Cenário agravado

Trump ataca Fed e abala mercado com aceno para demissão de Jerome Powell

Fuga de ações, venda de títulos do Tesouro americano e valorização de ativos europeus e asiáticos são ancorados por posição do presidente norte-americano

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Donald Trump avalia tarifa de 10% sobre a UE
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O presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, voltou a incendiar os mercados financeiros com críticas inflamadas ao presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, a quem chamou de “Sr. Tarde Demais, um grande perdedor”, por considerar que o líder na autarquia não agiu com rapidez suficiente para reduzir os juros americanos.

O ataque, publicado em sua plataforma Truth Social, agravou o já instável cenário econômico global, provocando uma onda de vendas nos mercados americanos e uma fuga de capitais considerada histórica por analistas de Wall Street.

Rumores de demissão aumentam tensão institucional

A tensão aumentou com rumores de que Trump poderia tentar demitir Powell, embora especialistas e juristas apontem que o presidente não tem autoridade direta para isso.

“Francamente, demitir Powell beira o inacreditável”, afirmou Christopher Wong, estrategista do Oversea-Chinese Banking Corp.

“Isso corroeria a credibilidade do Fed e colocaria em xeque a confiança no dólar”, completou.

Powell, por sua vez, afirmou que o banco central precisa observar com cautela os efeitos inflacionários do tarifaço antes de considerar qualquer mudança na política de juros.

Mercados despencam e investidores fogem do dólar

A reação foi imediata. Os principais índices de ações dos EUA despencaram — S&P 500 caiu 2,36%, Nasdaq recuou 2,55% e o Dow Jones perdeu 2,48%.

O dólar também sentiu o baque: o DXY, indicador que mede a força da moeda americana frente às principais divisas globais, teve queda de 1%, atingindo o menor patamar desde 2022.

O euro, por sua vez, alcançou o nível mais alto frente ao dólar em mais de três anos.

Investidores buscaram refúgio no ouro, que saltou 3,16% e renovou recorde histórico a US$ 3.435 por onça troy.

“Vender América”: a nova tendência de Wall Street

O clima é de “vender América”, como já definem estrategistas de Wall Street.

A ausência de novos acordos comerciais, aliada ao tarifaço de Trump em curso e à percepção de que a independência do Fed está sob ameaça, provocaram uma reação em cadeia: fuga de ações, venda de títulos do Tesouro americano e valorização de ativos europeus e asiáticos.

A própria estrutura de poder econômico global parece estar em transição, com analistas do Goldman Sachs alertando para um possível enfraquecimento do dólar como moeda de reserva global.

Gestores reduzem exposição aos EUA

A situação é agravada por dados de mercado: 73% dos gestores entrevistados em pesquisa global do Bank of America disseram pretender reduzir sua exposição a ações dos EUA, número recorde desde o início da série histórica em 2001.

“O estrago está feito”, resume Arun Sai, estrategista da Pictet Asset Management. “Não há como colocar o gênio de volta na lâmpada.”