Na última quarta-feira (20), o Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central (BC) reduziu a taxa básica de juros Selic pela sexta vez consecutiva, em 0,50 p.p., a 10,75% ao ano (a.a.).
“Em função da elevação da incerteza e da consequente necessidade de maior flexibilidade na condução da política monetária, os membros do Comitê, unanimemente, optaram por comunicar que anteveem, em se confirmado o cenário esperado, redução de mesma magnitude na próxima reunião”.
O fato de o colegiado não ter optado pelo plural em seu comunicado subsequente à decisão causou ruídos. A linguagem sinaliza que, a partir de junho, a autoridade monetária pode reduzir a magnitude dos cortes, de 0,50 p.p. para 0,25 p.p., e agora uma Selic abaixo dos dois dígitos até o fim do ano pode ser uma dúvida.
“Isso significa duas coisas importantes para os seus investimentos: todos os seus investimentos em renda fixa pós-fixada rendem cada vez menos, distantes dos tão queridos 1% ao mês. Com a Selic em 10,75%, temos um retorno mensal líquido de apenas 0,73%. Um dado de inflação mensal alto, como foi o de fevereiro, “comeria” o seu retorno líquido, e ficamos com um espaço cada vez menor para ganhos em renda fixa com marcação a mercado”, declarou Marília Fontes, analista da Nord Research.
Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú BBA, apontou que o colegiado optou, “com razão, optou por encurtar a sua prescrição futura em meio a mais incertezas”.
“O Copom afirmou ainda que seu cenário não mudou substancialmente e manteve sua projeção de inflação para 2025 (principal ponto do horizonte relevante) em 3,2%. Isso sugere, pelo menos no momento, uma taxa terminal inalterada. Por enquanto, vemos a taxa Selic em 9,25% ao ano até o final de 2024”, concluiu Mesquita.
Para o BTG Pactual, o novo forward guidance pode puxar a mediana da taxa básica de juros no ano no Boletim Focus (hoje em 9,00%).
“A surpresa da alteração, além do singular, foi a unanimidade desta comunicação, dado que era pública a divergência entre alguns diretores entre a preocupação com a inflação de serviços e a assertividade do forward guidance para o controle da volatilidade na curva de juros”, assinalou Álvaro Frasson, em relatório.
“Entendemos que o Copom agiu de forma assertiva em razão dos dados de atividade mais resilientes, da menor qualidade na composição da inflação e do cenário externo que, ao postergar o início do ciclo de corte de juros, demanda, por parte dos Banco Centrais emergentes maior cautela – ou liberdade”, completou.
O BTG Pactual acredita em uma redução do pace em junho, para 0,25 p.p., com a manutenção deste ritmo até a reunião de setembro, com o ciclo encerrado em 9,5%.
“O comunicado manteve de fora do balanço de riscos a discussão fiscal. No entanto, o Copom ainda ressalta a importância da execução da meta – já estabelecida – na ancoragem das expectativas”, sinalizou André Valério, do Inter Invest.
Para José Márcio Camargo e analistas de Genial Investimentos, o comunicado veio mais duro do que o esperado pelo mercado, mas o atual plano de voo ainda pode ser executado.
“Acreditamos que a decisão aponta para uma taxa de juros ao final do ciclo mais alta do que a projetada pelo consenso de mercado (9,00% a.a.). Entretanto, esta estratégia segue consistente com projeções de cortes da Selic em 0,50 p.p. nas duas próximas reuniões e um corte final de 0,25 p.p. na reunião de julho, ao patamar terminal de 9,5% a.a.”, declarou a plataforma.
Sérgio Goldestein, economista-chefe de Warren Investimentos julga como improvável a discussão sobre o encerramento do ciclo com Selic em dois dígitos e mantém a aposta em 9,00%.
Mas pondera: “as projeções de inflação no cenário de referência para 2024 e 2025 permaneceram em 3,5% e 3,2%, respectivamente, o que reforça que há ainda um bom caminho a ser percorrido em termos de flexibilização monetária”.
Por sua vez, a XP Investimentos destaca a mudança de percepção do colegiado em relação ao comportamento da inflação subjacente, agora “acima da meta”, diferente da linguagem adotada no comunicado de janeiro, quando “se aproximava da meta”.