Disparada preocupante

Impacto do câmbio mais depreciado pode ser maior em 2024 do que no próximo ano, diz Itaú

Desde março de 2024, o real brasileiro enfrentou uma depreciação significativa, e acumula uma queda de 10 a 15%

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Desde março de 2024, o real brasileiro enfrentou uma depreciação significativa, e acumula uma queda de 10 a 15%.

A moeda nacional saiu de aproximadamente R$ 5,00 por dólar para patamares superiores a R$ 5,50 a partir de julho.

Esse movimento acentuado gerou preocupações sobre a capacidade da inflação de convergir para a meta de 3,00%, diante das expectativas inflacionárias acima da meta, de uma atividade econômica robusta e de um mercado de trabalho apertado.

Em resposta a essas mudanças, o Itaú, em relatório, apresentou um novo núcleo de inflação focado nos bens industriais mais sensíveis às flutuações cambiais.

O estudo utiliza uma metodologia similar à introduzida pelo Banco Central do Brasil (BCB) no Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de dezembro de 2022, que analisou os serviços mais afetados pela inércia e ociosidade.

O que diz o novo núcleo de inflação, entre a metodologia e os objetivos

O novo núcleo visa identificar e avaliar a pressão inflacionária e o repasse da depreciação do câmbio nas divulgações mais recentes do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

A metodologia inclui:

  1. Regressões de inflação: Estima-se a inflação para cada componente da cesta de bens industriais medida pelo IPCA, com variáveis como a inflação do período anterior e medidas de estoque na Indústria divulgadas pela Fundação Getulio Vargas (FGV).
  2. Análise de sensibilidade ao câmbio: Os bens são classificados como sensíveis ao câmbio se os coeficientes de resposta ao câmbio são superiores aos da cesta total de bens industriais.

A partir disso, como a depreciação do câmbio tem pesado no IPCA?

A análise revelou que a depreciação cambial já tem sido refletida nas recentes divulgações do IPCA, apontaram as analistas Julia Gottlieb e Luciana Rabelo.

No IPCA-15 de agosto, o núcleo de bens sensíveis ao câmbio acelerou para 8,4%, em comparação com 4,2% em julho, considerada a média móvel de três meses dessazonalizada e anualizada.

Por outro lado, os preços dos demais bens industriais também aceleraram, de 3,10% para 3,40%.

Esse aumento mais rápido nas categorias sensíveis ao câmbio sugere que a inflação tem sido impactada pela recente depreciação do real.

De acordo com o Itaú, a resposta dos preços tem sido mais ágil do que o padrão histórico, o que pode ser atribuído a um mercado de trabalho mais apertado.

Correlação com as commodities e os efeitos históricos

A correlação entre o novo núcleo e os preços das commodities em reais tem sido significativamente maior do que a observada para a cesta total de bens industriais, apontaram Gottieb e Rabelo.

Além disso, os itens mais sensíveis ao câmbio mostraram uma resposta mais rápida tanto ao choque inicial da pandemia de COVID-19 quanto à subsequente normalização das cadeias produtivas e redução dos preços das commodities.

Historicamente, a correlação das variáveis sensíveis ao câmbio com as commodities em reais, quando defasada em seis meses, tem sido maior (65,0%) do que a contemporânea (58,0%), desde 2006.

No entanto, desde que o desemprego caiu abaixo de 9,0% em agosto de 2022, essa correlação defasada diminuiu para próximo de zero, enquanto a contemporânea permanece acima de 50%.

Inflação pode sofrer pressões adicionais

A depreciação recente do real tem gerado um impacto notável na inflação, particularmente nos bens industriais sensíveis ao câmbio.

Com a aceleração dos preços nesses itens e um mercado de trabalho apertado, a inflação pode enfrentar pressões adicionais, diz o Itaú.

A criação deste núcleo de inflação específico para bens industriais vai permitir um monitoramento mais detalhado dos efeitos cambiais e ajudará na formulação de políticas para mitigar os impactos inflacionários, afirmaram as analistas.