Economia

Governo estuda pacote de corte de gastos e enfrenta pressão interna

Negociações sobre pacote de corte de gastos entram na terceira semana, sem data confirmada para o anúncio

Governo estuda pacote de corte de gastos e enfrenta pressão interna
Crédito: Agência Brasil

O governo federal continua nesta semana as discussões sobre um pacote de corte de gastos. Após um fim de semana em São Paulo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, retorna a Brasília nesta segunda-feira (11) para retomar as negociações.

As tratativas, que já estão em sua terceira semana, têm gerado pressão tanto dentro do governo quanto no mercado financeiro, que aguarda ansiosamente a divulgação das medidas.

Inicialmente, Haddad havia sinalizado que o anúncio das medidas ocorreria na última semana, mas o pacote ainda não foi concluído.

Além do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que participou de três reuniões sobre o tema, o ministro da Fazenda afirmou que é importante que o pacote seja apresentado aos presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, pois algumas das medidas exigem aprovação legislativa.

Compromisso com os benefícios sociais

O ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, já antecipou que o pacote não incluirá cortes nos benefícios sociais, como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC).

Em nota enviada a jornalistas, Dias afirmou que o governo não aceitará “cortar um só benefício do Bolsa Família ou do BPC” para manter o compromisso do presidente com os mais pobres.

Pressão do mercado e risco fiscal

A equipe econômica, liderada por Haddad, enfrenta uma pressão crescente para lidar com o aumento dos gastos públicos, que impacta diretamente no mercado financeiro.

Nas últimas semanas, a indefinição sobre o pacote levou a oscilações na bolsa de valores e à alta do dólar, refletindo a apreensão do mercado.

Analistas apontam que, sem o controle de despesas obrigatórias, o chamado “arcabouço fiscal” — aprovado pelo governo Lula em 2023 para estabelecer limites aos gastos — poderia perder eficácia.

A preocupação é que, com o aumento das despesas obrigatórias, o espaço para investimentos em áreas estratégicas, como educação e saúde, se tornará cada vez mais restrito, afetando serviços essenciais à população.

Austeridade fiscal e críticas no corte de gastos

Enquanto parte do mercado financeiro e economistas pedem medidas rígidas de controle de gastos para evitar um descontrole fiscal, setores sociais e acadêmicos criticam a pressão por austeridade.

Um manifesto com apoio de acadêmicos, ex-ministros e parlamentares como Luiza Erundina e Sâmia Bomfim denuncia o Novo Arcabouço Fiscal e as políticas de austeridade, argumentando que limitam gastos sociais e favorecem grandes investidores.

Os signatários afirmam que o arcabouço fiscal coloca restrições aos investimentos públicos em prol do pagamento de juros da dívida pública, beneficiando rentistas.

Defendem, ainda, a alteração ou revogação do arcabouço para ampliar a proteção e os direitos sociais, especialmente para a população mais vulnerável.

Possíveis consequências sem o corte de gastos

Especialistas alertam que, se o governo não encontrar uma forma de controlar as despesas obrigatórias, o arcabouço fiscal poderá ser comprometido.

Isso elevaria a dívida pública e a pressão sobre a taxa de juros, prejudicando o crédito e os investimentos no país.

Juros mais altos tendem a impactar o consumo e o investimento privado, além de aumentar o custo da dívida para o governo.

Um relatório recente da Fundação Getúlio Vargas (FGV) destaca a necessidade de ajuste fiscal para conter o aumento da dívida.

Economistas como Armando Castelar Pinheiro e Silvia Matos apontam que a deterioração das contas públicas já é evidente desde o final de 2022, impulsionada por novos gastos e um crescimento persistente da dívida.

Eles ressaltam a importância de medidas que controlem a trajetória de gastos ao longo do tempo, mas questionam se haverá apoio político suficiente para implementar cortes necessários em áreas delicadas, como o salário mínimo e a Previdência.

Com informações de G1.