Em geral, atividade desacelera

Serviços e varejo surpreendem, mas indústria mantém retração e cenário geral aponta acomodação, diz economista

Panorama geral demonstra acomodação, influenciado por condições financeiras mais restritivas e demanda ainda enfraquecida

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Risco fiscal influencia na queda da bolsa - Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Risco fiscal influencia na queda da bolsa - Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Os setores de serviços e varejo surpreenderam positivamente, enquanto a indústria mantém sua trajetória de retração em fevereiro, avaliou o economista-sênior do Banco Inter, André Valério. Mesmo com uma melhora marginal, o executivo opina que o panorama geral demonstra acomodação, influenciado por condições financeiras mais restritivas e demanda ainda enfraquecida.

Mesmo com a melhora na margem, vemos um cenário de acomodação na atividade como um todo. Tanto serviços como varejo parecem apenas reverter à média, sem uma mudança na tendência recente, e o qualitativo consistente com uma desaceleração fruto de uma menor demanda e de condições financeiras adversas, avaliou Valério.

Apesar disso, o economista projeta um Produto Interno Bruto (PIB) ainda robusto no primeiro trimestre, impulsionado pela recuperação parcial do varejo e serviços e pelo bom desempenho esperado da agricultura.

Indústria segue em queda e completa cinco meses sem avanço

A indústria brasileira recuou novamente em fevereiro, e completou cinco meses consecutivos sem crescimento. Em comparação com fevereiro de 2024, houve alta de 1,5%, o que sinaliza o nono mês seguido de crescimento nessa base anual. No acumulado de 12 meses, a indústria cresceu 2,6%, mas com tendência de desaceleração, como mostra a média móvel trimestral de -0,10% no período encerrado em fevereiro.

A retração foi disseminada: quatorze das vinte e cinco atividades pesquisadas apresentaram queda, assim como duas das quatro grandes categorias econômicas.

Entre os destaques negativos está a produção de farmacêuticos (-12,30%), que interrompeu dois meses consecutivos de expansão.

Também apresentaram quedas:

  • – a produção de máquinas e equipamentos (-2,70%); e a
  • – de veículos (-0,7%).

Por outro lado, indústrias extrativas (+2,70%) e produtos alimentícios (+1,70%) se destacaram positivamente.

Entre as grandes categorias econômicas, bens de consumo duráveis e bens semi e não duráveis apresentaram quedas de 3,2% e 0,8%, respectivamente. Já os setores de bens de capital e bens intermediários apresentaram avanços de 0,8% cada.

Os dados sugerem que o aperto nas condições financeiras e o aumento da incerteza têm impactado o dinamismo do setor, com atividades mais dependentes de investimento e da demanda indicando maiores dificuldades nos últimos meses, analisou Valério.

Serviços superam expectativas, mas mostram sinais de acomodação

O setor de serviços registrou crescimento de 0,8% em fevereiro, acima das projeções de mercado. Em relação a fevereiro de 2024, houve alta de 4,2%, a 11ª consecutiva nessa comparação. Ainda assim, o ritmo de crescimento mostra estabilidade, com alta acumulada de 2,8% em 12 meses.

O crescimento foi disseminado em quatro das cinco atividades analisadas.

Os maiores avanços vieram dos serviços de informação e comunicação (+1,8%) e dos serviços profissionais (+1,10%).

O único recuo foi registrado no setor de transportes (-0,10%). Segundo Valério, o forte resultado foi amplamente influenciado por fatores de oferta deprimidos nos últimos meses, o que aponta para uma reversão à média e não necessariamente para uma mudança estrutural de tendência.

Serviços prestados às famílias subiram 0,5%, e recuperaram apenas parte da queda de 3,30% de janeiro. O transporte de passageiros continuou pressionado, enquanto atividades turísticas subiram 2,90%, sem, contudo, compensar a retração de 6,10% observada no mês anterior.

Varejo cresce acima do previsto, mas consumo sinaliza moderação

O volume de vendas no comércio varejista avançou 1,50% em fevereiro na comparação com o mesmo período de 2024, e acumula vinte e um meses seguidos de crescimento. No entanto, a tendência aponta desaceleração: a alta acumulada em 12 meses caiu de 4,70% em janeiro para 3,6% em fevereiro.

A média móvel trimestral variou positivamente em 0,2%.

O resultado foi puxado por altas em supermercados (+1,10%) e em móveis e eletrodomésticos (+0,90%). Supermercados interromperam três meses consecutivos de queda. Entre os setores com desempenho negativo, destacam-se livros e papelaria (-7,8%) e materiais para escritório (-4,2%).

Já o varejo ampliado, que inclui vendas de veículos e material de construção, caiu 0,4%. As vendas de veículos e peças recuaram 2,6% e registraram a terceira queda nos últimos quatro meses, acumulando retração de 3,4% no período.

Mesmo com avanço no consumo essencial, como nos supermercados, o consumo discricionário segue fraco. As vendas sensíveis ao crédito recuaram 1,30% no mês, e acumulam perdas de 2,2% em quatro meses. Segundo Valério, a tendência de desaceleração causada pelas piores condições financeiras se mantém, corrobora o cenário de acomodação do crescimento da economia.