O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto apresentou uma deflação de 0,02%, um desempenho abaixo da mediana de projeções do mercado financeiro, que esperava um aumento de 0,01%.
Mas o resultado também está aquém da projeção da Ativa Investimentos, que estimava uma deflação de 0,06%.
Em comparação com o mês anterior, julho, quando registrou uma taxa de 0,38%, o índice de agosto ficou 0,40 ponto percentual (p.p.) abaixo.
Deflação poderia ser maior, mas tudo bem
De acordo com Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, “vale destacar que, apesar de termos sido surpreendidos com um resultado acima do esperado, a média dos núcleos nos surpreendeu para baixo ao apresentar uma variação de 0,25%”.
Sanchez ressalta que, embora o índice geral tenha sido mais benigno do que o esperado, o desvio se concentrou principalmente na categoria de alimentação no domicílio.
O economista-chefe conclui que, preliminarmente, a projeção para o ano não deve sofrer alterações, e, por isso, permanece em 4,30%.
Para Sanchez, a divulgação favorável do IPCA se soma a vários outros fatores, como o cenário internacional.
Segundo ele, todas as declarações de diretores do Banco Central reafirmaram a dependência dos dados para a tomada de decisão, o que torna a possibilidade de manutenção da Selic bem viva.
Impasse após Focus elevar muito a projeção para os juros
Flávio Conde, analista de investimentos da Levante Investimentos, acredita ser provável que essa desaceleração da inflação coloque em debate a surpresa do Relatório Focus.
Na edição mais recente, o levantamento semanal de expectativas realizado pelo Banco Central (BC) mostrou uma forte alta na taxa básica de juros Selic esperada para dezembro deste ano.
A estimativa avançou para 11,25 por cento (%) contra os 10,50 por cento (%) que foram projetados ao longo das últimas dez semanas.
“A elevação na projeção do Focus, na prática, incorporou um movimento de alta já exibido na curva de juros. Essa projeção significa que, para os investidores, as três reuniões do COPOM deste ano – a de setembro e as dos dias 5 e 6 de novembro e 10 e 11 de dezembro – terão pelo menos uma elevação de 0,25 ponto percentual na Selic”, explica Conde.
Para o analista, essa alteração representaria uma guinada radical na condução da política monetária. No início deste ano, a projeção era de que a Selic estaria em 9,00 por cento em dezembro.
“Porém, a possibilidade de uma queda menos intensa nos juros nos Estados Unidos, a pressão de alta sobre a taxa de câmbio e principalmente a desconfiança dos investidores com o cumprimento das metas de orçamento injetaram uma dose adicional de risco nas contas do mercado”, completou.
Com a palavra, o COPOM
Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, observa que a difusão do índice subiu para 56,0% e a abertura foi considerada benigna, com administrados em queda de 0,12% e livres em alta de 0,02%.
Ele também menciona que, apesar da aceleração em alimentação de 0,40% para 0,54%, e industriais subirem, a desaceleração nos serviços, que passou 0,28%, foi significativa.
Borsoi conclui que os números são muito bons, mas expressa incerteza se vai ser possível consolidar a visão de manutenção da Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que ocorre na quarta-feira da próxima semana.
“Vai ser bem estranho o COPOM subir juros com essa melhora no IPCA. Provavelmente, o IPCA vai fechar abaixo do teto da meta este ano”.