iniciativas ambientais. Empresas brasileiras que dependem de exportação de produtos sustentáveis podem encontrar desafios para manter competitividade no mercado internacional”, pontua o professor.
Protecionismo nos EUA pode afetar o comércio global seriamente
Se as políticas protecionistas de Trump forem mantidas, o comércio global deve sofrer impactos. “Há riscos claros de desaquecimento da economia mundial e aumento dos custos de produção. Para o Brasil, isso significa tanto desafios quanto oportunidades de se reposicionar no cenário internacional”, analisa El Khatib.
De acordo com o professor, os riscos estão concentrados no curto prazo, enquanto os benefícios podem demorar mais tempo para serem percebidos.
A incerteza sobre as políticas comerciais e fiscais pode levar empresas americanas a adiarem investimentos, e impactar diretamente o fluxo de capitais para mercados emergentes como o Brasil. “O protecionismo americano pode restringir o ambiente de negócios em uma escala não vista nas últimas décadas, torna essencial que o Brasil diversifique suas parcerias econômicas e busque fortalecer o mercado interno”, conclui o professor da FECAP.
De olho no Brasil, como fica a inflação?
Na última segunda-feira (17), o Boletim Focus, produzido pelo Banco Central (BC) com base na opinião de economistas e analistas do mercado financeiro, elevou as projeções para a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) pela décima oitava vez consecutiva.
A estimativa foi elevada de 5,58% para 5,60%, o que sinaliza uma maior pressão inflacionária.
De acordo com João Kepler, CEO da Equity Fund Group, essa alta contínua reflete um cenário de incerteza econômica que o mercado tem precificado.
Mesmo com a Selic em patamar elevado, o comportamento das expectativas sugere que ainda há desafios a serem enfrentados na condução da política monetária e fiscal. Esse ambiente de instabilidade reforça a necessidade de uma comunicação clara das autoridades econômicas e de medidas que tragam previsibilidade para o mercado. Ainda não sabemos os efeitos reais das políticas tarifárias de Trump, mas acredito que ainda devemos sentir. Investidores e empresários precisam de um horizonte mais estável para planejar suas decisões, especialmente em um momento em que o crédito caro e a volatilidade do câmbio impactam diretamente os negócios e os investimentos.