Economia

Selic a 11,75%: onde investir em renda fixa e em renda variável?

Mesmo com o ciclo de cortes, os juros ainda seguem em patamares altos e isso ajuda a renda fixa a se manter um investimento atrativo

- Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
- Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Para Caio Canez de Castro, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital, mesmo com a taxa básica de juros Selic em queda, os juros ainda seguem em patamares altos e isso ajuda a renda fixa a se manter um investimento atrativo.

“Além disso, a renda fixa possui um acréscimo que são os prêmios de risco e estes seguem em patamares altos”, comenta Castro, que acrescenta que o movimento atrai recursos dos investidores.

Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação para investidores, concorda que a renda fixa deve continuar atrativa ainda que haja cortes.

“Ainda mais em um cenário de juros altos nos EUA, a renda fixa global tende a seguir atrativa há algum tempo. Sem falar que qualquer taxa maior que 10% ao ano não seria de se jogar fora”, diz.

Segundo Jorge, para o investidor pessoa física (PF), Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) e Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) ou mesmo debêntures incentivadas são as melhores escolhas.

Ele recomenda escolher bem o emissor “e não extrapolar o limite do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) porque são produtos isentos e de baixo risco”. Os produtos, geralmente, pagam mais que outros investimentos como os Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) e títulos públicos, diz Jorge. “Por isso vejo mais vantagens”, explica.

Ele lembra que em vários casos o dinheiro fica preso até o final, logo, seria preciso investir o que não vai precisar de liquidez. Já para recursos com liquidez imediata, os CDBs, de acordo com ele, são as melhores opções.

“Ainda acredito também nos prefixados de três anos aproximadamente. Os ativos ligados à inflação também são boas opções para quem quer se proteger”, afirmou. Ele declara ser importante que o investidor tenha uma carteira bem diversificada e se atente bem para os prazos e liquidez.

Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, acredita que mesmo uma Selic em 7,00%, por exemplo, ainda assim vai valer a pena se a inflação em queda simultaneamente.

Nesse cenário, a Bolsa tem subido e os fundos de investimento imobiliário (FIIs) também. “E aí o investidor precisa começar a diversificar”, sinaliza Cohen.

“Já está na hora de começar a olhar bolsa há muito tempo, mas fundos imobiliários também”, indica.

Cohen também prefere os ativos ligados ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em vez de ativos pós-fixados ou prefixados.  

“Os ativos prefixados, na minha visão, só valem quando a Selic está muito alta e a gente não tem expectativa de novas altas. O pós-fixado pode ser uma boa alternativa, mas o investimento pode sofrer com a inflação, caso venha a subir”, complementa.

Para Ana Paula Carvalho, planejadora financeira e sócia da AVG Capital, outros investimentos que voltarão a ficar atrativos para o investidor com o processo de queda da Selic são as debêntures, os CRIs e CRAs.

Carvalho crê que as perspectivas para os ativos mencionados passa a ser positiva “se comparado ao que tivemos neste ano, principalmente quando voltamos o início dele em que tivemos a desagradável surpresa com o caso da Americanas (AMER3)”.

Naquele momento, o mercado de crédito se retraiu e uma crise de confiança foi estabelecida. Passado esse momento, ela explica que as emissões de dívidas voltaram a ser retomadas e a continuação da queda da taxa Selic pode encorajar as empresas a tomarem dívida no mercado de capitais brasileiro.

Sobre crédito privado, Carvalho acredita que um dos principais pontos a serem observados seria a qualidade da empresa e sua capacidade para tomar dívida.

Ela relembra a importância de alocar em papéis com diferentes indexadores, e diversificar entre juros reais (juros + IPCA), prefixados e pós-fixados e prazos, de acordo com a necessidade de liquidez e apetite para risco.

Carvalho ressalta que um título prefixado pode até oferecer taxas atrativas, mas a depender do prazo pode ser arriscado dadas as incertezas no comportamento de inflação e juros ao longo do tempo.    

Com o ciclo de queda de juros em continuidade no próximo ano, Kaique Fonseca, economista e sócio da A7 Capital, não vê muita atratividade em fundos majoritariamente de títulos públicos pós-fixados, que devem ficar para trás.

“Na minha visão, foram os grandes vencedores nos últimos dois anos com os juros altos”, mas vão render cada vez menos se olharmos para a frente, pontua Fonseca.

Sobre renda fixa, Fonseca acredita em ativos de crédito prefixados com vencimentos entre três e cinco anos.

Ele diz ser preciso entender o risco da empresa emissora do crédito para não contratar uma excelente taxa e não obter o rendimento devido à falência ou pedido de RJ da companhia.

Outra opção, sempre vencedora no longo prazo, são os títulos indexados à inflação, em que ainda pode se obter bons rendimentos reais e que protegem o investidor do maior vilão da economia, inflação.

“Em termos de rentabilidade na curva pode não ser o melhor ativo, mas na marcação a mercado o investidor deve se beneficiar sim”, acrescenta Fonseca.

Em relação aos próximos meses, Ricardo Aragon, sócio-fundador da Matriz Capital, enxerga a gestão fiscal como fator importantíssimo para que o Banco Central (BC) possa seguir com a agenda de corte de juros, e fomentar cada vez mais a economia real.

“Em caso de maior endividamento, o dólar tende a migrar para um país emergente mais seguro, resulta numa apreciação maior da moeda estrangeira perante o nosso real, por isso a importância desse tema”, comenta.  

Para Aragon, caso a inflação volte a se apreciar devido a uma política expansionista sem muitos parâmetros fiscais, podemos contemplar um dólar tranquilamente acima de R$ 5,50 no final do ano.

Além disso, “o mercado vai ficar atento na política fiscal, se a Reforma Tributária começar realmente a afetar positivamente a economia, principalmente no que diz respeito a eficiência do setor de consumo e se o arcabouço fiscal vai ser realmente suficiente para reduzir os recorrentes déficits do governo”, finaliza.