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Autônomos, jovens e com consciência financeira: conheça o perfil de quem solicita crédito no Brasil

35% dos brasileiros utilizam empréstimos para quitar despesas fixas, como o consumo de luz, água e telefonia, de acordo com pesquisa realizada pela fintech Jeitto

- Marcello Casal Jr/Agência Brasil
- Marcello Casal Jr/Agência Brasil

De acordo com o Banco Central (BC), os empréstimos concedidos para as famílias brasileiras cresceram 22,6% de janeiro a novembro de 2021. Somente no penúltimo mês do ano passado, foram disponibilizados R$ 234,9 bilhões em créditos para pessoas físicas — um crescimento de 20,6% ante o mesmo período de 2020. 

35% dos brasileiros destinam esse montante extra ao pagamento de despesas fixas, como o consumo de luz, água e telefonia, segundo uma pesquisa realizada pela fintech Jeitto em dezembro com 800 entrevistados. 

“Essas pessoas que quitam despesas fixas têm picos e vales de receita ao longo do ano e usam o limite de crédito para cobrir esta inconstância. São, em sua maioria, autônomos ou tiveram algum imprevisto financeiro ao longo dos meses”, diz Carlos Barros, fundador do Jeitto.

Mais da metade dos perfis cadastrados como clientes da fintech são pessoas com idade entre 25 e 44 anos. “Percebemos que a grande concentração de pessoas que necessitam de crédito para conseguir manter as contas em dia está entre o início da vida adulta e busca estabilidade”, afirma o executivo.

Ele conta que a fintech lida com muitas pessoas que não conseguem acesso ao crédito na primeira tentativa, mas que a Jetto incentiva a usar a conta digital “para que com o tempo possam ser reavaliados todos os cadastrados, a fim de conseguir aprová-los e estabelecer uma relação de confiança mútua”.

“Enxergamos que o crédito de baixo valor e curto prazo como a principal porta de entrada para muitas pessoas que nunca tiveram uma experiência com crédito ou para outras pessoas que tiveram uma experiência negativa ou dolorosa, procuramos ser simples por fora e mais sofisticados por dentro”, diz. 

Preocupação com o uso consciente de crédito

Segundo o levantamento, 41% dos entrevistados afirmam ter o ensino fundamental completo, enquanto apenas 12% completaram o ensino superior. O executivo afirma que, nesse sentido, a empresa busca “educar o uso do crédito de uma forma positiva, saudável e justa”, sobretudo a quem precisa contratá-lo pela primeira vez e lidar com a necessidade de aprender a se planejar. 

O documento também mostra que 46% afirmam realizar um planejamento mensal de gastos e, mesmo com a renda reduzida, 33% relatam que guardam dinheiro todo mês, mesmo que seja pouco.

“Para conseguir manter as contas em dia, tem sido necessário fazer mudanças na rotina para economizar ao máximo, mas em alguns casos recorrer ao crédito é a solução”, ressalta Barros.

“Isso deixa claro o quanto a educação financeira é necessária e nós estamos aqui não só para gerar oportunidade, como também mostrar que é preciso agir de forma consciente”, conclui.

Crédito extra: cartões não são transparentes o suficiente

A pesquisa mostra que 73% dos cadastrados junto à fintech já possuem cartão de crédito, mas precisam utilizar os serviços da plataforma todo mês. 

Questionado sobre o que a fintech procura fazer para que os cadastrados façam um uso consciente desse empréstimo e passem a se planejar financeiramente, Barros foi categórico: “Consideramos que nosso cliente entende que o cartão de crédito não traz uma boa experiência e a transparência necessária”.

Ele acredita que esse uso extra se relaciona às vantagens que a plataforma oferece. “Não cobramos nenhuma mensalidade, não oferecemos crédito rotativo que eleva muito o risco de superendividamento e o limite de crédito fica sempre de acordo com a capacidade de pagamento”, pontua.

Sudeste e Nordeste respondem por 80% dos beneficiados

A divisão por região realizada pela pesquisa apura que apenas 11% dos solicitantes de crédito são da região Norte, enquanto as regiões Sudeste e Nordeste representam, juntas, 80% (55% e 25%, respectivamente) do número de usuários da plataforma.

 “Acreditamos que esse número reflete mesmo a densidade demográfica do Brasil e não uma dificuldade de infraestrutura ou outros serviços”, pontua Barros.

Selic a 9,25% liga o alerta no consumidor

Barros vê com preocupação o intenso ciclo de alta da taxa básica de juros Selic iniciado em março de 2021, atualmente a 9,25% ao ano.

“A subida dos juros encarece toda a indústria de crédito, infelizmente, mas procuramos melhorar nossos modelos para oferecer o acesso sem garantia a serviços financeiros com maior transparência e melhor custo benefício”, diz.

“Entretanto, antes de fazer essa opção pelo crédito, vai ser necessário se informar a respeito do momento adequado e levar em consideração tudo o que diz respeito às taxas de juros, encargos e prazo de quitação. Caso contrário, ao invés de ser uma solução, a tomada de crédito pode se tornar um problema”, ressalta Barros.

Futuro do mercado

A pesquisa da empresa apurou, por fim, que 55% dos usuários da plataforma consultados têm renda fixa mensal entre R$ 1.300,00 e R$ 2.300,00. Barros afirma que “ainda existe muito espaço” para crescer com esse segmento de classes C e D e pessoas com renda de dois a três salários-mínimos, mas vê que a base de clientes pode crescer.

“Começamos a ver muita aderência ao nosso aplicativo de uma faixa de renda mais acima, ao redor de R$ 4.000,00. Pode ser que futuramente essas pessoas passem a compor nossa base”, diz.