Nesta terça-feira (4), o Banco Central (BC) publicou a ata do COPOM (Comitê de Política Monetária) com uma análise detalhada do atual cenário econômico, em reflexo aos riscos inflacionários e sobre a postura necessária para a condução da política monetária, após a decisão que elevou a taxa básica de juros Selic em 1,00 p.p. a 13,25%.
No documento, os dirigentes mantiveram a orientação de um novo aumento de 1 ponto percentual na próxima reunião, em maio, o que levaria a taxa básica de juros Selic a 14,25%.
De acordo com o colegiado, o cenário externo continua desafiador para os países emergentes, com destaque para as incertezas geradas pela política econômica dos Estados Unidos.
A situação global tem gerado um ambiente de desaceleração, o que afeta as perspectivas de inflação e impacta diretamente as decisões do Federal Reserve (FED).
O Comitê ressaltou a necessidade de uma postura cautelosa, dado o impacto dessas incertezas nas economias em desenvolvimento.
O cenário de referência considera taxa de câmbio inicial em R$ 6,00, preços do petróleo a seguir a curva futura por seis meses e depois em alta de 2% ao ano, além da bandeira verde de energia elétrica ao longo de 2024 e 2025.
Inflação continua acima das metas estabelecidas
O Comitê observa que, internamente, a inflação continua acima das metas estabelecidas, com elevação nas expectativas para os próximos anos.
As expectativas de inflação para 2025 e 2026, apuradas pela pesquisa Focus, aumentaram significativamente, e situam-se em 5,50% e 4,20%, respectivamente.
Copom observa mercado de trabalho aquecido
A atividade econômica interna tem mostrado sinais de dinamismo, especialmente no consumo das famílias e na formação bruta de capital fixo.
Embora a política monetária contracionista tenha gerado desafios, o mercado de trabalho continua aquecido, com taxas de desemprego em níveis baixos e aumento dos rendimentos nominais.
Contudo, o ritmo de crescimento real dos salários tem moderado, o que sinaliza um possível reflexo nas pressões inflacionárias.
Desacelerar o crescimento para convergir a inflação à meta
O Comitê acredita que a desaceleração econômica compõe a transmissão da política monetária e necessária para a convergência da inflação à meta.
Dados mais recentes sugerem sinais de moderação do crescimento, especialmente nos setores mais sensíveis ao crédito, como bens duráveis.
No entanto, as dificuldades de sazonalidade e revisões frequentes nas séries de dados exigem cautela na análise de uma desaceleração mais forte.
O mercado de trabalho aquecido ainda dificulta a avaliação precisa sobre o impacto da desaceleração.
Apesar de um mercado de crédito ainda dinâmico, as condições financeiras apertadas e o aumento do prêmio de risco indicam uma inflexão recente nas linhas de crédito mais acessíveis, especialmente para pessoas físicas.
No entanto, o mercado de títulos privados continua a crescer, o que leva a um cenário mais complexo, marcado por um alto comprometimento de renda das famílias com o serviço da dívida, enquanto o mercado de títulos segue aquecido.
Credibilidade fiscal em jogo
O Comitê reforçou a importância de uma política econômica que seja previsível, crível e anticíclica. A postura fiscal e a sustentabilidade da dívida pública têm impacto direto nas expectativas do mercado, com a percepção da política fiscal e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública sobre a taxa de juros neutra da economia.
O Comitê também destacou a necessidade de políticas fiscais e monetárias harmoniosas para evitar um aumento no custo da desinflação.
As expectativas de inflação aumentaram consideravelmente, com a desancoragem observada em todos os horizontes de tempo, resultando em um cenário inflacionário mais adverso. A persistência da desancoragem tem sido vista como um fator de desconforto, pois leva a reajustes de preços e salários acima da meta de inflação, e torna necessária uma postura mais contracionista por parte do Banco Central.
Pressões da inflação em curto prazo
O cenário de inflação de curto prazo permanece desafiador. A alta nos preços dos alimentos, influenciada pela estiagem e pelo ciclo do boi, pressiona os preços, e esse aumento tende a se propagar para o médio prazo devido aos mecanismos inerciais da economia brasileira.
Além disso, o câmbio pressiona os preços dos bens industrializados e a aceleração na inflação de serviços indica que a meta de inflação pode não ser cumprida em breve.
O Comitê afirma continuar a acompanhar o ritmo da atividade econômica, com ênfase na inflação de serviços, no câmbio e nas expectativas de inflação.
A desancoragem das expectativas e os vetores inflacionários, como o hiato do produto e a depreciação cambial, indicam um cenário inflacionário desafiador para os próximos meses.
De volta à conjuntura internacional
O cenário internacional continua a apresentar incertezas, com possíveis impactos da política econômica dos Estados Unidos, como estímulos fiscais, restrições na oferta de trabalho e mudanças na matriz energética.
A volatilidade do câmbio e os fluxos de capital para economias emergentes também exigem maior cautela na condução da política monetária doméstica.
Projeções para 2025 e 2026
No cenário de referência, as projeções de inflação acumulada para 2025 e 2026 são de 5,2% e 4,0%, respectivamente. Espera-se que a política monetária continue ajustada de acordo com a evolução da inflação e a dinâmica da economia.
Desafios no curto e médio prazos
O Comitê considerou que, dado o cenário de incertezas internas e externas, a condução da política monetária deve ser contracionista, com atenção especial ao câmbio e à inflação corrente.
Espera-se que a taxa de juros continue a ser ajustada conforme a evolução da inflação e da economia.
E agora: o que vai ser da Selic?
Após ampla discussão, o Comitê decidiu elevar a taxa básica de juros em 1,00 ponto percentual, para 13,25% ao ano, como parte da estratégia de convergência da inflação para a meta.
Espera-se que o próximo encontro do Copom também envolva um ajuste similar, com a magnitude total do ciclo de aperto monetário dependente da evolução das projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.
Decisão final do COPOM e as perspectivas para o futuro próximo
O Comitê concluiu, assim, que a postura monetária mais contracionista permanece necessária diante da continuidade das pressões inflacionárias.
A decisão de elevar a taxa básica de juros Selic reflete o compromisso do Copom com a convergência da inflação à meta, enquanto tenta suavizar as flutuações da atividade econômica e fomentar o pleno emprego.
A decisão de aumento da taxa de juros foi aprovada pelos membros do Comitê, incluídos Gabriel Muricca Galípolo (presidente), Ailton de Aquino Santos, Diogo Abry Guillen, Gilneu Francisco Astolfi Vivan, Izabela Moreira Correa, Nilton José Schneider David, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.