
A guerra global de tarifas, deflagrada pelo então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode custar ao Brasil cerca de US$ 4,98 bilhões — o equivalente a aproximadamente R$ 30 bilhões, segundo o câmbio de segunda-feira (14).
A projeção foi feita por economistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com base em uma simulação computacional. Acesse o relatório completo da pesquisa aqui.
O levantamento foi conduzido pelo Núcleo de Estudos em Modelagem Econômica e Ambiental Aplicada (Nemea), da UFMG.
Os pesquisadores analisaram os impactos gerais do conflito tarifário sobre a produção nacional, e destacam que os efeitos variam conforme o setor da economia.
Indústria seria a mais afetada, enquanto agropecuária registra ganhos para o Brasil
De acordo com o estudo, a agropecuária brasileira tende a se beneficiar com ganhos estimados em US$ 5,526 bilhões. Por outro lado, a indústria pode amargar perdas de até US$ 8,895 bilhões. O setor de serviços, segundo os pesquisadores, deve registrar um saldo negativo de US$ 1,612 bilhão.
No âmbito das exportações, o país pode perder US$ 1,970 bilhão, número que já considera parte do recuo na produção. Portanto, os valores não devem ser somados diretamente.
Quando analisadas separadamente, as exportações da agropecuária apresentariam alta de US$ 6,642 bilhões. Em contraste, a indústria e os serviços devem perder US$ 6,409 bilhões e US$ 2,203 bilhões, respectivamente.
Por região
Com o impacto positivo na soja (sementes oleaginosas), economistas avaliam ser natural a estimativa de ganhos nos estados do Centro-Oeste e no Rio Grande do Sul.
Os estados do Sudeste teriam as maiores perdas, dado o efeito na produção industrial e entrada de importações.
Em São Paulo, o impacto corresponderia a uma perda de cerca de R$ -4 bilhões, e em Minas Gerais de R$ -1,16 bilhão.
Os ganhos no Centro Oeste praticamente equivalem as perdas estimadas nos estados do Sudeste.
Estudo inclui principais medidas adotadas na guerra comercial
As estimativas consideram os principais movimentos adotados no contexto da guerra tarifária.
Entre eles, a elevação de tarifas dos EUA sobre produtos chineses em até 145%, além de 10% sobre importações de cerca de 180 países.
Também foram incluídas tarifas de 25% sobre automóveis e aço, aplicadas a todas as origens. A retaliação chinesa — com a imposição de tarifas de 125% sobre produtos norte-americanos — também foi levada em conta na simulação.
Impacto global: guerra de tarifas afeta comércio e PIB mundial
Além dos reflexos para o Brasil, os economistas da UFMG também calcularam os impactos mundiais.
- O Produto Interno Bruto (PIB) global pode sofrer queda de 0,25%, resultando em uma perda de cerca de US$ 205 bilhões.
- O comércio internacional, por sua vez, deve recuar 2,38%, o que representa uma redução de US$ 500 bilhões.
Nos Estados Unidos, o PIB pode ter retração de 0,70%, enquanto a China enfrentaria uma redução de 0,60%. No Brasil, a expectativa foi representada por um leve crescimento de 0,01% no PIB, puxado principalmente pela alta em setores agrícolas e pela queda no preço de importações.
Diferença entre produção e PIB se explica por valor agregado
Apesar da previsão de perda de US$ 4,98 bilhões na produção, o PIB brasileiro apresenta leve crescimento.
O economista Edson Paulo Domingues, do Nemea, explica que essa diferença ocorre porque o PIB mede o valor adicionado — ou seja, a riqueza efetivamente gerada — enquanto a produção reflete o volume total de bens e serviços produzidos.
Essa distinção justifica a aparente contradição entre os dois indicadores.