No Brasil, 7 a cada 10 estudantes não sabem resolver questões simples de matemática. Além disso, menos da metade dos alunos de 15 anos conseguiu atingir um nível mínimo de aprendizado em matemática e ciências, segundo a pesquisa do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa).
Os dados foram divulgados em dezembro pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e são referentes ao ano de 2022. Ainda conforme o estudo, o País ocupa os últimos lugares no ranking mundial de educação.
Em meio aos desafios da educação brasileira, o governo federal discute o Novo Ensino Médio (NEM), programa que apresentou novas regras aplicadas já em 2022, mas pode ser substituído por outro modelo. Agora, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pleiteia a aprovação do Projeto de Lei (PL) 5.230/2023, apresentado em outubro passado, e que visa redefinir a Política Nacional de Ensino Médio no Brasil.
O texto, em análise na Câmara dos Deputados, modifica diversas regras relativas à carga horária, disciplinas obrigatórias e formação de professores. Além disso, o projeto altera os chamados “itinerários formativos”, que permitem ao estudante completar a grade curricular com áreas do conhecimento de seu interesse.
A discussão sobre as mudanças, já iniciada no Congresso Nacional, deve continuar em 2024, informou a Agência Senado.
Além de um projeto apresentado pelo Executivo (PL 5.230/2023), o ano também foi marcado por debates na Subcomissão Temporária para Debater e Avaliar o Ensino Médio no Brasil (Ceensino), que apresentou um relatório com recomendações de ajustes na lei.
O que deve mudar no Ensino Médio?
Em meio às sugestões apresentadas, alguns temas preocupam especialistas do setor. Quando os debates ocorreram no ano passado, uma das críticas era em relação à desigualdade, que poderia ser aprofundada a depender das mudanças.
Para substituir os itinerários formativos, o novo texto define que o currículo do ensino médio deve ser composto por uma formação geral básica e por percursos de aprofundamento e integração de estudos, que vão combinar, no mínimo, três áreas do conhecimento, conforme a relevância para o contexto local e a possibilidade dos sistemas de ensino.
Outra proposta é a ampliação da carga horária dedicada à formação geral, das 1.800 horas atualmente previstas para 2.200 horas. De acordo com a relatora do projeto, a senadora Professora Dorinha Seabra (União Brasil-TO), a carga atual é insuficiente para dar conta de disciplinas como português, matemática, história e biologia.
Porém, se levada em conta somente a carga horária e não a infraestrutura das escolas públicas no Brasil, a distância entre a educação e os jovens brasileiros pode ganhar uma distância ainda maior.
Neste sentido, em uma revisão do projeto, a relatora trouxe ao debate novos pontos como a infraestrutura, a formação de professores e mecanismos para superar desigualdades.
Educação financeira
Se o debate sobre educação básica já é um ponto de atenção no País, quando se fala em educação financeira, a situação é ainda mais preocupante.
Em meio à falta de acesso, os jovens saem da escola sem saber como gerenciar seu próprio dinheiro.
Para Gabriela Torquato, head do Instituto XP, as barreiras de desigualdade social e até mesmo preconceito dificultam muito o processo de aprendizado dos jovens brasileiros.
A especialista cita também preconceitos em relação ao aprendizado de matemática.
“A matemática tem sempre um tabu sobre aprender algo que depois não vai ser usado, mas a matemática tem uma aplicação que é muito básica e clara, que todos nós precisamos: as contas básicas ajudam desde gerir as próprias finanças até uma tomada de decisão de compra, além da questão de raciocínio lógico e crítico”, explica.
Ainda de acordo com ela, essas são competências fundamentais para a vida de um indivíduo.
Apesar de diferentes, a matemática e a educação financeira andam juntas. “Apesar de não se resumir à matemática, esse conjunto é fundamental para construir essa cidadania financeira”, aponta.
Além disso, ela cita que é necessário traduzir a linguagem da matemática para o dia-a-dia. Isso porque o assunto já está presente na vida de todos os brasileiros, mas mitos em relação às ciências exatas afastam as pessoas do aprendizado.
Outro ponto que preocupa é o preparo técnico. “Olhando para os dados de educação, não estamos conseguindo ensinar o básico nas escolas. É preciso também ensinar professores e as famílias. A parte de capacitação é muito importante”, ressalta.
O Instituto XP, através de programas e parcerias em escolas, além de conteúdos online, já chegou a doze milhões de pessoas. A meta da organização é alcançar 50 milhões de brasileiros em dez anos.
Torquato ressaltou que, para atingir um público ainda maior, a instituição recorre a meios populares, como influenciadores digitais com alto nível de engajamento nas redes sociais.
Com o Instituto Kondzilla, voltado a levar cursos de diversas áreas para regiões periféricas, a instituição lançou a série “Vai pagar pra ver?”. Exibidos no YouTube, os vídeos mostram MCs falando sobre a relação com dinheiro.