Guerra comercial

Tarifaço de Trump: por que Lula e diplomacia adotam cautela sobre sobretaxa ao aço?

A decisão de Donald Trump conserva o potencial para pressionar fortemente o setor siderúrgico brasileiro

Governo Lula avalia represálias a tarifas de Trump
Agência Brasil/Marcelo Camargo

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem adotado uma postura de extrema cautela diante da decisão do presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, de impor uma taxa de 25% sobre as importações de aço e alumínio de todos os países.

A estratégia visa evitar qualquer imagem de enfrentamento direto com o líder norte-americano, apurou a colunista do jornal Folha de S.Paulo, Mônica Bergamo, em participação no UOL News nesta terça-feira (11).

Brasil mensura impacto na indústria local e avalia risco de demissões

A decisão de Donald Trump conserva o potencial para pressionar fortemente o setor siderúrgico brasileiro, que precisa buscar alternativas para o escoamento do aço excedente para outros mercados internacionais.

O risco imediato inclui a necessidade de redução na produção, o que pode levar a cortes de empregos no setor.

Além disso, existe a possibilidade de uma desvalorização do real frente ao dólar, em razão das incertezas geradas pelo aumento das tarifas.

Brasil evita ser identificado como opositor de Donald Trump

Nos bastidores do governo, assessores próximos a Lula têm trabalhado para que o Brasil não seja visto como um opositor de Trump. A ideia era deixar Trump falar sozinho, apesar de Lula ter feito algumas declarações, como a respeito de Gaza. Ele disse que faria algumas retaliações, mas a ideia vai ser não esticar a corda , relatou Mônica Bergamo.

Até o momento, o governo do Brasil optou por não responder diretamente a uma recente afirmação de Trump sobre o país e mantém uma estratégia de discrição e moderação nas declarações.

Bergamo ressaltou que a diplomacia brasileira tem conseguido manter o Brasil fora da linha de fogo de Donald Trump, o que pode facilitar futuras negociações comerciais entre os dois países. São canais diplomáticos. De fato, Trump esqueceu um pouco o Brasil. Ao elevar essas tarifas do aço, ele não fala do Brasil e nem age como em relação a Gaza, Ucrânia e o Canal do Panamá , afirmou.

Segundo a colunista, existe a expectativa de que esses canais diplomáticos possam assegurar algum tipo de excepcionalidade para os produtos brasileiros dentro das novas medidas adotadas pelo governo dos EUA.

Importância do mercado dos Estados Unidos para o Brasil

Assessores do governo defendem que o Brasil adote uma postura de serenidade diante da decisão de Trump, em vista o volume expressivo de negócios entre os dois países.

O comércio com os EUA representa entre 10% e 12% de tudo o que o Brasil exporta, um percentual significativo, mas que não se compara à dependência comercial com a China. Seria algo muito pior se o problema fosse com a China, ponderou Bergamo.

Lula evita confronto direto e negociações devem seguir sem alarde

Existe a possibilidade de que Trump e Lula conversem por telefone sobre o tema, mas analistas avaliam que as tratativas não devem ocorrer diretamente entre os dois líderes.

Até o momento, Lula tem evitado declarações contundentes sobre a questão, em contraste com sua recente postura mais enfática ao rebater Trump em relação ao conflito na Faixa de Gaza.

Desde o anúncio da sobretaxa, o governo brasileiro tem adotado uma estratégia cuidadosa e evita respostas inflamadas, na busca por soluções diplomáticas para mitigar os impactos sobre a indústria nacional.