O Boletim Focus, divulgado na manhã desta segunda-feira, 2 de dezembro, trouxe um quadro de piora acentuada nas expectativas econômicas para o Brasil.
De acordo com Flávio Conde, analista de investimentos da Levante Investimentos, o impacto imediato foi atribuído ao anúncio, na última quarta-feira, 27 de novembro, das propostas de ajuste fiscal do governo, que não agradaram os investidores e influenciaram diretamente as projeções de déficit público, inflação e juros para os próximos anos.
A principal medida proposta pelo governo, de elevar a isenção do Imposto de Renda para assalariados que ganham até R$ 5.000 por mês, pode resultar em uma renúncia fiscal estimada em R$ 70 bilhões ao longo de dois anos.
A proposta, no entanto, gerou desconfiança no mercado financeiro, especialmente devido à sugestão de compensar esse déficit fiscal com o aumento da tributação sobre altos rendimentos, como salários, investimentos e outras fontes de renda superior a R$ 50.000 mensais.
Piora nas expectativas: déficit público e projeções de juros e inflação
A análise do Boletim Focus revela que, com base nas expectativas do mercado, o Brasil enfrenta uma piora significativa nas contas públicas e nas perspectivas econômicas.
Conde destaca que, para o ano de 2025, a projeção do déficit primário (que não inclui o impacto dos juros) se manteve estável em 0,70% do Produto Interno Bruto (PIB), mas as estimativas para o déficit nominal, que considera os juros da dívida pública, aumentaram significativamente, para 8,090% do PIB, uma alta em relação à projeção de 7,90% da semana anterior e de 7,20% há quatro semanas.
Essa revisão mostra uma crescente preocupação do mercado com a sustentabilidade fiscal do país.
Com a piora nas contas públicas, as projeções de inflação também foram revistas para cima. Para 2024, a inflação esperada subiu de 4,630% para 4,710%.
O aumento nas projeções reflete o impacto das políticas fiscais, que têm contribuído para a pressão nos preços e em indicadores macroeconômicos.
Em relação a 2025, a projeção de inflação avançou para 4,40%, e supera a estimativa de 4,030% feita quatro semanas atrás e se aproxima do teto da meta inflacionária estabelecida pelo governo.
Além disso, a Selic, taxa básica de juros do Brasil, também deve registrar uma alta.
Para o fechamento de 2024, as estimativas indicam que a taxa Selic permanece em 11,75% ao ano, com uma alta de 0,50 ponto percentual já prevista para a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para os dias 10 e 11 de dezembro.
No entanto, o mercado já demonstrou incertezas em relação a essa expectativa.
Segundo Conde, na sexta-feira, 29 de novembro, as opções de Copom negociadas na B3 indicavam que a probabilidade de um aumento de 0,50 ponto percentual era de apenas 6,25%, enquanto a maior parte dos investidores apostava em uma alta de 0,75 ponto percentual, o que levaria a Selic a 12% ao ano.
Além disso, uma probabilidade significativa de 31,5% também apontava para um aumento ainda maior de 1 ponto percentual.
Aumento nas projeções para 2025: expectativas de Selic elevada por mais tempo
Para 2025, as expectativas do Boletim Focus também pioraram.
A projeção para a Selic em dezembro de 2025 subiu para 12,630%, um aumento de mais de meio ponto percentual em relação à estimativa anterior de 12,25%.
Quatro semanas atrás, a previsão era de uma Selic de 11,50%, o que significa um aumento de 1,130 pontos percentuais em um intervalo de apenas um mês.
Essa revisão para julho de 2025 reflete uma perspectiva de juros mais altos durante o ano, influenciada pela combinação de ajustes fiscais e a incerteza política.
Em resumo, a divulgação das propostas fiscais do governo causou uma piora significativa nas projeções de inflação, juros e déficit público.
De acordo com Flávio Conde, as medidas podem ter efeitos adversos sobre a taxa de câmbio e sobre os preços das ações, dada a incerteza econômica gerada pelos planos do governo.
Espera-se que, se as projeções de déficit fiscal apontadas no Boletim Focus se concretizarem, isso vai ter impacto direto no valor do real e nas expectativas de crescimento econômico para o Brasil nos próximos anos.