O Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central (BC) se reúne nesta quarta-feira, 19 de março, e deve elevar a taxa básica de juros Selic em 1,00 p.p., de 13,25% para 14,25% ao ano (a.a.).
Caso confirmado, esse seria o maior patamar da taxa desde agosto de 2006, ainda durante o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando os juros estavam em 14,75% ao ano.
Este também vai ser o quinto aumento consecutivo da taxa básica de juros Selic, referencial para os juros cobrados no País.
Inflação persiste e economia superaquecida devem motivar elevação dos juros
A preocupação do Banco Central (BC) diz respeito a inflação em um cenário de economia superaquecida. Para conter a alta dos preços, o COPOM adota a estratégia de aumentar os juros, reduz a demanda por crédito e freia a atividade econômica.
Em fevereiro, a inflação oficial foi de 1,31% – o maior índice para o mês desde 2003 e o mais elevado desde março de 2022, quando atingiu 1,62%.
No acumulado de doze meses, a inflação chegou a 5,06%, o patamar mais alto desde setembro de 2023.
O Banco Central (BC) trabalha com um sistema de metas para definir os juros. Se as projeções indicam inflação dentro da meta, os juros podem ser reduzidos. Se apontam para um estouro da meta, dirigentes tendem a fazer a manutenção ou a elevar a Selic. Desde o início de 2025, a meta contínua de inflação foi definido em 3,00%, com intervalo de tolerância de 1,50 p.p., entre 1,50% e 4,50%.
Nos Estados Unidos (EUA), o Federal Reserve (FED), equivalente ao Banco Central norte-americano, deve anunciar sua decisão sobre os juros neste mesmo dia. O mercado financeiro prevê que a faixa se mantenha entre 4,25% e 4,50% ao ano. Os investidores monitoram os impactos das tarifas comerciais impostas pelo presidente Donald Trump sobre a inflação e a atividade econômica do País.
Segunda reunião do COPOM com Gabriel Galípolo à frente
Essa vai ser a segunda reunião do COPOM presidida por Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e empossado em janeiro. Também vai ser o segundo encontro no qual os diretores nomeados pelo atual governo são maioria no colegiado.
Desde que o Banco Central conquistou autonomia operacional, em 2021, os diretores passaram a ter mandatos fixos. Até o fim do ano passado, a diretoria da instituição era majoritariamente composta por indicações do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Por que a Selic importa tanto para a economia do País?
As decisões sobre juros têm impacto no futuro, pois os efeitos das mudanças na Selic costumam levar de seis a dezoito meses para refletir plenamente na economia. Atualmente, o Banco Central (BC) projeta suas ações em consideração ao segundo semestre de 2026.
Para os próximos anos, as projeções do mercado indicam inflação de 5,68% em 2025 (acima da meta), 4,40% em 2026, 4,00% em 2027 e 3,75% em 2028, de acordo com a última edição do Boletim Focus divulgada na segunda-feira, 17 de março.
Entre os fatores que pressionam a inflação, o Banco Central (BC) destaca:
- Nível elevado de atividade econômica;
- Mercado de trabalho aquecido;
- Aumento dos gastos públicos;
- Pressões do cenário internacional sobre o dólar.
Para Alison Correia, analista de investimentos e sócio-fundador da Dom Investimentos, o mercado já precificou a alta da Selic, mas a grande expectativa diz respeito ao comunicado a ser divulgado pelo Banco Central (BC).
“Temos uma semana com decisões bem importantes quanto aos juros tanto no Brasil como no cenário externo. Por aqui, os investidores estão atentos não somente em relação à decisão de alta da Selic em 1%, amplamente esperada e deve causar zero surpresa, mas sim, principalmente, em relação ao comunicado divulgado na sequência para se entender melhor os possíveis passos da política monetária nos próximos meses“.
Correia observa que a inflação está menos pior, pelo menos devido aos últimos dados que saíram: “Por enquanto, a gente continua com a mesma expectativa de alta para a taxa de juros aqui e que a ponta final seja em dezembro na casa dos 15%. Então, por enquanto, está longe de cogitação a gente poder ter cortes neste ano“.
