Recentemente, o mercado de ações dos EUA tem enfrentado uma série de desafios e analistas atribuem a culpa tanto ao Federal Reserve (FED) quanto à recalibração das avaliações de tecnologia vinculadas à inteligência artificial (IA).
Investidores têm a preocupação central de que o Federal Reserve (FED) possa estar “atrasado” em sua resposta à deterioração econômica dos EUA, enquanto outros analisam os impactos das recentes flutuações nas avaliações de empresas tecnológicas.
O que diz o estrategista de ações do Morgan Stanley?
Michael Wilson, estrategista de ações do Morgan Stanley, avalia que a atual instabilidade do mercado deve-se a uma combinação de fatores.
Em uma nota divulgada na segunda-feira, Wilson comentou que, no final da semana passada, os traders esperavam que um relatório de empregos fracos fosse um evento isolado e que ajudasse a justificar o elevado múltiplo de lucros do S&P 500 — atualmente acima da média histórica.
Contudo, a realidade não correspondeu às expectativas.
“Com a avaliação do nível do índice de volta a 21,0x no lançamento, o mercado de ações procurava um sinal claro de que a fraqueza da folha de pagamento do mês passado foi motivada pelo clima e fatores pontuais. Em vez disso, a fraqueza persistiu com o resultado da folha de pagamento do mês passado revisado ainda mais baixo”, afirma Wilson.
Mas, afinal, o que pesa mais nos fundamentos da economia dos EUA?
De acordo com Wilson, o mercado de ações “se recupera” apesar da deterioração dos fundamentos econômicos. Mas fica a questão crucial para os investidores: esse desequilíbrio vai ser corrigido por uma melhora nos dados de emprego ou por uma queda nos preços das ações?
“Temos a visão de que poderia ser um pouco dos dois, um resultado de pouso suave (nosso caso-base). Sob um resultado de pouso forçado (nosso caso baixista), a redefinição viria muito mais de preços de ações mais baixos, e por isso o mercado está tão sensível aos dados trabalhistas neste ponto do ciclo”, explica Wilson.
Ações defensivas e o mercado de títulos
Wilson sugere que, em um ambiente de desaceleração do mercado de trabalho, ações de qualidade e defensivas devem continuar a ter um desempenho superior.
No entanto, ele também observa que os mercados de rendimentos de títulos, câmbio e commodities demonstram preocupações crescentes com riscos de pouso forçado.
Ele destaca o spread entre o rendimento dos títulos do Tesouro de 2 anos e a taxa de fundos federais, que atingiu cerca de 190 pontos-base, o que representa um dos maiores níveis dos últimos 40 anos.
“Esse preço sugere que o mercado de títulos acredita que o FED está atrás da curva de um ponto de vista de flexibilização”, afirma Wilson.
E quais são as consequências do início do ciclo de cortes nos EUA?
Wilson também alerta para o impacto potencial de uma queda nas taxas de juros sobre o iene, que pode resultar em uma reação adversa nos ativos de risco dos EUA.
“Uma queda rápida nas taxas de juros iniciais dos EUA pode fazer com que o iene se fortaleça ainda mais, e provocar assim uma reação adversa nos ativos de risco dos EUA vinculados ao desenrolar do carry trade”, diz ele.
Com isso, Wilson sugere que um corte de 25 pontos-base, acompanhado pelo fim do aperto quantitativo do FED, pode ser uma abordagem mais equilibrada para o mercado de ações.
Perspectivas futuras e avaliação do S&P 500
O estrategista do Morgan Stanley conclui que, enquanto o mercado de títulos não acreditar que o FED está adequadamente ajustado, e até que os dados de crescimento melhorem ou haja um estímulo político adicional, vai ser difícil para o mercado de ações adotar uma postura mais otimista.
“Até que o mercado de títulos comece a acreditar que o FED não está mais atrás da curva (o spread entre o rendimento de 2 anos e os fundos do Fed diminua), os dados de crescimento revertam o curso e melhorem materialmente ou um estímulo político adicional seja introduzido, vai ser difícil para os mercados de ações negociarem com um tom mais arriscado, em nossa opinião”, afirma Wilson.
Por fim, o Morgan Stanley projeta que a volatilidade vai permanecer elevada no curto prazo, com um múltiplo de valor justo para o S&P 500 de 19,0x, que levaria o índice a se posicionar em uma faixa de valor justo de 5.000 a 5.400 pontos.