Os planos da gigante do fast fashion Shein de transferir parte de sua produção para fora da China enfrentam resistência do governo chinês.
Segundo fontes com conhecimento direto do assunto, o Ministério do Comércio da China entrou em contato com a gigante do e-commerce para desencorajar qualquer movimento de diversificação de sua cadeia de suprimentos para outros países.
A iniciativa de Pequim ocorre em um momento de tensão comercial com os Estados Unidos, após o ex-presidente Donald Trump anunciar a imposição de novas “ tarifas recíprocas” contra produtos chineses.
A medida levou diversas empresas a considerarem alternativas para evitar os pesados encargos alfandegários.
China tenta evitar êxodo industrial
Fontes ligadas às negociações, de acordo com a Reuters, revelaram que os apelos do governo ocorreram nos dias que antecederam o anúncio das tarifas de Trump. A Shein chegou a suspender visitas de pesquisa de mercado organizadas para seus principais fornecedores chineses em fábricas localizadas no Vietnã e em outros países do Sudeste Asiático.
As fontes, que pediram anonimato, apontam que essa foi uma das respostas da empresa à pressão governamental.
A preocupação de Pequim com uma possível perda de empregos no setor industrial tem motivado a interferência direta nas estratégias empresariais. Nem a Shein nem o Ministério do Comércio da China responderam aos pedidos de comentário feitos pela Bloomberg.
Tarifas e fim de isenções ampliam tensão
A pressão sobre a Shein ocorre também às vésperas da expiração de uma importante brecha tributária nos Estados Unidos.
Em 2 de maio, as isenções tarifárias para encomendas de pequeno valor importadas por consumidores americanos deixam de valer para pacotes vindos da China.
Essa mudança deve aumentar significativamente os custos dos produtos comercializados por empresas asiáticas como Shein, Temu e Shopee.
Apesar disso, a Shein já se movimentava para adaptar seu modelo logístico. Em fevereiro, a empresa ofereceu incentivos para que fornecedores chineses abrissem linhas de produção no Vietnã, como forma de contornar as tarifas. A iniciativa se deu após as ameaças de Trump de eliminar a brecha fiscal conhecida como “ de minimis“.
Empresas em rota de colisão com a China
A situação evidencia uma crescente divergência entre os interesses do governo chinês e os das grandes empresas privadas. Enquanto Pequim busca manter sua indústria forte e evitar uma desindustrialização acelerada, companhias como a Shein procuram se proteger dos impactos das tarifas norte-americanas.
Durante o primeiro mandato de Trump, muitas indústrias chinesas conseguiram driblar as tarifas ao transferir parte da produção para outros países asiáticos. Hoje, mais da metade das fábricas no Camboja são de propriedade chinesa, por exemplo. No entanto, o recado do governo foi claro: Pequim está menos tolerante com essa estratégia.
Alta tributária pressiona fornecedores
Com tarifas de importação de, pelo menos, 54% sobre a maioria dos produtos chineses nos EUA, fornecedores enfrentam pressão crescente de seus clientes para absorver parte desses custos ou buscar alternativas fora da China. A resposta do governo, no entanto, busca frear esse movimento.
Fundada em Nanjing e atualmente sediada em Cingapura, a Shein construiu seu império com base em uma vasta rede de fornecedores no sul da China, responsáveis por abastecer mercados na América do Norte e Europa com produtos de baixo custo como blusas de US$ 2 e camisetas de US$ 10.
A disputa entre estratégias empresariais e interesses estatais promete se intensificar, especialmente diante do aumento de barreiras comerciais e do encarecimento das exportações chinesas.
A Shein, no centro dessa tensão, vai ter que equilibrar interesses políticos e econômicos para manter sua competitividade no mercado global.
As informações são de Bloomberg e Reuters.