Gustavo Sung, economista-chefe de Suno Research, para a reunião de maio, considera mais prudente manter o cenário em aberto, o que permitiria uma avaliação mais precisa da evolução do cenário doméstico e internacional e ajusta a política monetária conforme necessário.
Em janeiro, BC afirmou haver necessidade de desaceleração econômica
Na ata da reunião de janeiro, o COPOM observou que o “ hiato do produto” ficou positivo nos trimestres recentes, o que indica que a economia operou acima do seu potencial sem pressionar a inflação.
O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, afirmou recentemente que a desaceleração da economia, perceptível nos dados do Produto Interno Bruto (PIB) de 2024, seria essencial para reduzir a inflação e trazê-la para dentro das metas estabelecidas.
“ Temos que desacelerar um pouco a economia. O PIB veio um pouco mais fraco do que o esperado [no quarto trimestre de 2024]. Vemos sinais de moderação [da atividade econômica]“, declarou Guillen no início de março.
A estratégia de elevação dos juros, contudo, tem sido alvo de críticas dentro do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
No fim do mês passado, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho (PT-SP), classificou a medida como uma “imbecilidade“, e argumentou que conter o crescimento econômico para frear a inflação prejudica o desenvolvimento do País.
No setor produtivo, a FecomercioSP estima que o Comitê vai elevar os juros na magnitude de 1,00 p.p. pela última vez no ano, “na medida em que os efeitos do início dos aumentos da Selic começarão a ser mais perceptíveis”.
Impactos para a economia do Brasil
A alta dos juros pode ter diversas consequências econômicas, entre elas:
▶️ Aumento dos juros bancários: a elevação da Selic tende a encarecer os empréstimos e financiamentos. Em janeiro, a taxa média de juros bancários para pessoas físicas e empresas atingiu 42,30%, o maior nível em dezesseis meses.
▶️ Desaceleração do crescimento econômico: juros mais altos impactam negativamente o consumo e os investimentos, afetam o PIB, o emprego e a renda. O PIB do último trimestre de 2024 indicou retração.
“A pressão da inflação e aumento dos juros básicos da economia devem impactar principalmente as classes baixas, culmina em maior inadimplência no segmento de crédito, em geral, mais endividado”, afirma o CEO da Omni&Co, Heverton Peixoto.
“O aumento da inadimplência atinge mais o crédito livre/pessoal nas classes C,D e E, e menos no financiamento imobiliário, consignado, crédito corporativo e estratos AB.”, analisa o executivo, que completa: “Crédito mais caro e inadimplência são um círculo vicioso que se retroalimenta”.
▶️ Aumento do endividamento público: com juros mais elevados, as despesas com serviço da dívida pública crescem. Em 2024, os gastos com juros somaram R$ 950 bilhões (8% do PIB).
▶️ Efeito nos investimentos: a renda fixa torna-se mais atrativa, favorece aplicações no Tesouro Direto e debêntures, enquanto o mercado acionário pode perder competitividade.
“A elevação da taxa Selic no Brasil, combinada com a manutenção ou redução das taxas de juros pelo FED, tende a aumentar o diferencial de juros entre os dois países. Esse cenário torna os investimentos em títulos brasileiros mais atrativos para investidores estrangeiros, devido ao potencial de retornos mais elevados. A entrada de capital estrangeiro tende fortalecer o real em relação ao dólar. Contudo, a sustentabilidade de uma queda consistente do dólar não depende apenas desse diferencial de juros, já que fatores externos, como políticas comerciais protecionistas adotadas pelos Estados Unidos, podem impactar negativamente as exportações brasileiras. Além disso, a percepção de risco associada à economia brasileira, influenciada por questões políticas e fiscais internas, também desempenha um papel significativo na determinação da taxa de câmbio“, afirma Sidney Lima, Analista CNPI da Ouro Preto Investimentos.