Economia

IPCA-15 de abril: o que esperar agora para o ciclo de cortes da Selic e para a inflação em 2024?

Números vieram abaixo do esperado, mas não mudam perspectivas de forma relevante no curto prazo, opinam representantes de Suno Research e Warren Investimentos

Supermercado na zona sul do Rio de Janeiro.
Supermercado na zona sul do Rio de Janeiro.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15), considerado a prévia oficial da inflação no País, desacelerou a 0,21% em abril, na comparação com os 0,36% registrados no mês anterior, apontou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (26).

O indicador veio 0,08% abaixo do esperado pelo consenso de agentes e analistas do mercado financeiro.

Para Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, a surpresa baixista foi concentrada em quatro itens bastante voláteis: energia elétrica, gasolina, passagem aérea e combo de telefonia. “Por outro lado, produtos farmacêuticos, higiene pessoal e vestuário vieram mais fortes do que o esperado”, pontuou.

Angelo deu o exemplo da alta dos medicamentos, que já era esperada em razão do reajuste de até 4,50% nos preços, válido desde o dia 31 de março, mas considera que o comportamento foi ainda mais forte.

“Atribuímos uma chance do aumento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) modal de alguns estados terem impactado o aumento do repasse dos custos destes itens”, acrescentou.

A economista avalia que outra surpresa veio dos serviços subjacentes (+0,38%), em um volume 0,09% superior ao projetado pela plataforma.

“No entanto, se ponderarmos a alta de 3,76% do item cinema (que caiu -3,97% no IPCA-15 de março, na “semana do cinema”), o grupo teria um desempenho em linha com o esperado por nós”, comentou Angelo, que pondera ainda sobre a expectativa de que este grupo desacelerasse de forma mais contundente nesta leitura, mas diz ainda esperar o mesmo para o IPCA fechado de abril.

Para frente, por ora, a Warren Investimentos aguarda um IPCA de abril em 0,39% e de 0,33% em maio. “Vamos fazer alguns ajustes pontuais, mas o curto prazo não deve alterar de forma relevante. Esperamos que este ano e 2025 encerre em 3,80%”, completou.

Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, observou, por sua vez, que os serviços subjacentes, assim como a média dos núcleos, apresentou desaceleração tanto na variação mensal quanto no acumulado dos últimos doze meses. “Além de um IPCA-15 abaixo do esperado, o qualitativo foi positivo”, comentou.

O economista relembrou que o Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central (BC) mostrou preocupação com a evolução dos preços de serviços diante de um mercado de trabalho apertado, com reajustes salariais acima da meta de inflação. “Os preços desse segmento ainda continuam em níveis acima do desejado pela autoridade monetária”, completa.

Além disso, Sung destaca que, nas últimas semanas, houve um estresse sobre os mercados diante da postergação das expectativas sobre o início de cortes de juros nos EUA.

“As curvas de juros abriram e a taxa de câmbio voltou ao patamar de R$ 5,15. Esse cenário externo mais advsero deve pesar negativamente no balanço de riscos do banco central do Brasil, mas a autoridade monetária deve manter uma postura cautelosa até compreender a evolução e os impactos sobre a nossa economia”, pondera.

Para Sung, a boa notícia foi que os dados prévios de abril ajudam o cenário do Banco Central. A Suno Research mantém a perspectiva de corte de 0,5 p.p. na taxa de juros Selic para a próxima reunião do COPOM, no início de maio.

“Os próximos dados serão importantes para calibrar melhor o cenário à frente”, finaliza.